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30/06/2017

Investidor de varejo migra recursos para aplicações mais conservadoras

A novidade recente é o aporte na tradicional caderneta, que após um primeiro quadrimestre de resgates, registra saldo positivo em maio e neste mês até 23, da ordem de R$ 3,2 bilhões.

Diante das incertezas políticas e econômicas, os investidores de varejo estão migrando seus recursos de aplicações mais arriscadas para outras mais conservadoras, e até para a caderneta de poupança.

Dados do Banco Central, do Tesouro Nacional e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Brasileiro e de Capitais (Anbima) mostram que as pessoas físicas registraram aportes líquidos de mais de R$ 41 bilhões neste ano em investimentos de perfil conservador como: fundos de renda fixa de duração baixa (curto prazo) e risco soberano; títulos do Tesouro Direto e poupança.

A novidade recente é o aporte na tradicional caderneta, que após um primeiro quadrimestre de resgates, registra saldo positivo em maio e neste mês até 23, da ordem de R$ 3,2 bilhões.

"Se o mercado está bastante perdido com a crise política, imagine a pessoa física. Houve uma migração para algo mais conservador, e a poupança é considerada um porto seguro", identificou o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Valdir Domeneghetti.

O professor aponta alguns fatores dessa migração para renda fixa conservadora como a perda momentânea vista em alguns fundos multimercados em maio por causa dos efeitos da delação da JBS e o receio de agravamento da crise econômica devido ao atraso nas reformas trabalhista e da Previdência Social. "Com certeza, as pessoas também economizaram uma parte do FGTS [das contas inativas] na poupança", argumentou.

Na visão do especialista em investimento do Banco Ourinvest e fundador da Academia do Dinheiro, Mauro Calil, a decisão de poupar é fruto da atual situação de incerteza. "Mesmo que a pessoa tenha conseguido um trabalho, ganha a metade do que recebia antes [da crise]. Ela mantém o consumo mínimo, negocia um aluguel menor e tenta poupar", argumenta o especialista.

Além dos aportes recentes em poupança, o relatório consolidado de fundos da Anbima por tipo de investidor mostra que até o final de maio, o público de varejo alta renda registrava aportes líquidos [diferença entre entrada e resgate] de R$ 24,27 bilhões em fundos de renda fixa, enquanto o varejo de menor renda mostrava aportes de R$ 11,55 bilhões.

Esse volume expressivo em renda fixa se contrapõe com uma exposição bem menor em multimercados, carteiras que receberam R$ 2,26 bilhões de aportes do varejo, e R$ 4,3 bilhões do varejo alta renda.

Enquanto o varejo ficou mais conservador, o segmento de private banking (milionários) buscou maior risco. Por causa da queda dos juros básicos (Selic), os afortunados aportaram mais recursos em carteiras multimercados, que exibiram uma entrada positiva de R$ 23,6 bilhões até o final de maio, dedicando uma fatia de R$ 9,4 bilhões aos fundos de renda fixa em igual período.

"Olhando para o futuro próximo, a indústria de fundos vai ganhar [mais investimentos]. A queda da Selic favorece outro tipo de produto como multimercados, debêntures e fundos imobiliários. O investidor médio [de varejo] precisa verificar se aquele determinado gestor consegue entregar resultados, depende da habilidade de cada gestor", aponta o especialista Mauro Calil.

Ao mesmo tempo, ele avisa que a aplicação em papéis incentivados como letras de crédito imobiliário (LCIs), do agronegócio (LCAs) e certificados de depósito bancário (CDBs) vão se manter. "LCIs e LCAs não vão perder espaço."

Tesouro Selic x Poupança - Na avaliação do especialista em investimentos da Easynvest, Alexander Shukowsky, a aplicação em títulos públicos indexados à Selic pela internet via Tesouro Direto ainda garante remuneração acima da caderneta de poupança. "O Tesouro Selic ainda tem um bom espaço no mercado. Nos prefixados, as taxas de juros nominais estão menores", disse.

Shukowsky indica o Tesouro Selic para a formação de uma reserva financeira de emergência ou mesmo para quem pretende economizar para as férias. "O Tesouro Selic é o mais seguro", afirma o especialista.

Quanto à competitividade com a caderneta de poupança, Mauro Calil orienta o investidor a comparar custos com a tributação sobre ganhos de capital (IR) e com as taxas cobradas por bancos e corretoras.

"A taxa de custódia (0,30% ao ano cobrada pela B3) é para todos. Num banco de varejo, a taxa de administração é maior (em média 0,50% ao ano), mas algumas corretoras possuem tarifa menor ou isentam", diz.

Na prática, que aplica no Tesouro Selic para o curtíssimo prazo, exemplo, menos de seis meses, paga uma alíquota de 22,5% de IR sobre os ganhos. Se descontado essa tributação e os custos de administração, a rentabilidade do Tesouro Selic que atualmente rende 10,25% ao ano recua para bem próximo do ganho líquido da poupança. A caderneta rende 6% ao ano mais a taxa referencial (TR) e tem rendimento mensal. "O Tesouro Selic tem ganho diário", lembra Calil.

A poupança na regra vigente (6% mais TR) rendeu 7,81% em 12 meses até junho. Mas renderá 70% da Selic se a taxa básica cair a 8,5% ao ano. O título Selic resgatado em menos de seis meses, mostra ganho líquido de 7,14% a 7,64%.  

FONTE: DCI