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15/09/2025

Os fatores de impulso do crédito privado – Valor Econômico

Gênese da transformação está na flecha da desintermediação bancária e avanços tecnológicos

Por Otávio Vieira

O mercado de capitais nacional vem passando por extensa fase de expansão, aumento de profundidade e sofisticação. Na seara do crédito privado, o crescimento de relevância, volume de transações e acesso por parte de investidores é ainda mais marcante.

Há várias explicações para tal desenvolvimento, mas a gênese da transformação está na flecha da desintermediação bancária e avanços tecnológicos. Essa flecha varou as paredes das instituições da Faria Lima e até de cooperativas de crédito espalhadas por todo o país. Os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), debêntures financeiras de companhias não listadas, certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) vêm sendo estruturados e distribuídos de forma crescente.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), o patrimônio sob gestão dos FIDCs dobrou de 2022 para cá, chegando a R$ 690 bilhões e superando o volume dos fundos de ações. Nesse mesmo período, o mercado de fundos como um todo teve expansão de 32%.

No setor imobiliário, o mercado de capitais superou a poupança e tornou-se a principal fonte de recursos, evidenciando uma mudança histórica no setor. Instrumentos de financiamento privado, como CRI, fundos de investimento imobiliário (FII), letras de crédito imobiliário (LCI) e letras imobiliárias garantidas (LIG), têm apresentado um crescimento expressivo, respondendo por 38% do financiamento, ao passo que a contribuição da poupança recuou para 36%.

A concentração bancária que vem ocorrendo desde a crise de 2008 abriu espaço para butiques e assets ganharem protagonismo na originação de ativos relacionados a pequenas e médias empresas. O crescimento de plataformas de investimento cuja distribuição de produtos é feita por agentes autônomos dá vazão ao escoamento desses ativos. Fora o próprio crescimento dos fundos dedicados ao mercado de crédito, que demanda ativos de maior complexidade e retorno esperado.

Soma-se a isso a taxa básica de juros em nível muito alto, que atrai fluxo de alocação em ativos que rendam acima do CDI, ainda trazendo a reboque vantagens tributárias como isenção de imposto de renda ou ausência de “come cotas” em ativos e fundos de renda fixa.

Os avanços tecnológicos contribuem de forma super relevante para essa transformação, pois são capazes de colocar transações com altíssima volumetria de forma fluida e controlada. Vemos FIDCs de crédito consignado, cartões de crédito, antecipação de FGTS, crédito estudantil, consórcios sendo desenvolvidos de forma rápida e segura. Isto se deve à capacidade de digitalização cada vez mais barata e eficiente.

A digitalização e a bancarização de ativos financeiros têm se destacado como tendências importantes. O crescimento das plataformas de finanças descentralizadas (DeFi), que utilizam contratos inteligentes para criar serviços financeiros sem intermediários, está revolucionando a forma como os ativos são geridos e negociados. Essas tendências estão moldando o futuro do setor financeiro, promovendo maior eficiência, transparência e inclusão.

Como disse a futurista Faith Popcorn em entrevista recente ao Valor: “Tendências são correntes lentas, não ondas avassaladoras. Elas se movem sob a superfície da cultura e do comportamento, muitas vezes antes mesmo de termos linguagem para descrevê-las. Uma moda é barulhenta e passageira - um momento viral, uma obsessão sazonal.”

A flecha da desintermediação é uma corrente que veio para ficar, pois é saudável para a sociedade, dado que tem potencial para diminuir o “spread” bancário e dar acesso diferenciado ao financiamento de uma massa enorme de empresas e pessoas.

 

Otávio Vieira é head de crédito privado da Est Gestão de Patrimônio

E-mail: otaviovieira@estgp.com.br

 

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FONTE: VALOR ECONôMICO