Notícias

03/08/2021

As ações que perdem com a alta dos preços de materiais de construção

Para especialista, o segundo semestre deve ser ainda mais desafiador para o segmento

O resultado do Índice Nacional de Custo de Construção, divulgado no dia 22 de julho, indicou o maior aumento recorde no custo de materiais do segmento desde o início do plano Real, em 1994. Para as empresas do setor de construção civil, a situação pode indicar um cenário pouco atrativo para investidores. As consequências podem ser observadas na performance das construtoras e incorporadoras, especialmente após a pandemia do coronavírus. Das 24 empresas listadas na Bolsa que atuam no setor de construção civil, 16 estão com resultados negativos neste ano.

Em 2021, a Viver Incorporadora e Construtora (VIVR3), a Rossi Residencial (RSID3) e a Alphaville SA (AVLL3) alcançam altas de 249,56%, 89,74% e 14,45%, respectivamente. No mesmo período, Helbor (HBOR3), Eztec (EZTC3) e Mitre (MTRE3) registram quedas de 36,92%, 33,70% e 33,60%, respectivamente.

Para analistas, a performance das ações já leva em conta o aumento dos custos, que devem subir ainda mais com a expectativa de alta da inflação para o final do ano e 2022. Para Fernando Damasceno, analista do ModalMais, o segundo semestre deve ser ainda mais desafiador para o segmento. Segundo ele, desde o início da pandemia houve uma migração dos investidores para companhias de tecnologia e, agora, com a perspectiva da retomada, setores que podem ser beneficiados pela reabertura, como varejo, shopping e turismo, podem ser mais atrativos no curto prazo.

“Dólar mais alto, inflação alta e atividade econômica baixa significam um cenário pessimista para o setor das incorporadoras. A taxa de juros baixa permitiu um leve movimento da população aproveitando para financiar imóveis, mas ainda há um longo caminho de recuperação”, aponta.

De agosto de 2020 até janeiro deste ano, a taxa básica de juros do País, a Selic, manteve-se em 2%, considerada mínima histórica. Por outro lado, o Boletim Focus divulgado na segunda-feira (26) calcula que o valor chegue a 7% ainda este ano.

O possível aumento da taxa de juros é a causa do impasse no setor, segundo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Ele ressalta que o valor da Selic deve triplicar até o final do ano, impactando os planos de brasileiros que estavam planejando fazer um financiamento. “Quando o rumo do cenário econômico ficar mais claro, o setor deve voltar a ficar mais interessante de novo”, complementa. Segundo ele, é natural que os investidores olhem para outras áreas neste momento.

Em relação ao aumento dos custos, ele aponta que existe uma desconfiança do quanto a demanda vai suportar esse repasse de preço. “Eu entendo que o investidor tem que ser mais seletivo se realmente quiser pensar numa uma empresa de construção para o segundo semestre”, alerta.

Para Victor Hasegawa, gestor da Infinity Asset, a alta de custos do material também tira a atração dos investidores para as empresas. O gestor complementa que a situação deve permanecer indefinida porque ainda há riscos de que a taxa de juros chegue aos dois dígitos. “A demanda está aquecida mesmo com a pandemia, mas o aumento de custo e repasses ainda são dúvidas do mercado para ter um posicionamento mais firme em relação ao setor”, explica. Segundo ele, mesmo que a Selic se estabilize aos 7% ao ano, o mercado já conseguiria estabelecer um cenário mais concreto, “já que o Brasil lidou com juros de dois dígitos por muito tempo”.

“Heterogêneo”, é como Gustavo Akamine, analista da Constância Investimento, define o setor. Segundo ele, enquanto as incorporadoras de alta renda alcançam um melhor desempenho, empresas ligadas ao programa Casa Verde e Amarela, por exemplo, podem sofrer mais. Por conta disso, o investidor deve pesquisar sobre a atuação da empresa que deseja escolher para a carteira.

“É preciso ficar de olho na velocidade de vendas, isso vai ser o termômetro para indicar se o crédito das taxas atuais conseguem manter um bom nível de demanda”, explica. Segundo ele, o segmento consegue dar uma “rentabilidade saudável”.

Por outro lado, empresas varejistas voltadas a materiais de decoração e ferramentas apresentaram bons resultados. Para os especialistas, o movimento também é reflexo da pandemia.

“Como as pessoas estavam mais em casa, decidiram reformar, fazer reparos e mudar a decoração. Como exemplo, vimos fortes resultados de empresas como Duratex (DTEX3), Lojas Quero-Quero (LJQQ3) e Portobello (PTBL3)”, comenta o analista do ModalMais. Em 2021, as três empresas acumulam altas de 16,75%, 33,58% e 108,65%, respectivamente.

Além das reformas em casa, Damasceno comenta que o mercado já calcula dois outros movimentos consequentes da pandemia que devem afetar o segmento. O primeiro é que o home office “veio para ficar” em algumas empresas, o que pode afetar o setor de construção corporativa. O segundo é a tendência de trabalho remoto, que deve expandir áreas residenciais para cidades e regiões adjacentes aos grandes centros. Esses fatores também devem ser analisados pelo investidor que busca uma empresa no segmento no portfólio

FONTE: ESTADO DE S.PAULO