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15/12/2016

Tenda volta à bolsa mesmo sem IPO

Os acionistas da Gafisa receberão metade das ações da Tenda e terão direito de preferência da subscrição dos outros 50%.

A Tenda voltará a ter ações negociadas em bolsa como uma empresa independente da Gafisa, sua atual controladora, apesar de sua oferta secundária de ações ter sido cancelada. Na largada, as ações da Tenda poderão estar concentradas nas mãos dos acionistas da Gafisa, ou distribuídas entre eles e a Jaguar Real Estate Partners. Conforme a adesão dos acionistas da Gafisa ao direito de subscreverem papéis da Tenda, será definida a participação dos detentores dos papéis da incorporadora de baixa renda.

Os acionistas da Gafisa receberão metade das ações da Tenda e terão direito de preferência da subscrição dos outros 50%. Ao fim da distribuição de 100% dos papéis, as ações da Tenda serão negociadas na BM&FBovespa. O cronograma da operação ainda não foi divulgado. A Tenda já é listada em bolsa.

A base acionária da Tenda é bastante pulverizada, o que dificulta a avaliação se Jaguar entrará de fato ou não no capital da companhia. O Valor apurou que os principais acionistas da Tenda - as gestoras Polo Capital e Pátria Investimentos - devem exercer o direito de preferência na subscrição dos papéis da Tenda. Procurados pela reportagem, Gafisa, Tenda, Polo e Pátria não comentaram o assunto.

Na prática, se até 40% da base de investidores de Gafisa exercer seus direitos na Tenda, a Jaguar pode ficar com 30% da incorporadora de baixa renda. E, se até 60% aderir, o fundo ficará com o patamar mínimo, 20%.

Gafisa e Jaguar fecharam contrato que prevê venda de até 30% da Tenda, com preço por ação de R$ 8,13. Se após os acionistas exercerem seu direito, restarem menos de 20% das ações da Tenda, a Jaguar não terá a obrigação de aquirir a fatia. No acordo com a Jaguar, a Tenda é avaliada em R$ 539,02 milhões.

A oferta pública secundária das ações da Tenda foi cancelada porque houve demanda apenas por metade dos papéis da companhia. A faixa de preço estimada para as ações na oferta era de R$ 12,5 a R$ 16,5 - o que faria com que a operação pudesse movimentar valor entre R$ 500 milhões e R$ 660 milhões.

O preço por ação considerado na negociação com a Jaguar, de R$ 8,13, não pode ser comparado aos valores da faixa do IPO porque foi calculado considerando-se redução de capital de R$ 100 milhões da Tenda, de R$ 1,194 bilhão para R$ 1,094 bilhão. Os R$ 100 milhões irão para o caixa da Gafisa em duas parcelas de R$ 50 milhões, a serem pagas até o fim de 2018 e o fim de 2019, respectivamente.

Se a Gafisa vender 30% das ações para a Jaguar, vai receber R$ 231,7 milhões pela fatia. Caso fatia adicional de 20% também seja vendida, a empresa pode receber recursos extras de R$ 87,8 milhões - levando o negócio a valor total de R$ 319,5 milhões.

Em fato relevante, Gafisa e Tenda atribuíram a desistência da oferta à "atual conjuntura de mercado desfavorável". O Valor apurou, porém, que o preço atribuído à companhia foi considerado elevado por investidores, principalmente quando comparado ao da MRV Engenharia, incorporadora que atua no mesmo segmento de renda.

Também permaneceu na memória dos investidores o fracassado IPO que a Tenda realizou em 2007, que trouxe prejuízo. Um ano depois, a empresa acabou sendo comprada pela Gafisa, que teve de assumir endividamento elevado, estouros de orçamento e a muitos cancelamentos de contratos de compra.

Por outro lado, a Tenda atua na faixa 2 do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, segmento financiado, principalmente, com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que não tem sofrido as mesmas restrições de outras fontes de crédito imobiliário.
No terceiro trimestre, a Gafisa teve prejuízo consolidado de R$ 72,6 milhões. A divisão Gafisa registrou perda de R$ 95,67 milhões, enquanto a Tenda teve lucro de R$ 23 milhões. Ontem, as ações da controladora fecharam cotadas a R$ 2,03 na BM&FBovespa. 

FONTE: VALOR ECONôMICO