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28/07/2015

Construção dá sinais de perder força nos EUA

A economia dos EUA mal acabou de ganhar força a partir do setor habitacional pela primeira vez desde o início, em 2007, da Grande Recessão. Se as vendas de unidades habitacionais desacelerarem, essa força vai esmaecer.

Josh Boak | Associated Press

O mercado de imóveis residenciais dos EUA alcançou altas temperaturas neste terceiro trimestre. Isso elevou as expectativas de que as vendas de casas finalmente contribuirão para impulsionar a expansão da economia do país, que completa agora seu sétimo ano. Será que vão contribuir mesmo?

Surgem sinais de que o impulso do setor habitacional pode ratear nos próximos meses. Analistas observam que parece faltar parte dos alicerces fundamentais necessários para sustentar um ritmo acelerado no longo prazo.

A economia dos EUA mal acabou de ganhar força a partir do setor habitacional pela primeira vez desde o início, em 2007, da Grande Recessão. Se as vendas de unidades habitacionais desacelerarem, essa força vai esmaecer.

O principal problema é também o mais singelo: simplesmente não há oferta suficiente. A solidez da demanda não conseguiu atrair muitos vendedores para o mercado. E poucos do setor preveem uma enxurrada de anúncios de casas à venda para breve.

Pressões de outra natureza também tendem a desacelerar as vendas. O crescimento persistente dos preços pode tornar a compra da casa própria inalcançável para algumas pessoas. E o pior é que as construtoras se concentram cada vez mais em levantar apartamentos do que casas unifamiliares.

Há também o problema das taxas de juros do crédito imobiliário, que subiram em relação às recentes baixas recordes e tornaram mais difícil a alguns aspirantes ter condições financeiras de realizar uma aquisição. Alguns compradores estão se apressando para concluir contratos, por medo de que as taxas continuem subindo - tendência que pode deprimir a demanda nos próximos meses.

No início do segundo trimestre, os compradores voltaram a ingressar no mercado. As taxas de juros estavam apenas um pouco superiores ao recorde de baixa de 2012, e quase dois anos de sólida expansão do emprego tinham gerado milhões de novos contracheques.

As vendas de imóveis usados dispararam 9,6% nos últimos doze meses, segundo a Associação Nacional de Corretores de Imóveis americana. Em junho, elas alcançaram uma taxa anual de 5,49 milhões de unidades, ritmo só visto antes da recessão. E as vendas deram um salto de 21% no primeiro semestre de 2015.

Mas uma tendência pouco habitual passou a operar: o aumento das vendas ainda não motivou muitas pessoas a pôr suas unidades no mercado. Os classificados de imóveis usados quase não aumentaram no último ano. E o ritmo de construção de casas continua inferior ao observado nas expansões econômicas anteriores.

Com a demanda superando a oferta, a mediana dos preços de venda nacionais de casas alcançou em junho US$ 236,4 mil, a maior já registrada. Para muitos aspirantes a um imóvel, essa elevação dos preços seria administrável se os juros permanecessem ultrabaixos. Em junho, a média da taxa de crédito imobiliário de 30 anos era de 3,8%. Desde então, ela ultrapassou os 4%, diante da possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) elevar a taxa básica de juros a partir de seu nível de quase zero.

Embora apenas modesta, a alta das taxas do crédito imobiliário está tendo um efeito desestimulante, segundo um índice da corretora imobiliária nacional Redfin. A empresa prevê a desaceleração do crescimento das vendas e dos preços, uma vez que os compradores buscam imóveis mais baratos.

Em alguns mercados relevantes, os preços começaram a estagnar, diante do aparente recuo dos compradores. A maioria das unidades habitacionais de Chicago, Phoenix, Los Angeles, Nova York e Washington perdeu valor ou basicamente permaneceu inalterada durante o mês de maio, segundo a Weiss Residential Research.

A análise da Weiss aponta para um fator que contribui para a escassez da oferta de imóveis residenciais: muitos proprietários de casas não conseguem encontrar imóveis para comprar, e, por isso, não podem pôr os seus à venda.

Além disso, muitos americanos continuam pressionados por aumentos salariais medíocres, e optaram por continuar no aluguel. E outros que efetivamente querem comprar estão paralisados pelo estoque limitado de imóveis para escolher, e decidiram esperar, disse Tony Smith, corretor de imóveis de Charlotte, na Carolina do Norte.

"Os compradores estão saindo do mercado porque não têm o que comprar", disse Smith. "Alguns deles ficam frustrados e assinam um novo contrato de aluguel." 

 

FONTE: VALOR ECONôMICO – PáG. A9