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28/03/2024

Setor imobiliário aprova FGTS Futuro, mas quer ampliação (Valor Econômico)

Programa pode ampliar acesso à casa própria mas também oferece riscos de superendividamento

O FGTS Futuro, esperado desde 2022 e aprovado na reunião do conselho curador do FGTS, na terça-feira (27), foi recebido com otimismo pelo setor imobiliário.

Mauricio Garcia, diretor-financeiro da Tenda, incorporadora listada em bolsa que tem a maior participação das vendas na faixa 1 do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), afirma que a novidade torna possível que a empresa continue com o foco de ter participação predominante nessa faixa de renda, que atende famílias que ganham até R$ 2.640 por mês. No quarto trimestre de 2023, 63% das vendas da Tenda foram para essa categoria de cliente.

 

O FGTS Futuro permite que os 8% do salário do trabalhador, que seriam enviados à sua conta no fundo, sejam direcionados para o pagamento da parcela do financiamento do MCMV, o que aumenta o poder de compra do consumidor. Atualmente, esse valor não é considerado.

A Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) divulgou nota reforçando que a aprovação é um “marco importante” para o setor e que cerca de 60 mil famílias poderão ter a compra da casa própria viabilizada por meio dela, ao ano.

 

A entidade espera, no entanto, que o FGTS seja ampliado a outras faixas de renda. O MCMV abrange famílias com renda de até R$ 8 mil ao mês. “A expectativa é que, com o tempo, haja um monitoramento da capacidade de pagamento desses beneficiados e que, futuramente, um grupo maior de famílias possa ser contemplado com a iniciativa”, disse Luiz França, presidente da Abrainc.

Com a aprovação no conselho curador, falta agora apenas a publicação de normas operacionais, a ser feita pela Caixa Econômica Federal, lembraram Ygor Alterno e Ruan Argenton, analistas da XP, em relatório.

 

O FGTS Futuro também tem riscos. Se perder o emprego, o trabalhador pode pedir a suspensão das prestações por até seis meses, assim como em outros financiamos feitos com recursos do FGTS. No entanto, se não conseguir retomar os pagamentos depois disso, pode perder o imóvel. O valor da parcela continuará a incluir os 8% do salário antigo, mesmo que ele não tenha um trabalho novo ou passe a ganhar menos, por exemplo.

Marcelo Tapai, advogado de direito imobiliário, afirma que isso pode gerar um superendividamento da população de baixa renda. “Todo dinheiro investido no mercado imobiliário e para financiamento de imóveis tem como beneficiário direto, além do comprador do imóvel, as incorporadoras e construtoras”, diz. “Do meu ponto de vista, essa medida visa mais beneficiar as empresas do mercado imobiliário do que os compradores”.

 

Ao aumentar o poder de compra dos consumidores, o FGTS Futuro deve ajudar a Tenda a reduzir o pró-soluto, o financiamento feito diretamente pela incorporadora ao cliente, para pagamento da entrada. Segundo Garcia, a empresa espera uma queda do pró-soluto dos atuais 11,5% do valor da unidade para menos de 10%.

 

Sobre a possibilidade de aumento da inadimplência, Garcia afirma que a companhia está sempre revendo as políticas de crédito, e que essa é uma “preocupação constante”.

No início da tarde desta quarta-feira, as ações de quase todas as incorporadoras listadas registravam alta, com destaque para 4,34% de valorização na Tenda e 4,67% na Plano&Plano.

FONTE: VALOR ECONôMICO