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23/08/2019

Empresa quer aproveitar retomada econômica

A negociação da Queiroz Galvão com os credores buscou uma solução para a empresa com as condições que ela vive hoje, apurou o Valor

A negociação da Queiroz Galvão com os credores buscou uma solução para a empresa com as condições que ela vive hoje, apurou o Valor. Se o grupo não conseguir nenhum novo projeto, ou zero incremento de receita, espera-se que tenha capacidade de fazer os pagamentos.

Mas se a economia reaquecer e impulsionar - principalmente - os negócios da construtora e de desenvolvimento imobiliários, a argumentação da empresa nas conversas com os credores é de que a valorização dos negócios permitirá o pagamento da dívida antes dos 18 anos previstos. Sem o peso de estar renegociando uma dívida bilionária, a Queiroz espera se livrar dos questionamentos, a cada novo projeto que busca, sobre qual é sua saúde financeira. A empresa precisa vencer ainda os abalos à equipe causados pela Lava-Jato e pelos anos difíceis, que a reduziram pela metade - a receita esperada para este ano é de R$ 5 bilhões. Os empregados somam perto de 22 mil - antes das dificuldades e com obras a todo vapor, esse número era de 40 mil pessoas.

Hoje a construtora trabalha para ampliar sua participação em projetos privados, mas ainda de olho no cenário de déficit de infraestrutura do país que levará, cedo ou tarde, à retomada de um maior número de obras. Quando isso acontecer, o que faz sentido para os credores é pensar que em vez de existirem seis ou sete grandes empresas bem posicionadas para esses projetos, agora serão apenas duas ou três. Mesmo com a Lava Jato, a empreiteira não deixou de trabalhar com projetos públicos. Atualmente está na duplicação da Rodovia dos Tamoios, em São Paulo; na construção da Ponte do Guaíba, em Porto Alegre; e na Bioceânica do Paraguai.

Na área de desenvolvimento imobiliário, o grupo reestruturou R$ 500 milhões. O novo desenho incluiu um mecanismo conhecido como "cash sweep", que determina que qualquer sobra de lucro do negócio deve ser utilizado para pagar a dívida. Além disso, está escrito que os bancos que participaram da renegociação têm incentivos para financiarem novos investimentos a médio e longo prazos, dependendo da demanda por novos lançamentos. O banco que oferecer as linhas terá vantagem sobre o retorno do empreendimento.

Mais ou menos R$ 1 bilhão do endividamento do grupo está em duas empresas que a Queiroz mantém em sociedade. Uma delas, é o estaleiro EAS, parceria com a Camargo Corrêa, que tem financiamento de R$ 1 bilhão com o BNDES. A linha tem aval meio a meio de cada sócio. A Queiroz renegociou sua parte da dívida e colocou no papel um cenário em que a empresa não tenha mais nenhuma nova encomenda. A indústria naval do país segue em crise, pois tinha um único grande comprador, a Petrobras. A EAS tem discutido com armadores internacionais novos contratos, mas a avaliação é que eles são de fechamento difícil, de acordo com fontes. Mas ela poderá ter outras oportunidades, como serviços de manutenção.

A outra sociedade é na Move São Paulo, parceria público privada (PPP) para implantação da Linha 6 laranja do Metrô de São Paulo. A construção está interrompida desde 2016 pela dificuldade da concessionária, que tem a participação de Odebrecht e UTC, de obter financiamento para o projeto, por conta das revelações da Lava Jato. A dívida reestruturada nesse caso também é de R$ 500 milhões. No momento, o governo de São Paulo tem trabalhado para buscar uma solução para retomar a obra.

 

FONTE: VALOR ECONôMICO