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31/07/2015

Lucro do Bradesco avança 18% no trimestre

A melhora da margem financeira do Bradesco, graças ao encarecimento das operações de crédito, em conjunto com controle de custos e o desempenho da unidade de seguros explicam a resistência ao cenário adverso.

Felipe Marques e Daniela Machado

Os resultados do segundo trimestre do Bradesco mostraram que o banco foi capaz de resistir, pelo menos por ora, a uma combinação que em outros tempos poderia ser difícil para o balanço: retração da economia, desaceleração do crédito e piora dos índices de inadimplência. O segundo maior banco privado do país teve um lucro líquido de R$ 4,47 bilhões no trimestre, com avanço de 18,4% ante igual período de 2014.

A melhora da margem financeira do Bradesco, graças ao encarecimento das operações de crédito, em conjunto com controle de custos e o desempenho da unidade de seguros explicam a resistência ao cenário adverso. O retorno sobre patrimônio (ROE) da instituição foi de 20,9%.

Ainda assim, a deterioração na qualidade de crédito do banco - ainda que incipiente - acendeu sinal de alerta entre analistas que acompanharam os resultados. O banco encerrou o trimestre com um índice de inadimplência acima de 90 dias de 3,72%, ante 3,5% no mesmo período do ano passado e 3,58% nos três primeiros meses deste ano. Houve piora generalizada nos diferentes segmentos do banco, em especial nas micro, pequenas e médias empresas.

"A qualidade dos ativos, ainda que em níveis saudáveis de uma forma geral, foi um pouco mais fraca que nossas expectativas", escrevem os analistas do BTG Pactual, em relatório sobre os números do banco. Eles também chamam atenção para o fato de que indicadores antecedentes de inadimplência (os atrasos entre 15 a 90 dias), que costumam ser mais altos no começo do ano, voltaram a piorar no segundo trimestre. 

"A inadimplência dos consumidores começou a enfraquecer antes do esperado, e deve sofrer mais na medida em que o ciclo progride", afirma o Goldman Sachs, em relatório. Na pessoa física, os atrasos acima de 90 dias saíram de 4,8% no segundo trimestre do ano passado para 4,96% agora. Em março, o indicador estava em 4,83%. O Goldman também destaca o fato de a inadimplência pessoa jurídica do banco estar nos piores níveis desde 2009, e pode piorar mais, em especial nas empresas menores.

"Ainda que a margem financeira líquida deva manter os resultados de 2015 relativamente sólidos, 2016 está parecendo cada vez mais difícil", diz o Goldman.

Em teleconferência com jornalistas, o Bradesco mostrou - se otimista quanto a sua capacidade de manter os calotes sob controle. "A tendência é de uma razoável estabilidade [no índice de inadimplência] até o fim do ano. O perfil da carteira hoje é mais resistente", afirmou Luiz Carlos Angelotti, diretor gerente e de relações com investidores do banco.

Não só os calotes pioraram, como o avanço do crédito no banco arrefeceu. No acumulado de 12 meses encerrados em junho, o saldo da carteira expandida de crédito cresceu 6,5%, para R$ 463,4 bilhões. Ante o primeiro trimestre, porém, a carteira ficou estável.

As operações pessoa jurídica avançaram 6,6% no acumulado de 12 meses, a R$ 319,9 bilhões, mas caíram 0,4% ante março de 2015. Foram as grandes empresas que sustentaram tal crescimento ¬ em parte graças ao efeito cambial, uma vez que o crédito para pequenas e médias empresas encolheu. Já na pessoa física, o crescimento no acumulado anual foi de 6,2%, para R$ 143,5 bilhões, e de 1% na comparação com março. "Os produtos de crédito obedecem ciclos e estamos em um ciclo de menor demanda", disse o presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco Cappi.

Para compensar o crédito mais fraco, o Bradesco contou com um aumento nos spreads (a diferença entre o custo de captação e de empréstimo) e o desempenho de sua unidade de seguros, que registrou lucro líquido de R$ 1,285 bilhão no trimestre, avançando 19,8% sobre igual período de 2014.

A margem financeira de juros da instituição - que além dos ganhos dos empréstimos, inclui também seguros e tesouraria - somou R$ 13,4 bilhões no trimestre, com avanço de 17,8%. Tanto que o banco revisou para cima a expectativa que tinha de crescimento para este indicador no ano, prevendo um avanço entre 10% e 14%. A estimativa anterior era de uma alta entre 6% a 10%. (Colaborou Simone Cavalcanti) 

 

FONTE: VALOR ECONôMICO - PáG. C8