Felipe Marques e Chiara Quintão
Não é só nos imóveis novos que o número de compradores desistentes tem se avolumado. Recém-divorciado, o paulista Amauri Domingues Gimenes vendeu, no fim de 2014, o imóvel que dividia com a então esposa e saiu em busca de um novo. O dinheiro que conseguiu na venda, o professor do Senai aplicou na Caixa Econômica Federal, seduzido pela promessa de que teria melhores condições quando chegasse a hora de financiar seu novo lar. Foi só em maio, porém, que Gimenes encontrou um imóvel que lhe agradasse. Aí, infelizmente, era tarde demais.
"O banco me disse que só financiaria 50% do imóvel. A taxa de juros, que em janeiro era de 7,9% ao ano, agora está em 11,9%. Não dava mais para fazer nessas condições", conta o professor, de 46 anos. O jeito foi encontrar um imóvel de valor um pouco menor, para ajudar a parcela do crédito a caber no bolso. Gimenes também contratou um correspondente imobiliário, na esperança de que ele o ajude a conseguir aprovar crédito em outro banco. "A vontade é bater a cabeça na parede por não ter feito isso em janeiro."
Gimenes, assim como milhões de outros brasileiros, sofreu as consequências das mudanças que a Caixa fez, a partir de maio, no financiamento de imóveis usados com recursos da poupança. O banco público passou a financiar um limite de 50% do valor do imóvel em usados e fez mais um reajuste de taxas de juros naquele mês. Resultado: o crédito encolheu.
"O cenário mudou e quem dita as regras hoje é o comprador do imóvel, não mais o vendedor como estava acontecendo até este ano", diz Igor Freire, diretor de vendas da Lello Imóveis. A imobiliária tem sentido reduções, em média, entre 5% a 10% nos preços fixados pelos vendedores nos últimos meses.
Segundo Freire, as vendas financiadas da imobiliária caíram de cerca de 65% do total no primeiro trimestre, para 40% no segundo. "Quem conta com alguma reserva financeira está aproveitando o momento para comprar à vista", conta. A imobiliária costuma atuar na faixa de imóveis de valor acima de R$ 600 mil. "Houve uma readequação do comportamento dos vendedores depois da mudança no cenário de crédito."
A maior dificuldade na venda de imóveis usados, graças ao aumento da restrição no crédito, somada à alta dos distratos nas unidades novas têm pressionado para baixo os preços de residências. Esse, porém, não é um efeito imediato. Embora as incorporadoras e os vendedores de imóveis usados ofereçam descontos na comercialização de unidades, a redução efetiva nos preços médios deve ser sentida, gradativamente, à medida que o ritmo de vendas cai, de acordo com uma fonte do setor.