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08/12/2025

Com juro alto, poupança tem 5º mês com mais saques; veja quanto rende – Folha de São Paulo

Simulações apontam diferença de ganho nos últimos anos e fazem estimativa para os próximos 48 meses; tradição e simplicidade mantêm investimento entre os favoritos

Com juros altos e maior rentabilidade em opções de renda fixa, a poupança registrou o quinto mês seguido com mais saques do que depósitos, segundo dados do Banco Central. O país teve R$ 2,86 bilhões a mais de retiradas na comparação com os depósitos. No acumulado do ano, a poupança registra retirada líquida de R$ 90,98 bilhões.

Estudo da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) aponta que a caderneta ainda é o destino preferido dos brasileiros para guardar dinheiro, mesmo rendendo menos do que outras aplicações conservadoras.

Cálculos feitos pelo planejador financeiro Carlos Castro, da Planejar, mostram quanto o investidor teria ganhado se tivesse aplicado R$ 1.000 na caderneta e em produtos como CDB, LCI, LCA e Tesouro Direto.

As simulações consideram a rentabilidade líquida ( já descontadas taxas de administração e custódia, IOF e Imposto de Renda), se houver, e usam projeções do Boletim Focus para estimar o comportamento futuro de juros e inflação. O especialista projetou quanto a poupança pode render nos próximos quatro anos.

A 8ª edição do Raio-x do Investidor Brasileiro da Anbima aponta que 32 milhões de poupadores aplicavam exclusivamente na caderneta. O saldo, porém, não é o maior. O levantamento indica que o saldo da poupança cresceu até 2020, quando teve um salto, mas voltou a cair nos anos seguintes, com leve recuperação em 2024 e nova retração em 2025.

De acordo com Luciane Effting, presidente do Fórum de Distribuição da Anbima, o pico de 2020 e 2021 foi impulsionado pelo pagamento do auxílio emergencial e pela redução de gastos durante a pandemia. A especialista diz que, com a reabertura, o aumento do endividamento das famílias e a Selic em alta, muitos investidores sacaram suas economias para pagar dívidas. A especialista afirma que a consolidação das plataformas digitais também favoreceu a migração para produtos de renda fixa mais rentáveis, como CDBS e LCIS.

Entre os fatores que explicam a popularidade da aplicação, Luciane destaca que, além de ser usada para o pagamento de auxílios do governo, por meio da poupança digital movimentada no Caixa Tem, muitos brasileiros ainda veem outros produtos financeiros como complexos ou restritos a quem tem mais dinheiro.

“A poupança é simples, faz parte do imaginário do brasileiro e não exige conhecimento técnico para começar a usar. É a porta de entrada de muitos no mundo dos investimentos. Mas à medida em que aumenta a educação financeira, é natural que os investidores passem a diversificar mais suas aplicações”, diz.

Carlos Castro, da Planejar, considera que a caderneta funciona mais como uma conta remunerada do que propriamente como um investimento. Segundo ele, a ampla divulgação do produto ocorreu durante o período de hiperinflação, quando guardar dinheiro era extremamente difícil.

Castro relembra ainda que, mesmo após o confisco da poupança durante o governo Collor, episódio que gerou insegurança entre os brasileiros, o produto continuou sendo visto como um instrumento seguro para guardar recursos.

Segundo Tatiana Guedes, gerente de produtos do escritório da Investsmart XP, no caso das LCAS (Letras de Crédito do Agronegócio) e das LCIS (Letras de Crédito Imobiliário), a vantagem está na isenção do IR. “Quando comparadas a outros instrumentos tributáveis, considerando o chamado gross up, ou seja, a rentabilidade ajustada para simular o rendimento equivalente após o desconto do imposto, LCIS e LCAS tendem a oferecer uma rentabilidade líquida mais vantajosa”, diz.

Outro benefício, segundo ela, é a garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) que protege os recursos aplicados até R$ 250 mil por CPF.

Tatiana diz que o CDB tem vantagens semelhantes às LCIS e LCAS, porém não possui isenção do Imposto de Renda. “Ainda assim, é uma aplicação de renda fixa que, por acompanhar o CDI, apresenta vantagens se comparada à poupança”, diz.

No caso do Tesouro Selic, a especialista diz que, por serem títulos públicos, apresentam baixíssimo risco de crédito e têm bastante liquidez.

Para Tatiana, as principais desvantagens são a tributação do IR no caso dos CDBS, fundos DI e Tesouro Selic. Ela diz que esses investimentos seguem a tabela regressiva do IR, que inicia com alíquota de 22,5% e, somente após dois anos, atinge a tributação mínima de 15% sobre a rentabilidade.

Outro ponto importante, segundo ela, é o risco de crédito presente nesses ativos. “Apesar desses fatores, acredito que o maior desafio para os investidores iniciantes, acostumados à poupança, é a necessidade de adquirir mais conhecimento sobre outras classes de ativos. Isso exige alguma dedicação e estudo sobre finanças, um tema ainda pouco explorado no nosso país”, diz.

Segundo a especialista da Investsmart XP, na maior parte dos casos faz sentido migrar da poupança. “É importante ter atenção ao momento da transferência, evitando realizá-la antes da data de aniversário da aplicação, que é responsável pela remuneração mensal dos rendimentos da poupança. Caso o saque ocorra antes dela, o investidor pode perder os juros do período”, diz.

Do ponto de vista de rentabilidade, ela afirma que a migração pode ser bastante vantajosa, especialmente em períodos de Selic elevada como o atual. Ela diz, no entanto, que o investidor precisa estar atento à necessidade de liquidez e ao seu horizonte de investimento, pois algumas dessas aplicações têm prazos de carência maiores para resgate.

Carlos Castro, da Planejar, diz que a poupança pode ter um papel importante para ajudar as pessoas a aprender a guardar dinheiro. Ele afirma que, antes de investir, o brasileiro precisa desenvolver o hábito de poupar e, para evitar que o dinheiro fique parado na conta-corrente, a caderneta pode ser uma boa alternativa, já que oferece liquidez e costuma proteger o poder de compra.

Ele afirma que, dentro do planejamento financeiro, o ideal é separar uma parte da renda para começar a guardar (usando a conta-poupança) para depois criar uma conta de investimentos com diversificação, de acordo com um plano de curto, médio e longo prazo.

Ele considera que a poupança pode ser adequada para objetivos de curtíssimo prazo, mas que, para períodos médios e longos, há opções mais vantajosas.

Castro diz que, ao comparar investimentos, o ganho nominal não deve ser o parâmetro, já que não considera descontos de impostos ou taxas. O ideal é olhar o ganho líquido, o rendimento após esses custos. Esse valor pode ser influenciado pelo período em que o dinheiro fica aplicado. Quanto mais tempo ficar no CDB, por exemplo, menor o IR.

Poupança, LCI e LCA não têm IR, o que facilita essa conta.

Alguns investimentos têm taxa de administração, como os fundos de renda fixa, que têm o “come-cotas”, uma antecipação do pagamento do imposto.

É essencial observar o ganho real, que é quanto o investimento rende acima da inflação.

FONTE: FOLHA DE SãO PAULO