Fotos e vídeos simples, mostrando os detalhes dos cômodos a partir da perspectiva de quem entra no imóvel, não são mais suficientes para quem busca um apartamento ou casa para alugar ou comprar. A produção de conteúdo virou um novo filão para os corretores de imóveis, que apostam em narrativas criativas para chamar a atenção nas redes - até de quem nem pretende se mudar, mas é curioso.
O movimento é feito por pequenas imobiliárias de nicho e até grandes empresas. Já as plataformas do setor colocam no ar ferramentas de inteligência artificial (IA) para incrementar a busca pela casa dos sonhos.
Uma pesquisa do DataZap, do Grupo OLX, mostra que, na busca por um imóvel para alugar, as redes sociais são destaque para 47% dos consumidores millenials e da Geração Z (nascidos entre 1981 e 2012). No caso de compradores, esse percentual é de 38%.
A corretora Tamara Stief virou queridinha nas redes com vídeos descontraídos dos imóveis que anuncia, principalmente em bairros de classe média e alta da capital paulista, como Itaim, Higienópolis e Alto de Pinheiros.
Sua proposta não é apenas circular pelo apartamento destacando atributos como localização, valor do metro quadrado ou se o sol é da manhã, mas criar uma narrativa. A corretora brinca com os perfis (ou estereótipos?) dos moradores de cada região e “simula” rotinas do possível morador.
Tamara começou com o conteúdo para a internet há cerca de dois anos e fez sucesso. Já são 365 mil seguidores, de interessados de fato nos imóveis a quem tem curiosidade para conhecer a “caverna do outro”, diz Fábio Silveira, marido e sócio de Tamara.
A empresa do casal tem hoje 20 funcionários, mas a gravação e a edição dos vídeos continua só com os dois, para manter a identidade.
- Imóvel é também lifestyle, não é só metragem e acabamentos. Tem a venda técnica, claro, mas precisa de uma pegada emocional. O cliente precisa se imaginar vivendo ali - diz o empresário.
Apesar de nem todos os imóveis do portfólio irem para as redes, os vídeos no Instagram são o centro do negócio, porque, segundo Silveira, criam conexão com o público e humanizam a venda. O impacto é relevante: unidades que estavam há meses paradas no site são vendidas rapidamente após os vídeos. Ele cita casos de apartamentos vendidos em 24 horas após a postagem.
No Rio, há também nomes no nicho, como Rodrigo Barbosa, dono da Morabilidade, que anuncia desde coberturas lineares em Ipanema ou Leblon até unidades em prédios históricos como o Edifício Seabra, construído em 1931 com estilo eclético, e que desperta a curiosidade de quem passa pela Praia do Flamengo.
Outra carioca é a Quitéria, boutique de imóveis de alto padrão em bairros da Zona Sul. Por causa da demanda de conteúdo nas redes, a empresa contratou videomaker e editores. Igor Celano, sócio-diretor da imobiliária, diz que os imóveis anunciados nas redes são vendidos e alugados mais rápido:
- Tem que entender quem é o público-alvo, criar identidade e transmitir isso em imagem, música, narrativa. Só foto e vídeo virou lugar-comum. Tem que ter um diferencial.
Estratégia das grandes
Enquanto negócios de nicho produzem conteúdo, gigantes do setor usam recursos de IA para melhorar a experiência da busca pela casa nova. A análise do Grupo OLX também apontou que 25% dos entrevistados que querem alugar um imóvel receberam atendimento ou tiveram interação com robôs de IA. A relação foi avaliada de forma positiva, com 75% atribuindo notas de 7 a 10.
O grupo, que inclui as marcas Viva Real e Zap, oferece aos corretores a Izi, ferramenta de IA treinada para ter o jeito de se comunicar do profissional e responder dúvidas dos clientes nos canais de atendimento, como o WhatsApp.
Coriolano Lacerda, gerente de inteligência de mercado do Grupo OLX, explica que a Izi “faz um pré-atendimento para a equipe comercial”.
No QuintoAndar, uma das ferramentas ajuda os proprietários a calcularem um valor justo para o aluguel ou venda, com base em informações da própria plataforma e de fontes externas, como cartórios. Ela mostra uma régua apontando se o preço está abaixo, dentro ou acima da média do mercado.
Outra aposta é a busca “livre”: em vez de selecionar as características desejadas para o imóvel numa lista limitada de filtros, o consumidor escreve ou fala no aplicativo o que deseja, e a IA filtra as imagens do catálogo e seleciona as melhores opções, diz Samia Lauar, diretora de Gestão de Produtos da plataforma:
- Você fala “quero um apartamento amplo, com chão de taco e sol da manhã”, e a ferramenta já consegue buscar nesses anúncios. Pessoas que usam essa busca agendam 176% mais visitas.
A Loft, por sua vez, ainda tem uma IA que “decora” os imóveis anunciados. Outra solução transforma os anúncios de imóveis em vídeos apresentados por avatares dos corretores. Profissionais de 25 imobiliárias parceiras já usam o recurso.
- Estamos vivendo uma mudança estrutural na forma de vender. O vídeo deixou de ser apenas uma ferramenta de conhecimento para se tornar um canal direto de conversão - diz Ana Romeo, vice-presidente de Negócios da Loft.
Empresas focadas em imóveis novos também apostam em produção de conteúdo. A Tenda, construtora focada no Minha Casa, Minha Vida, colocou à disposição dos corretores estúdios profissionais para gravação, editores de vídeo gratuitos e suporte de especialistas.