Notícias

03/05/2017

Impulso no crédito imobiliário só em 2018

Para o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), George Sales, mesmo que a Selic (taxa básica de juros) recue para 9% ao ano ou 8,5% ao ano até o final de 2017 como espera o mercado financeiro

Um possível impulso nos financiamentos imobiliários só ocorrerá em 2018. O segmento mostra atualmente um elevado estoque de imóveis prontos, problemas com distratos de pessoas físicas e maior inadimplência de pessoas jurídicas junto aos bancos.

Segundo especialistas nesse mercado, consultados pelo DCI, o crescimento de 6,5% do saldo de financiamento imobiliário com recursos direcionados em 12 meses para R$ 542,148 bilhões até março último é pouco motivador diante das dificuldades em toda a cadeia da construção civil de residências.

"O desemprego é o principal fator relacionado a devolução dos imóveis na planta (distratos) e isso afeta os novos empreendimentos", avalia o consultor Luiz Antônio França, ex-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Diante dessa realidade, França só projeta uma retomada do crédito imobiliário quando a economia brasileira estiver crescendo de forma mais sustentável, o emprego ficar mais estável e as taxas de juros aos tomadores de empréstimos ficarem abaixo do patamar de um dígito ao ano.

Para o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), George Sales, mesmo que a Selic (taxa básica de juros) recue para 9% ao ano ou 8,5% ao ano até o final de 2017 como espera o mercado financeiro, talvez não seja suficiente para animar as pessoas físicas na tomada de financiamento imobiliário. "A taxa real de juros, descontada a inflação, ainda está muito alta", argumentou George Sales.

O professor lembrou que tanto as construtoras como os bancos estão com elevados estoques de imóveis prontos. "Os bancos estão com R$ 10 bilhões em imóveis retomados pela alienação fiduciária. Vai se demorar um bom tempo até esse estoque ir a leilão", disse o professor da Fipecafi ao citar dados do Banco Central (BC) sobre o sistema financeiro.

Números do BC - O último boletim de crédito do Banco Central, divulgado na semana passada, mostrou que a concessão de financiamento imobiliário com recursos direcionados para pessoas jurídicas (empresas) caiu 51% para R$ 1,058 bilhão em março de 2017, ante R$ 2,157 bilhões em março do ano passado.

Nesse segmento, a inadimplência das pessoas jurídicas (PJs) aumentou 1,4 ponto percentual em 12 meses, de 1,1% em março do ano passado para 2,5% em março de 2017. Ao passo que os juros com taxas de mercado para PJs recuaram de 13,7% para 12% ao ano, e os juros com taxas reguladas baixaram de 12,2% para 11,5% na mesma base de comparação.

Nos financiamentos para pessoas físicas, a inadimplência caiu de 2,1% em março de 2016 para 1,8% em março de 2017. Ao mesmo tempo, os juros com taxas de mercado desceram de 15,3% para 14,5% ao ano; e os juros com taxas reguladas caíram de 10% para 9,1% ao ano. "As pessoas físicas fazem o possível para manter o pagamento da casa própria em dia, até porque - com a alienação fiduciária - a retomada do imóvel pelo banco em casos de atrasos prolongados pode ocorrer em seis meses", contou George Sales, da Fipecafi.

Sobre o cenário para o crédito imobiliário em 2018, o coordenador do curso de finanças e diretor da Alumni Coppead, Raphael Mose Roquete, ponderou que as pessoas físicas estão muito receosas por causa do desemprego em entrar em financiamentos imobiliários de longo prazo.

"Também não se tem certeza de que a taxa de juros (a Selic) vai chegar a um dígito e que a economia se reaqueça, há muitas incertezas no cenário para 2018", alerta Roquete.

Por outro lado, ele aponta que se a taxa Selic cair para um patamar bem mais baixo, a caderneta de poupança pode ganhar atratividade para os investidores e gerar crédito mais barato para o financiamento imobiliário. "A poupança tende a ficar bem mais atrativa com a queda dos juros e produzir funding [recursos] para o setor", aponta o coordenador.

Na visão do consultor Luiz Antônio França, o setor imobiliário "não deve depender" totalmente da poupança para encontrar taxas adequadas. "O mercado já endereçou a questão do desenvolvimento de outras fontes de captação como a letra imobiliária garantida (LIG)", destacou França.

Segundo a Abecip, o volume de empréstimos com recursos da poupança para aquisição e construção de imóveis somou R$ 4,01 bilhões em março, crescimento de 36% no mês, mas 9,2% abaixo em relação ao o mesmo mês de 2016. No primeiro trimestre de 2017, os financiamentos imobiliários somaram R$ 10,06 bilhões, queda de 7,8% ao registrado em igual período de 2016.

 

FONTE: DCI