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28/07/2015

Incertezas marcam segundo semestre das incorporadoras

No segundo trimestre, a queda foi de 12,4% na comparação anual, para R$ 3,15 bilhões. Este será o quarto ano consecutivo de retração do setor.

Chiara Quintão 

O mercado está dividido em relação às expectativas de como será o desempenho do mercado imobiliário neste semestre. Se, por um lado, a segunda metade do ano costuma ser, sazonalmente, melhor para o setor em lançamentos e vendas, por outro, as restrições de crédito imobiliário, acirradas em maio, vão afetar todo o período se a postura dos bancos for mantida e não houver nova liberação de recursos do compulsório pelo governo.

Juntas, Cyrela, Direcional, Even, EZTec, Gafisa, Helbor, MRV e Rodobens Negócios Imobiliários lançaram, no primeiro semestre, R$ 4,87 bilhões, redução de 37% ante os seis primeiros meses de 2014. O cálculo considera somente a fatia própria das empresas nos lançamentos. No segundo trimestre, a queda foi de 12,4% na comparação anual, para R$ 3,15 bilhões. Este será o quarto ano consecutivo de retração do setor.

Cada vez mais, o foco das incorporadoras tem sido acelerar a venda de estoques, até porque o volume de unidades que retorna às respectivas carteiras continua elevado, por conta dos distratos, que começaram a apresentar tendência de alta há três anos. Os cancelamentos de vendas continuam pressionadas pela entrega de empreendimentos das safras anteriores a 2011 e são estimulados também pela menor confiança do consumidor, pela piora dos indicadores de emprego e renda e pelo crédito restrito.

Os descontos na comercialização de imóveis prontos e em via de serem concluídos continuam a todo vapor, seja por meio de campanhas formais ou do que o setor costuma chamar de negociações caso a caso. Algumas vezes, os descontos não ocorrem diretamente, mas por meio de benefícios ao comprador, por exemplo, quando incorporadora paga um ano de supermercado para o comprador da unidade.

Outra medida tomada pelas empresas para incentivar a venda de imóveis é o financiamento direto ao comprador. Cyrela, PDG Realty, JHSF, Helbor, EZTec e Trisul oferecem a modalidade, ainda que, em alguns casos, por um período pré-determinado ou para um segmento específico. Trata-se de mais uma possibilidade de aceitação do crédito do cliente, ainda que a taxas de juros superiores às dos bancos.

Lançar somente produtos cuja sinalização de mercado seja que haverá boa absorção tem sido a estratégia adotada pelas incorporadoras nesse cenário de excesso de oferta e, para parte delas, de necessidade de gerar caixa e reduzir dívidas. A restrição de oferta de novos empreendimentos é uma tentativa das incorporadoras também de evitar reduções mais acentuadas de preços dos imóveis, além das que ocorrem pelos descontos.

No mercado, há quem espere quedas nominais de valores neste semestre tanto em imóveis novos quanto de usados e há quem considere que os ajustes vão se concentrar mais na redução da oferta de unidades, diante da menor liquidez atual.

No início de junho, o Secovi-SP, o Sindicato da Habitação, revisou para baixo as projeções de lançamentos e vendas de imóveis residenciais para a cidade de São Paulo - maior mercado imobiliário do país - em 2015. Na ocasião, o Secovi-SP divulgou que os lançamentos terão queda de 23% a 25% ante o ano passado, para a faixa de 25,5 mil a 26,2 mil unidades e que as vendas cairão entre 15% e 20%, para o patamar de 17,3 mil a 18,4 mil unidades.

As estimativas do Secovi-SP para o ano estão mantidas, segundo o presidente da entidade, Claudio Bernardes. Para ele, diante das incertezas resultantes das crises política e econômica "é difícil até revisar" as projeções. Na avaliação de Bernardes, é preciso estimular que empresários busquem alternativas no cenário atual, apostando, por exemplo, em produtos que caibam no bolso do consumidor.

Por enquanto, o segmento menos afetado pelas mudanças na economia é o de imóveis para baixa renda. Não houve mudanças na liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que financia as faixas 2 e 3 do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. A MRV, que tem a maioria dos produtos nessas duas faixas, lançou R$ 2,03 bilhão no primeiro semestre, 8% abaixo do mesmo período do ano passado. No segundo trimestre, a MRV lançou R$ 1,09 bilhão, 3,9% acima do intervalo de abril a junho de 2014.

A Tenda, divisão de baixa renda Gafisa, lançou R$ 467,72 milhões no semestre e R$ 229,37 milhões no segundo trimestre, com expansões de 66,8% e 131,7% ante os respectivos períodos do ano passado.   

 

FONTE: VALOR ECONôMICO – PáG. B3