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02/07/2020

Isolamento muda desejos na compra e no aluguel: preferência por casas e apartamentos maiores

Com a temporada forçada em casa, o comportamento mudou tanto nas compras quanto nos aluguéis. As imobiliárias estão percebendo novas demandas e construtoras já começam a fazer projetos baseados na nova realidade criada pela pandemia do coronavírus

O levantamento feito pela DataZAP, braço de inteligência imobiliária do Grupo ZAP, sobre o mercado imobiliário e os efeitos do coronavírus no setor, revela que, por causa da pandemia, morar em uma casa ao invés de um apartamento passou a ser considerado como importante ou muito importante para 44% dos consumidores que desejam comprar um imóvel e para 32% dos que desejam alugar. O estudo foi realizado com 3.469 entrevistados.

Já uma pesquisa feita pela Loft, startup que compra, reforma e vende imóveis, mostrou que 45% dos clientes acreditam que o período de isolamento social desperta o interesse por apartamentos maiores. E 70% desejam uma área reservada para o trabalho remoto.

— Mudou a maneira que as pessoas estão se relacionando com suas casas. A pesquisa mostrou também que as pessoas estão usando mais a cozinha(46%), superando o uso de serviços de entrega (22%) — salienta João Vianna, co-fundador da Loft.

Na Apsa, tal movimento começou a ser sentido há poucas semanas. De acordo com Giovani Oliveira, gerente geral de imóveis da empresa, os clientes antes buscavam um imóvel pequeno para compra, mas não abriam mão de áreas comuns de lazer cheias de atrativos. Com a pandemia, esse perfil mudou: agora, o objeto de desejo é um apartamento com cômodos maiores, e os espaços de uso partilhado deixaram de ser uma prioridade.

— Depois de três meses de isolamento, está havendo a valorização de plantas maiores e que tenham espaço para home office. As pessoas se deram conta que não podem mais contar com as áreas comuns como extensões dos seus apartamentos. O lazer e o trabalho dentro de casa são cada vez mais uma realidade e o espaço interno precisa possibilitar muitas vezes um home office simultâneo de, pelo menos duas pessoas, sem falar nas aulas virtuais se a família tiver crianças, adolescentes ou jovens — analisa Oliveira.

Já Marcel Galper, gerente de Vendas da Precisão Vendas, vem observando um crescimento na procura por imóveis com boas áreas comuns (como sala de estar e de TV), em função de as famílias ficarem reunidas por mais tempo dentro de casa.

— Tenho notado também uma procura maior por apartamentos de cobertura que tenham áreas livres.

Projetos com mais espaços ao ar livre

Entrou em vigor no ano passado o novo Código de Obras do Rio, que autoriza apartamentos a partir de 25m². Era uma exigência do mercado imobiliário para poder construir imóveis cada vez menores, “adaptados à realidade das novas famílias”. Com a pandemia, esta visão mudou.

— Nesses últimos anos, as pessoas procuraram imóveis menores com áreas de lazer amplas e com tudo de infraestrutura para que não precisassem sair do condomínio para nada. Então, as construtoras partiram para esse tipo de apartamento compacto com total infraestrutura e segurança. Ninguém esperava que, um dia, as áreas comuns dos condomínios seriam interditadas... Depois desse susto, a procura por casas e coberturas aumentou bastante. Essa tendência vale tanto para compra quanto para locação— explica André Moreira, diretor da Martinelli Imóveis.

No mercado de Minha Casa Minha vida, o coronavírus já modificou projetos. No empreendimento Vitale Eco, da construtora Vitale, que tem apartamentos e casas, o número de unidades foi reduzido: no projeto original eram 444, e agora são 406. A empresa priorizou também os apartamentos tipo “garden”, com área aberta e vaga exclusiva.

Segundo o diretor da empresa Eduardo Paiva, 90% dos equipamentos de lazer serão ao ar livre.

— Temos um terreno de 30 mil metros quadrados e, por conta da pandemia, decidimos investir em itens que priorizam o lazer externo e o contato com a natureza. Teremos espaços para piquenique, quadras com areia para funcional — explica ele.

Segundo Paiva, projetos como este só são possíveis em bairros com disponibilidade de terrenos grandes como Vargem Grande, Guarativa e Campo Grande. Na Zona Norte, a tendência é que essas áreas de lazer fiquem na cobertura do prédio, também ao ar livre.

Paiva, porém, não crê no aumento da metragem dos imóveis do mercado de moradias populares.

— Para este segmento, a conta não fecha. Se aumentar o tamanho, aumenta o custo e, consequentemente, o valor de venda -— explica.

FONTE: EXTRA