Felipe Marques
As medidas de estímulo ao crédito imobiliário adotadas pelo governo no fim de maio provocaram uma reação na modalidade, em especial por parte da Caixa Econômica Federal, porém o volume de recursos liberados segue muito abaixo do que era desembolsado no ano passado. A demanda mais fraca para compra de imóveis e a continuidade dos saques da caderneta de poupança limitaram a reação do crédito, afirmam executivos de bancos ouvidos pelo Valor.
O volume liberado de crédito para aquisição de imóveis em junho foi de R$ 4,057 bilhões, com um crescimento de 15,7% na comparação com maio, porém com uma queda de 36,8% na comparação com o mesmo período do ano passado. Só a Caixa respondeu por R$ 1,18 bilhão dos desembolsos do mês, frente a R$ 625 milhões em maio. É um avanço significativo, mas muito aquém do volume que o banco desembolsava, em média, em 2014, de cerca de R$ 4,5 bilhões por mês.
Os números dizem respeito apenas ao crédito com recursos da poupança - principal fonte do financiamento imobiliário brasileiro. Portanto, não incluem os dados de empréstimos com recursos do FGTS, como os do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e a linha pró-cotista. Os dados foram compilados pela Abecip, associação que representa as empresas de crédito imobiliário, e obtidos pelo Valor.
O valor liberado pela Caixa em junho correspondeu a 29% do total do mercado no mês, o que fez o banco retomar a liderança. Em maio, a Caixa liberou o equivalente a 20,1% do mercado, atrás de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander. Historicamente, porém, a participação do banco ficava entre 60% a 65% do crédito desembolsado.
Na segunda posição, em junho, ficou o Itaú, com 24,3% de participação no mercado. Em seguida estão Santander (18,5%), Bradesco (12,3%), Banco do Brasil (9,4%), HSBC (3,3%) e outros (3,3%).
Procurada, a Caixa afirmou, por meio de nota, "que possui quase 70% de share em habitação em relação ao mercado, considerando todas as fontes de recursos" - ou seja, considerando empréstimos no FGTS. "A Caixa reforça, por fim, que para este ano a principal fonte de recursos para crédito imobiliário será o FGTS."
"O desempenho de junho deve se repetir ao longo do segundo semestre", afirma executivo de um grande banco privado. "O volume de entrega de imóveis é maior entre agosto e novembro, mas a demanda por usados está muito fraca."
O crédito imobiliário passa por um cenário delicado em 2015. O volume recorde de saques da poupança, combinada à escalada na taxa básica de juros (Selic), criaram uma situação de escassez na oferta de empréstimos. O problema é mais agudo na Caixa que adotou uma série de medidas que restringiram o acesso ao crédito imobiliário, como aumento na taxa de juros e, no caso de imóveis usados, limitação a 50% do valor máximo da unidade que pode ser financiado. No caso dos novos, o limite caiu de 90% para 80%. Outros bancos aumentaram juros também.
De olho nesse cenário, em 28 de maio o Banco Central lançou medidas para estimular o crédito habitacional. Foram feitas alterações nos depósitos compulsórios da caderneta de poupança, que liberaram R$ 22,5 bilhões em recursos para empréstimos. As regras também criaram um estímulo para que os bancos emprestassem tais recursos, de modo a não perder a rentabilidade desse dinheiro.