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20/01/2020

Votorantim diz estar pronta para volta da demanda de cimento

Cimenteira do grupo se capitalizou no ano passado e aprovou plano de investimentos de R$ 2 bilhões em modernização e ganho de competitividade das operações

A Votorantim Cimentos entra em 2020 com maior saúde financeira e otimista com a economia do país. A projeção de desempenho do ano é, ao menos, crescer em linha com o mercado. Mas seu presidente diz acreditar que pode atingir um resultado superior. Após enfrentar uma crise de quatro anos, com retração de 27% no volume comercializado, a indústria de cimento no país projeta aumento de 3,6% nas vendas este ano, o mesmo índice de 2019.

Marcelo Castelli, que completa um ano no comando da cimenteira em fevereiro, afirma que a VC está preparada para essa retomada do consumo no país, com base em crescimento de 2% a 2,5% do PIB. “Nossa maior ambição é melhorar a rentabilidade do nosso negócio; por isso, estamos investimento pesado em ganhos de competitividade das operações.”

Castelli afirma que se a economia brasileira alcançar o nível de crescimento projetado pelos economistas e o governo, isso levaria a quase 4% de aumento no consumo de cimento nacional. Mas lembra que é só o começo da recuperação, principalmente financeira, das empresas do setor.

“Os preços do cimento, em dólar, caíram muito, ao mesmo tempo que a demanda interna desabou. Isso machucou muito o setor e ainda não traz alívio financeiro à maioria das empresas que fabricam aqui”, acrescentou Castelli, em conversa com o Valor.

Segundo o executivo, vários fatores são benéficos à indústria de materiais de construção - que vai do cimento, argamassas, concentro, brita, tintas, entre outros, até o vergalhão de aço. Ele aponta a queda de juros, aumento do emprego, a retomada do setor imobiliário, que se tornou atrativo a investimentos; o câmbio, que no patamar atual beneficia exportadores, em especial a indústria... “No momento, a perspectiva é bastante positiva”, diz.

Castelli observa, no entanto, que as privatizações têm de acontecer - “para trazer mais dinheiro de fora “- e que o programa de concessões de ativos de infraestrutura precisa deslanchar. “Há muito dinheiro no exterior pronto para entrar no Brasil. Primeiro vem como capital especulativo. É preciso atrair investimentos em capital produtivo”.

No campo das concessões de infraestrutura, o executivo disse que acompanha com expectativa a aprovação das novas regras para o setor de saneamento. Com isso, destaca, novos concessionários e investidores virão e muitos projetos vão ser executados via capital privado ou em parcerias público-privadas (PPI). Obras de saneamento e de outros projetos de infraestrutura - rodovias, ferrovias, aeroportos, portos - são grandes consumidores de cimento. Pouco foi feito nos últimos cinco anos.

Mas lembra que, os reflexos disso na demanda por cimento e outros materiais de construção, só vão ocorrer a partir do segundo semestre (pequena parte) e, com mais peso, em 2021. São projetos de maturação longa. Enquanto isso, toda a aposta é na construção civil imobiliária.

A VC, informa o executivo, que comandou a fabricante de celulose Fibria por longos anos como indicação do grupo Votorantim, adotou, em conjunto com o acionista controlador, medidas fundamentais para a sustentabilidade dos negócios. No ano passado, junto com a Votorantim S.A., fizeram apostes de capital para reduzir a alavancagem financeira da empresa. Apenas da VSA foram alocados R$ 2 bilhões no pagamento antecipado de dívidas. A alavancagem caiu a menos de 3 vezes na relação dívida líquida sobre Ebitda (sigla em inglês de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização).

“Hoje, podemos falar que o time vem jogando mais da metade do campo para frente”, diz, em alusão a um técnico de futebol.

Ao mesmo tempo, a empresa definiu um programa de investimentos em modernização e aumento de competitividade das operações no Brasil, de R$ 2 bilhões, em cinco anos. Esse valor poderá ser engordado em algumas centenas de milhões de reais se for aprovada a regulamentação para coprocessamento de resíduos industriais no Estado de São Paulo. Para a isso, a empresa terá de fazer investimentos pesados nas fábricas de Santa Helena e Salto para atender o tratamento do volume desse tipo de resíduo, cuja geração é enorme no estado. Em outros estados isso já é permitido e a VC montou instalações.

Para se posicionar em todo o país, vem investindo em expansão de fábricas para marcar presença em certos mercados e aproveitar a prometida retomada do consumo. É o caso de Pecém (CE), cuja fábrica recebeu R$ 200 milhões para elevar a capacidade em 800 mil toneladas até agosto. Em 2019, comprou uma unidade de argamassa em Belém e ampliou a de Cuiabá. Também no Mato Grosso, expandiu a linha de calcário agrícola de Nobres. “Estamos atentos às retomadas regionais”, observa o executivo.

A VC é líder no mercado brasileiro de cimento e tem operações em outros países da América Latina, Estados Unidos e Canadá, Europa (Espanha) e em alguns países da África. Em 2018, último balanço anual consolidado, gerou receita líquida de R$ 12,1 bilhões - desse valor, R$ 6,61 bilhões no Brasil. No todo, vendeu 31 milhões de toneladas de cimento, além de concreto, argamassas, brita e calcário agrícola. É o sexto maior fabricante de cimento do mundo em capacidade instalada.

Segundo Castelli, as operações da América do Norte têm se mostrado bem. “O mercado dos EUA é atrativo e a empresa mantém-se atenta para novas aquisições no país. Mas não temos pressa”, afirmou. Na Argentina, está com um parceiro que é majoritário no negócio. Há um investimento de expansão que conclui em outubro. “Na crise, eles investem nos chamados ‘ladrillos’, ou imóveis, como segurança e isso nos beneficia”. Na Espanha, a economia está positiva. Tunísia e Marrocos estão estáveis. Já na Turquia, a crise estabilizou, com previsão de reação lenta.

FONTE: VALOR ECONôMICO