Em uma ação defensiva, a Votorantim Cimentos vai manter a estratégia de diversificação geográfica de suas operações e também do portfólio de negócios. Foi isso, afirma o presidente da cimenteira, Walter Dissinger, que garantiu à empresa equilíbrio nos momentos de crise nos mercados em que atua, principalmente no Brasil, a partir de 2015. O país tem um peso grande nos seus resultados: da capacidade instalada de produção, dois terços estão aqui, onde é líder de mercado com mais de 30%.
Em entrevista ao Valor, pouco antes de se reunir com líderes da empresa para definir o planejamento estratégico dos próximos cinco anos, o executivo disse que o modelo de diversificação da VC buscou proteção contra a imprevisibilidade dos mercados, tanto no Brasil como no exterior. Agora, Estados Unidos estão bem. Europa e África, de maneira geral, também. O Brasil vive quatro anos de forte retração. Antes, foi o contrário. "Como trabalhar e crescer em cenários assim?", diz.
O ciclo de crescimento com aumento da capacidade de oferta de cimento, com novas fábricas e ampliação das existentes, terminou, destaca Dissinger. "Acabamos de inaugurar uma expansão nos Estados Unidos, na região dos Grandes Lagos, e com sócios estamos modernizando e ampliando duas fábricas na Argentina", afirma.
Globalmente, a VC definiu em seu planejamento quinquenal investir R$ 5 bilhões nos próximos cinco anos. Desse valor, pouco mais de 20% - R$ 1,3 bilhão - no período vai ser alocado para modernização e expansões da capacidade das instalações de produção. O enfoque da companhia passa hoje pelo fortalecimento de outros negócios no seu portfólio e trabalhar na melhoria de processos industriais visando reduzir custos.
Um exemplo é o segmento de argamassas, produto para uso em acabamento de obras. Estão previstas mais seis fábricas dentro de quatro anos, com investimento de R$ 100 milhões. Em geral, são unidades instaladas junto à fabricas integradas de cimento - ficam ao lado de minas de calcário. As novas instalações serão em Santa Catarina, Rio de Janeiro, Mato Grosso (em Cuiabá) e Pará (Primavera).
Atualmente, a cimenteira tem no Brasil capacidade de fabricar 2,24 milhões de toneladas de argamassas e rejuntes por ano.
Para calcário agrícola o investimento foi ampliado para R$ 200 milhões. Serão novas unidades de produção no Centro Oeste e no Centro Norte, como Tocantins (fábrica de Xambioá. "Onde há agricultura forte, esse é o mercado-alvo. Na fábrica de Nobres (MT), por exemplo, já fazemos mais calcário que cimento", diz o executivo.
A meta da VC é ser a número 1 do país, que conta com mais de duas centenas de produtores de calcário agrícola. "Nosso processo de produção (moagem) tem diferença em relação ao dos concorrentes", diz Dissinger. Hoje, a empresa está apta a comercializar 4,5 milhões de toneladas anuais por ano do produto.
O executivo diz que outra frente, voltada a cortar custos, é a de substituição de coque de petróleo para os fornos. O insumo é comprado em dólar e vem dos EUA. O plano é ampliar o processo de coprocessamento de biomassa. A empresa já avança além da queima de pneus. No momento, já trabalha com caroço de açaí e está olhando coco de babaçú, lixo urbano e outros resíduos.
"É uma oportunidade de reduzir a emissão de CO2 e de um insumo dolarizado. Isso é estratégico para a VC", afirma o executivo. A empresa prevê aplicar R$ 400 milhões, em quatro a cinco anos. Com caroço de açaí, na fábrica de Primavera, busca-se substituição do coque acima de 50%. O insumo é compra a 200 km e vai pelo rio. Em Xambioá, a meta é economizar R$ 28 milhões. Em Nobres (MT), o uso de casca de arroz e cavaco de madeira substitui metade.
"São todos investimentos feitos independentemente da situação econômica, que buscam a melhoria de resultados", afirma o executivo. Ao mesmo tempo, a empresa avança no uso da internet e indústria 4.0, tanto nas áreas comercial e operacional.
A empresa, que tem receita anualiazada na casa de R$ 13 bilhões a 14 bilhões, respondendo por 40% do total do grupo Votorantim, enfrentou dificuldades no país nos últimos anos. De 2015 ao final deste ano, a demanda interna total pode atingir recuo de 28%.
O mercado cimenteiro do país, comenta Dissinger, viverá mais um ano de retração em 2018. Pelo cenário atual da economia, ele estima uma queda no consumo de 2%, ante o ano passado. Será o quarto ano de retração da indústria. A empresa paralisou unidades mais antigas e vendeu ativos nos EUA, Chile e China para abater endividamento. Além disso, recebeu aportes de capital da controladora.
No segundo trimestre, a empresa registrou receita líquida de R$ 3,3 bilhões, uma alta de 18% ante um ano atrás. No Brasil, houve aumento de 15%, para R$ 1,6 bilhão, com R$ 199 milhões de resultado operacional (Ebitda).
A VC está apta a produzir 52,8 milhões de toneladas de cimento - 34,3 milhões no Brasil e 18,5 milhões no exterior (14 países).
Para Dissinger, ainda é difícil prever o que vem em 2019. O caminho são investimentos em infraestrutura e construção civil, grandes geradores de empregos. Vê como a alavanca - a solução de curto prazo. "O que se vê hoje é muita intenção e não uma política de governo estruturada", diz, lembrando que o consumo de cimento no país é de 220 kg por habitante ao ano. Na China, passa de mil quilos.