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30/05/2023

Lançamentos imobiliários caem para menor patamar desde 2016, diz Cbic (Valor Econômico)

Entre janeiro e março, 48,5 mil unidades residenciais foram lançadas no país, uma queda de 30,2% sobre o mesmo período de 2022

Entre janeiro e março, 48,5 mil unidades residenciais foram lançadas no país, uma queda de 30,2% sobre o mesmo período de 2022 e a menor quantidade desde a segunda metade de 2016, aponta pesquisa trimestral feita pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) com a consultoria Brain.

 

Em relação ao quarto trimestre de 2022, a queda é ainda maior, de 44,4%. Nos últimos 12 meses, 288,5 mil unidades foram lançadas, recuo de 14,2%. O levantamento reúne dados de 207 cidades.

 

As vendas de unidades novas também caíram no primeiro trimestre, mas em escala menor. Ao todo, foram vendidas 73 mil unidades novas no primeiro trimestre no país, queda de 9,2% ante um ano atrás. Na comparação com o quarto trimestre, o recuo é de 5,2%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, a venda soma 303,7 mil unidades, retração de 4,9%.

Enquanto isso, a oferta final, que representa as unidades novas que ainda não foram vendidas, recuou. Na comparação com o primeiro trimestre de 2022, a queda é de 6,4%. Ante o quarto trimestre, o recuo é de 8,2%. Em março, havia 273,3 mil unidades novas disponíveis para venda no país.

 

Para José Carlos Martins, presidente da entidade, isso mostra que o problema não está na falta de demanda pelos produtos, mas na baixa confiança dos empresários da construção em colocar novas unidades no mercado, em meio a juros altos no financiamento imobiliário e condições do Minha Casa, Minha Vida (MCMV) que não são consideradas satisfatórias.

A entidade espera que a reunião do conselho curador do FGTS, que deve ocorrer no próximo dia 20, traga novidades sobre a ampliação do teto de preço das unidades do programa e a atualização da curva de subsídios, os descontos dados de acordo com a renda do comprador.

 

“Se o movimento de queda de lançamentos continuar nos próximos trimestres, começa a preocupar, porque vai haver falta de produto e aumento de preço”, afirmou o economista Celso Petrucci, ligado à Cbic, em coletiva de imprensa sobre os dados.

Fabio Araújo, executivo-chefe da Brain, ressaltou que a queda de lançamentos só não foi maior porque o Sudeste teve recuo menor do que as demais regiões, de 22,7%. “Em especial, a cidade de São Paulo ajudou para que a queda não fosse ainda mais intensa”.

Minha Casa, Minha Vida aguarda mudanças

 

A queda de lançamentos foi ainda maior dentro do programa habitacional, um recuo de 41,8% ante o primeiro trimestre de 2022, para 48,5 mil unidades lançadas. Ante o quarto trimestre, a queda é de 48,9%.

As vendas tiveram queda mais substancial dentro do MCMV do que no geral do setor, com retração de 37,1%, para 74,1 mil unidades.

 

A oferta final somou 70,4 mil unidades, recuo de 38,4% sobre o início de 2022.

A proporção de unidades do MCMV entre as habitações novas vendidas no primeiro trimestre caiu de 50% no ano passado para 34%, o que indica oferta menor e dificuldade do consumidor para se encaixar na política. A representatividade do MCMV na oferta final de unidades novas também caiu, de 39% para 26% em um ano.

 

“O que vemos no MCMV é um represamento, as empresas estão aguardando, porque se tenho um projeto pronto, mas meu cliente pode ficar melhor enquadrado no futuro, não faz sentido lançar agora”, afirmou Araújo. O problema, prossegue, é que esse adiamento seria de poucos meses, mas tem se alongado enquanto mudanças demandadas no programa não são realizadas, o que impacta na oferta.

 

Martins exemplifica que há cidades do interior do país com teto de R$ 140 mil no programa, ao mesmo tempo que o governo já sinalizou que as unidades de faixa 1 do MCMV, financiadas com recursos da União, teriam teto de R$ 170 mil. “É evidente que está defasado”, disse.

 

Dúvidas sobre o FGTS

 

A Cbic sugeriu a criação de uma “faixa 4” temporária de imóveis, bancada com recursos do FGTS, com teto de 150% o valor mais alto do programa, para ajudar a aliviar a pressão sobre os recursos da caderneta de poupança, o principal funding do financiamento imobiliário tradicional.

O próprio FGTS, no entanto, é fonte de insegurança, por causa do julgamento no STF, agora paralisado, sobre o aumento da remuneração do fundo. O setor imobiliário destaca que algo assim poderia inviabilizar parte do MCMV, que utiliza os recursos do fundo.

“Acreditamos que o bom senso vai prevalecer”, disse Martins, para quem um aumento da remuneração seria tão ruim que não poderia acontecer.

 

O presidente da entidade também chamou a atenção para iniciativas de outros setores, como o automobilístico, que querem usar recursos do fundo, o que os tornaria ainda mais escassos e afetaria a geração de empregos do setor — segundo ele, cada casa construída gera 1,2 empregos. “Não é por causa de mil empregos em uma indústria que vão perder 50 mil na construção”, afirmou. 

FONTE: VALOR ECONôMICO