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28/09/2015

Construtoras sofrem com demanda em baixa

Tradicionalmente, as construtoras têm um longo ciclo de negócios e operam muito alavancadas. Algumas estão atualmente em fase de entrega de projetos, quando supostamente seria o momento de folga no caixa, mas isso está acontecendo em meio a uma conjuntura extremamente ruim, com demanda reprimida para imóveis, custo do crédito em elevação e reduzida capacidade de endividamento por parte das famílias.

Daniela Meibak 

Com sérias dificuldades financeiras, agravadas pelo ambiente econômico adverso, o setor de construção civil é um dos piores em alavancagem. Nessa seara, PDG e Rossi figuram como os casos mais preocupantes, apontam especialistas.

Tradicionalmente, as construtoras têm um longo ciclo de negócios e operam muito alavancadas. Algumas estão atualmente em fase de entrega de projetos, quando supostamente seria o momento de folga no caixa, mas isso está acontecendo em meio a uma conjuntura extremamente ruim, com demanda reprimida para imóveis, custo do crédito em elevação e reduzida capacidade de endividamento por parte das famílias.

Diante disso, a PDG Realty já fez aumento de capital de R$ 500 milhões neste ano e, depois do prejuízo do segundo trimestre, anunciou plano de reestruturação das dívidas para adequar o perfil do endividamento às perspectivas de curto, médio e longo prazos, reforçar o capital de giro e fortalecer sua estrutura de capital. O assessor financeiro contratado foi o Rothschild. Enquanto os resultados da reestruturação não aparecem, as ações da companhia despencam na bolsa. A queda é de quase 90% só neste ano.

A incorporadora afirma ter traçado um plano tático para acelerar seu processo de redução de alavancagem e enfrentar os desafios impostos pela conjuntura econômica em 2015. "A PDG continuará focando seus esforços na aceleração do seu processo de desalavancagem, no alongamento antecipado das dívidas corporativas vincendas em 2015 e na aceleração da venda de ativos não estratégicos", diz a empresa, em nota.

O momento também é difícil para a Rossi, que contratou as consultorias RK Partners Assessoria Financeira e Gestão de Recursos e Maxcap Real Estate Investment Advisors para reestruturar suas operações e revisar os objetivos estratégicos. A companhia contabilizava dívida líquida de R$ 1,75 bilhão ao fim do segundo trimestre e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) negativo no período.

Em entrevista ao Valor, o diretor de relações com investidores da Rossi, Fernando Miziara, diz que a companhia está focada em proteger o caixa e diminuir a alavancagem. De acordo com o executivo, a incorporadora está perto de encerrar um ciclo de negócios iniciado entre 2012 e 2013, mas que deve se estender até o início de 2017. Com as entregas, afirma Miziara, aumentam os repasses - quando o financiamento do imóvel pelo consumidor sai da construtora e passa para o banco -, assim como o ingresso de recursos no caixa.

"Continuamos com uma média de repasses de R$ 250 milhões por mês. Nos últimos 12 meses, chegamos a quase R$ 640 milhões", diz Miziara. "Estamos buscando melhorar a eficiência interna, para reduzir custos de pessoal, e antecipando conversas com bancos para acelerar pagamento de dívidas e diminuir a alavancagem." Questionado sobre a possibilidade de rolar dívida, ele afirmou que não há nada previsto nesse sentido até o próximo ano. A emissão de capital também é descartada no curto prazo, mas uma eventual venda de ativos para a diminuir a alavancagem pode ser considerada. Nesse caso, negócio precisaria, no entanto, ser "muito bom".

A missão da Rossi, no entanto, não será fácil, a julgar pela opinião da Fitch. Em relatório, a agência de classificação de risco destaca as elevadas incertezas em relação à capacidade de recuperação dos indicadores operacionais e de crédito da incorporadora nos próximos dois anos. 

 

FONTE: VALOR ECONôMICO