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08/07/2016

Operações de crédito devem encolher novamente neste ano

No início do ano, a previsão era de que o crescimento do estoque pudesse ser de 7%.

A esperança de que o crédito pudesse dar impulso à economia foi enterrada de vez depois que o Banco Central (BC) divulgou sua mais recente estimativa para a evolução do estoque dos empréstimos. O BC agora prevê que o crédito com recursos livres vai crescer apenas 1% neste ano. Foi a terceira revisão para baixo dos números. No início do ano, a previsão era de que o crescimento do estoque pudesse ser de 7%; e, em março, já havia sido cortada para 5%. Pior do que isso é a comparação desses números com a expectativa para a inflação deste ano, que deve ficar em 7,27% de acordo com a mais recente pesquisa Focus. Ou seja, na prática, o crédito vai encolher em termos reais.

A revisão dos números foi feita pelo Banco Central após fechar os resultados de maio. Depois de quatro meses seguidos de queda, o estoque de crédito aumentou 0,1% em maio, para R$ 3,144 trilhões. No ano, o estoque ainda diminui 2,3%; e, no acumulado em 12 meses, mostra alta de 2%, inferior à variação da inflação no período. Tudo indica que o crédito vai diminuir também em comparação com o Produto Interno Bruto (PIB), apesar da esperada retração econômica neste ano. O estoque já caiu de 52,6% do PIB em março para 52,4% em maio.

Essa tendência de encolhimento começou no ano passado. As operações de empréstimos aumentaram 6,7% em termos nominais em 2015, para R$ 3,22 trilhões, o equivalente a 54,5% do PIB, não acompanhando, portanto, o aumento de 10,67% da inflação. Não fosse o efeito da alta do dólar nos empréstimos em moeda estrangeira, o estoque de crédito teria diminuído 2,8% em comparação com 2014, de acordo com análise de conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Para o Banco Central, o mercado de crédito reflete principalmente a retração da atividade e um ambiente ainda permeado de incertezas, tanto econômicas quanto políticas, apesar de alguns indicadores de confiança já mostrarem sinais de recuperação. Recessão econômica, endividamento elevado das famílias, desemprego em alta e renda em baixa são motivos apontados para o encolhimento do crédito, resultando tanto na retração dos bancos quanto dos tomadores de recursos.

O sinal preocupante mais recente foi o recuo de 0,1% do crédito com recursos livres para as empresas registrado em maio pelo Banco Central. Desde maio de 2009, ápice da crise internacional, não se observava recuo mensal no crédito livre para as empresas. A linha mais atingida e uma das principais para as empresas é o capital de giro, que acumula recuo de 29% neste ano. A Serasa Experian registrou forte aumento da demanda das empresas por crédito em maio, puxado principalmente por empresas de menor porte, mas isso deve se refletir no movimento dos próximos meses (Valor 28/6). De janeiro a maio, porém, ainda há queda, especialmente entre as grandes companhias.

O crédito para as pessoas físicas surpreendeu em maio, com aumento de 0,5%, destaque para o crescimento de 5,5% nos gastos com cartão de crédito à vista, provavelmente por causa das compras para o Dia das Mães. Mas o saldo total dos empréstimos para pessoas físicas está em queda de 3,2% no ano. A contenção vem tanto dos tomadores quando dos bancos. As famílias estão com endividamento de 44,3% e comprometimento de 23,3% da renda com o pagamento do serviço da dívida.

O quadro deixa os bancos preocupados com a inadimplência. Embora venha se repetindo que a inadimplência está surpreendentemente baixa e estável, há motivos para preocupação. A inadimplência das pessoas físicas no crédito com recursos livres ficou em 6,3% tanto em abril quanto em maio. No entanto, o índice pode estar mascarado pelo crédito consignado, que representa cerca de um terço do total emprestado às pessoas físicas e, tradicionalmente, tem inadimplência baixa - está em 2,3% há um ano - até porque seu pagamento é descontado da folha de salário ou da aposentadoria. Excluídas as operações de consignado, a inadimplência da pessoa física salta para perto de 10%. Outro sinal preocupante é o crescimento de 18% do volume de crédito renegociado com pessoas físicas.

Apesar do mercado de crédito mais para frio do que morno, as taxas de juros têm subido ao longo do ano e ganharam novo impulso depois que o BC, já sob o comando de Ilan Goldfajn, sinalizou que vai manter a taxa Selic em 14,25% mais tempo do que se esperava para levar a inflação à meta de 4,5% em 2017. Essa indicação já elevou os juros no curto prazo com reflexos no custo do dinheiro para as famílias e empresas. Esse é um novo fator que contribui para arrefecer a demanda por crédito. 

FONTE: VALOR ONLINE