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01/11/2017

Lucro do Itaú dependerá mais do crédito no ano que vem, diz Bracher

O presidente do Itaú se revelou mais otimista com a volta do crescimento da carteira de pessoas físicas, em razão da queda do desemprego e do endividamento das famílias.

Em um cenário de juros em queda, o Itaú Unibanco dependerá mais do crédito para manter os lucros em alta no próximo ano. Mas retomar os financiamentos não será uma missão simples, conforme sinalizou Candido Bracher, presidente do maior banco privado brasileiro.

"Existe uma disposição para crescer a carteira [de crédito], mas essa não é uma decisão unilateral, não depende só de nós, mas também da demanda", afirmou Bracher a jornalistas, durante teleconferência sobre os resultados.

O Itaú registrou lucro líquido de R$ 6,254 bilhões no terceiro trimestre, alta de 11,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Embora o resultado tenha ficado acima das expectativas, o desempenho do crédito e a queda nas margens pressionaram as ações preferenciais do banco, que caíram 2,46%. O Ibovespa, principal índice da bolsa, fechou em queda de 0,66%.

Depois de priorizar nos últimos anos as linhas de menor risco, como o consignado e imobiliário, Bracher afirmou que esse movimento está concluído, e que agora o Itaú deve voltar a competir em segmentos como veículos e pequenas e médias empresas. "Nossa disposição de crescer a carteira de crédito se aplica a todos os mercados", disse.

O presidente do Itaú se revelou mais otimista com a volta do crescimento da carteira de pessoas físicas, em razão da queda do desemprego e do endividamento das famílias. Para ele, o ponto de inflexão nesse segmento ocorreu no terceiro trimestre.

Entre as empresas, em especial as de grande porte, o crédito deve demorar mais a reagir, segundo Bracher. Ele atribuiu o desempenho mais fraco à concorrência com as operações no mercado de capitais e ainda às eleições de 2018, que podem levar as companhias a postergar as decisões de investimento.

Com os financiamentos em ritmo lento e a Selic menor, o Itaú sentiu uma pressão maior nas receitas no terceiro trimestre deste ano. A margem financeira da instituição registrou uma queda de 7,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

A carteira de crédito do banco encerrou setembro em R$ 575,2 bilhões, queda de 1,3% no trimestre e de 4,9% na comparação com o saldo do mesmo período do ano passado. O Itaú manteve as projeções para o crédito no ano, que variam entre estabilidade e um crescimento de 4%. Bracher afirmou que o resultado deve ficar "ao redor do piso" da meta, o que significa que o saldo dos financiamentos pode fechar em queda pelo segundo ano seguido.

A queda da Selic e do crédito pressionaram a margem financeira do banco, que recuou 7,1% em relação ao terceiro trimestre do ano passado. A retração na margem, porém, foi mais que compensada pela queda no chamado custo do crédito, que inclui as despesas de provisão contra calotes. Um forte controle nas despesas operacionais e o aumento das receitas com serviços também contribuíram para melhorar o resultado final.

O desempenho do crédito continua a ser uma preocupação, particularmente em um ambiente de Selic muito menor, segundo os analistas do BTG Pactual. Mas o Itaú conseguiu "comprar tempo" com um controle melhor de custos e a redução das provisões. "Esperamos que essa tendência continue em 2018", escrevem os analistas, em relatório a clientes.

O próprio Bracher disse ver espaço para as despesas com provisão caírem ainda mais em relação à carteira de crédito, caso haja oportunidade para desfazer as reservas constituídas para atravessar a crise. Isso vale especialmente para o segmento de atacado, em que o volume total de provisões equivalia a 932% das operações inadimplentes no fim de setembro.

O desempenho fraco do crédito, por outro lado, não é de todo ruim, já que permitirá ao Itaú aumentar a remuneração de seus acionistas, observaram analistas da BB Investimentos.

Sem ter de empenhar mais recursos para conceder empréstimos, o Itaú - que tem operado com uma grande "sobra" de capital - deve destinar aproximadamente 60% do lucro deste ano ao pagamento de dividendos, disse Bracher. Nas contas da BB Investimentos, o percentual pode chegar a 75% do lucro no ano que vem. Bracher reforçou a mensagem de que o Itaú pretende destinar aos acionistas o excesso de capital sem perspectiva de uso.

O banco encerrou setembro com 14,6% de capital principal considerando a aplicação plena das regras de Basileia 3, a aquisição dos ativos do Citi e da participação na XP Investimentos.

FONTE: VALOR ECONôMICO