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10/10/2016

Itaú amplia vantagem na alta renda com Citi

O valor da transação embute um prêmio da ordem de 30%, considerando o capital alocado pelo banco, segundo uma fonte.

O Itaú Unibanco vai ampliar a vantagem sobre os concorrentes no segmento de clientes de alta renda com a compra dos negócios de varejo do Citibank no país. O maior banco privado brasileiro pagou R$ 710 milhões pela operação, que reúne um total de US$ 2,8 bilhões (R$ 9 bilhões) em ativos. O valor da transação embute um prêmio da ordem de 30%, considerando o capital alocado pelo banco, segundo uma fonte. Esse múltiplo sinaliza um preço relativamente baixo, já que se encontra abaixo dos patamares negociados pelo Itaú na bolsa.

O negócio não traz mudanças relevantes no xadrez da concorrência bancária no país, mas o interesse do Itaú revela a importância do segmento de alta renda, do qual faz parte a maioria dos clientes do Citi. Ao mesmo tempo, impede o avanço do Santander, apontado no início do processo como o favorito para ficar com a operação.

Até obter a exclusividade para negociar a compra, em setembro, o Itaú Unibanco vinha atuando com discrição e sinalizava um apetite limitado pelo negócio. O bom relacionamento com o vendedor ajudou o banco nas negociações. Os dois já foram sócios na credenciadora de cartões Redecard (atual Rede) e na Credicard - ambas acabaram vendidas para o Itaú.

O Citi conta hoje com 71 agências e 315 mil correntistas no país, além de 1,1 milhão de cartões de crédito. O Itaú enxergou nessa base uma penetração ainda baixa dos serviços digitais e pretende ampliar a oferta por meio desses canais, que possuem uma margem melhor do que o atendimento pelos meios tradicionais, segundo um interlocutor.

Parte da base do Citi vai reforçar o Personnalité, segmento que reúne correntistas com renda mínima de R$ 10 mil ou investimentos acima de R$ 100 mil. O Itaú contava com 955 mil clientes nesse segmento no fim de junho, alta de 8,5% em relação ao mesmo período de 2015.

O número efetivo de novos correntistas que o banco ganhará com a aquisição, contudo, será menor, já que boa parcela possui conta em outras instituições, inclusive no próprio Itaú. No mercado, chegou-se a comentar que o nível de sobreposição entre os dois bancos seria da ordem de 70%. O banco trabalha internamente com um índice menor, mas esse número só será conhecido em detalhes após a aprovação do negócio pelo Banco Central e pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Além da alta renda, a compra consolida a liderança do Itaú no mercado de cartões. Essa deve ser a área sobre a qual os reguladores mais devem se debruçar na hora de avaliar as consequências do negócio para a concorrência. O Citi possui uma participação da ordem de 2% em cartões de crédito, o que deve elevar a presença do Itaú para pouco mais de 35%, segundo uma fonte. Considerando também as transações no débito, a participação combinada deve ficar em cerca de 30%.

O Itaú também absorverá R$ 35 bilhões entre depósitos e ativos sob gestão e uma carteira de crédito de R$ 6 bilhões do banco americano, além dos negócios de corretagem de seguros. O pacote inclui ainda a participação de 5,64% que o Citi detém na Tecban, responsável pela rede Banco 24 Horas, de caixas eletrônicos, e de 3,60% da securitizadora Cibrasec.

O banco comandado por Roberto Setubal tem aproveitado a relativa folga de capital em um cenário de baixa demanda por crédito para ir às compras. A aquisição do Citi foi a terceira anunciada em menos de um ano. Na semana passada, o Itaú anunciou a compra da participação do BMG na joint-venture que os dois bancos possuem na concessão de crédito consignado, por R$ 1,28 bilhão. No começo do ano, a instituição adquiriu a empresa de recuperação de crédito Recovery, que pertencia ao BTG Pactual.

A compra do Citi terá um efeito de 0,4 ponto percentual no índice de capital principal do Itaú, que encerrou o segundo trimestre em 14,9%. O indicador determina o quanto um banco pode emprestar em relação a seu patrimônio. Até 2019, os grandes bancos deverão contar com índice mínimo que pode chegar a 10,5%.

FONTE: VALOR ECONôMICO