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19/07/2015

Crédito ofertado por incorporador mira público de médio e alto padrão

Uma simulação feita a pedido da Folha ao Canal do Crédito – site de comparação de produtos financeiros– mostra que um imóvel financiado por 12,5 anos ficaria até R$ 40 mil mais caro direto com a incorporadora do que se fosse feito pela Caixa (veja abaixo), sem considerar a correção das parcelas.

O crédito direto com a incorporadora ainda é mais popular entre compradores de médio e alto poder aquisitivo –isso porque os prazos das prestações são menores do que no banco, exigindo maior capacidade de pagamento.

Na Eztec, por exemplo, o financiamento é de até 80% do valor do imóvel, no prazo de 150 meses, e com taxas de 9,99% ao ano mais inflação pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).

Uma simulação feita a pedido da Folha ao Canal do Crédito – site de comparação de produtos financeiros– mostra que um imóvel financiado por 12,5 anos ficaria até R$ 40 mil mais caro direto com a incorporadora do que se fosse feito pela Caixa (veja abaixo), sem considerar a correção das parcelas.

O acumulado do IPCA (usado no cálculo da incorporadora) de janeiro a junho foi de 6,17%, enquanto o acumulado da TR, utilizada no cálculo da Caixa, no mesmo período foi de 0,64%.

"O financiamento com o banco também inclui nas prestações seguros por morte ou invalidez e de danos ao imóvel. No crédito direto, é importante verificar se essas proteções ao mutuário foram consideradas", diz Marcelo Prata, do Canal do Crédito.

Mais flexível - A maior flexibilidade de negociação é a principal vantagem em relação ao banco, segundo analistas. Como as incorporadoras são menos rigorosas para conceder o benefício, financiar direto com elas é uma saída para quem quer um financiamento mais rápido ou tem dificuldade em comprovar renda.

Os produtores de eventos Rodrigo, 32, e Elisa Vasconcellos, 31, foram a um estande da Cyrela, na região central de São Paulo, atrás de informações sobre o financiamento direto – modalidade que a empresa voltou a oferecer desde o último dia 1º.

"Como não temos emprego fixo, é quase impossível financiar pela Caixa. Poderíamos nos programar para pagar parcelas maiores quando nos entregarem as chaves e chegar a hora de financiar com a construtora", diz ele.

Renata Reis, supervisora de Assuntos Financeiros do Procon-SP, lembra que, apesar da menor burocracia, o ideal é que o consumidor exija simulações do financiamento e busque um advogado especializado em imóveis antes de fechar negócio.

"O mercado para as construtoras deve continuar difícil neste ano, com muitos imóveis em estoque. Poucas empresas, como a Eztec e a Cyrela, têm recursos para oferecer crédito ao consumidor", diz Daniela Martins, da Concórdia Seguros.

Comprador desiste mais de imóvel ao receber chaves - O aumento do valor das prestações quando o imóvel é entregue e o consumidor passa a pagar os juros do financiamento bancário foi o motivo alegado por 35% dos clientes que cancelaram a compra de janeiro a maio, segundo a Amspa (Associação dos Mutuários de São Paulo).

O radialista Flávio Atorre, 62, desistiu de um imóvel na Barra Funda (zona oeste) em junho. Ele ficou desempregado em 2013 e, temendo não conseguir ter o financiamento aprovado ao receber as chaves, distratou a compra.

"Abri uma loja de motos, mas o banco não autorizaria o financiamento, por não ter emprego fixo. Agora brigo na Justiça para receber o que paguei."

Samy Dana, economista da FGV e colunista da Folha, lembra que o consumidor deve se programar para assumir uma dívida longa. "Essa decisão deve ser bem pensada, sobretudo no cenário atual de crédito mais restrito."

O crédito bancário para comprar imóveis usados também caiu. A fatia desse produto nas vendas em São Paulo passou de 57%, em abril, para 49% em maio, segundo o Creci-SP, sindicato de corretores. 

 

FONTE: FOLHA DE S. PAULO