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25/04/2017

Construtoras veem certame como alternativa à crise

"Com a crise na construção civil, as empresas estão ociosas e viram esse segmento [transmissão de energia] como uma alternativa", afirmou o coordenador do Gesel/UFRJ, professor Nivalde de Castro.

A crise no setor de construção civil abriu caminho para construtoras de pequeno e médio porte apostarem no segmento de transmissão de energia, seja como prestadoras de serviço ou até como investidoras nos empreendimentos. Esse fator explica a participação de construtoras relativamente desconhecidas no leilão de transmissão realizado ontem na B3, de acordo com avaliação do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ.

"Com a crise na construção civil, as empresas estão ociosas e viram esse segmento [transmissão de energia] como uma alternativa", afirmou o coordenador do Gesel/UFRJ, professor Nivalde de Castro. Segundo ele, não existe risco de a contratação de construtoras ser um gargalo para a implantação das linhas cuja concessão foram negociadas ontem.

Pelo menos cinco empresas de engenharia foram identificadas entre os vencedores do leilão: Fasttel Engenharia, Cesbe, FM Rodrigues & Cia, Hersa Engenharia e Serviços e Primus Incorporação e Construção. Fasttel e Cesbe formaram consórcio que venceu a concessão de um projeto de R$ 157 milhões de investimentos no Paraná. Já o consórcio composto por FM Rodrigues & Cia e Hersa ganhou a concessão de uma linha de 109 km em Alagoas, com investimentos estimados de R$ 68 milhões. E a Primus integra consórcio dono de um lote no Pará, com investimentos de R$ 120,5 milhões.

O caso da Primus foi o mais curioso do leilão e o que melhor traduz o movimento de entrada de empresas no setor de transmissão. A Primus possui 40% do consórcio, em parceria com uma empresa genérica de participações (Malv Empreendimentos e Participações), com 30%, e uma distribuidora de bebidas (Disbenop), com os 30% restantes.

O diretor do consórcio, Mauro Mendes Ferreira, que possui experiência na mato-grossense Bimetal, especializada na fabricação de estruturas metálicas para transmissoras de energia e companhias de telecomunicação, disse ter reunido "novos investidores que acreditam no potencial do setor de transmissão e na diversificação de seus investimentos a nível futuro".

Os investidores citados por Ferreira eram os mais entusiasmados ao fim do leilão, sorrindo, trocando abraços efusivos e tirando fotos no salão de leilão da antiga Bovespa. "Acreditam na retomada da economia, que o Brasil se descolou da crise política, apesar políticos e das besteiras que acontecem em Brasília", acrescentou Ferreira.

Segundo ele, a principal estratégia do consórcio será acelerar na etapa do licenciamento ambiental, com o objetivo de entregar o projeto antes da data prevista pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 48 meses. “Queremos fazer o mais rapidamente possível o trabalho de licenciamento, que tem se mostrado, injustificadamente, um dos grandes gargalos do país. 

Todos sabem que grande parte desses empreendimentos são obras de baixíssimo impacto, mas infelizmente alguns órgãos ambientais têm se mostrado extremamente morosos para fazer aquilo que é o óbvio"

O licenciamento ambiental, disse Castro, é o maior risco relativo ao leilão. "Os empreendedores estão preocupados em como a Aneel analisará o atraso no licenciamento" disse o pesquisador, lembrando que o edital do leilão permite a prorrogação do prazo de implantação da linha, se for comprovado que o atraso ocorreu por demora na emissão da licença ambiental, mas esse tipo de atraso precisa ter o reconhecimento da agência.

Questionado sobre a presença de empresas pequenas e construtoras em alguns lotes do leilão, o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, explicou que o governo não pode criar barreiras. "Novos entrantes são bem-vindos", afirmou. "Lógico que ficamos um pouco preocupados quando entram pequenos nos lotes maiores, mas não foi esse o caso. Os novos entrantes foram nos lotes menores."

De acordo com Rufino, a agência está tomando as precauções necessárias para garantir que os projetos de transmissão contratados nos leilões recentes não tenham problemas ou atrasos inesperados. "A gente evoluiu de uma posição de fiscalizar para gerir contratos. Participamos ativamente do desenvolvimento. Não seremos mais surpreendidos se o empreendedor não conseguir entregar".

 

FONTE: VALOR ECONôMICO