Quando o presidente Donald Trump disse que implementaria tarifas abrangentes e intensificaria a repressão à imigração, alertas ecoaram na indústria da construção.
As políticas ameaçavam aumentar os custos de construção e privar o setor de uma importante fonte de mão de obra, num momento em que as altas taxas de juros já estavam deprimindo a atividade da construção civil.
Essas forças estão convergindo para as construtoras, sobrecarregando-as e representando um potencial entrave para a economia. O aumento dos impostos de importação sobre aço, cobre, madeira e outros materiais está elevando os preços da construção e interrompendo alguns projetos. A fiscalização da imigração está agravando a escassez de mão de obra e atrasando obras.
“Muitas coisas são jogadas contras nós na indústria da construção”, diz Tony Rader, chefe de relacionamento da National Roofing Partners, uma empresa especializada em telhados localizada na cidade de Copell, Texas. “Parece que toda vez que nós nos viramos, temos uma outra batalha para lutar.”
O aumento dos custos e a falta de pessoal podem prejudicar o impulso que o setor espera obter com a queda das taxas de juros, dizem os economistas. Os efeitos podem ser mais acentuados no setor imobiliário, onde as altas taxas de hipoteca têm desestimulado os compradores a se mudarem e reduzido as vendas.
Rader diz que as tarifas contra produtos da China elevaram o preço de parafusos, placas e outros suprimentos. Na quinta-feira ,30, Trump afirmou que ele e o presidente da China, Xi Jinping, chegaram a um acordo de um ano para reduzir em 10 pontos porcentuais a tarifa na maioria dos produtos chineses. A tarifa atual fica fixada em 47%.
A possibilidade de agentes de imigração fiscalizarem locais de trabalho fez com que alguns funcionários relutassem em ir trabalhar, mesmo estando legalmente no país, disse ele. Ele contou que um de seus subcontratados perdeu um projeto de telhado perto da fronteira entre os EUA e o México este ano porque não conseguiu reunir uma equipe de trabalhadores.
Seus clientes também estão preocupados com a incerteza dos preços e com a possibilidade de problemas de pessoal afetarem as obras. Alguns adiaram a instalação de telhados novos e caros, disse ele, e optaram por planos de manutenção para os já existentes. Sua receita está diminuindo e ele busca maneiras de cortar gastos. Ele prevê um crescimento mais lento no próximo ano.
Trump impôs tarifas em uma grande quantidade de materiais e produtos manufaturados no exterior dos quais a indústria de construção civil necessita. Além dos impostos sobre o aço e outros metais, as tarifas sobre madeira estrangeira, incluindo madeira serrada e produtos de madeira como armários de cozinha e gabinetes de banheiro, entraram em vigor no mês passado.
As tarifas tinham como objetivo aumentar a produção doméstica dos mesmos produtos. Mas até agora, isso não foi o caso.
A natureza complicada da cadeia de suprimentos significa que irá demorar até que empresas que compram os materiais de fora se adaptem. Também é incerto sobre quem - fornecedores estrangeiros, companhias americanas ou os consumidores - irá arcar com os custos, e quanto os preços irão aumentar para os consumidores.
No início deste ano, a Associação Nacional de Construtores de Casas estimou que as tarifas aumentariam o custo de construção de uma casa típica em US$ 10,9 mil. Os preços dos materiais de construção subiram 2,3% em relação ao ano anterior, segundo dados do Departamento de Estatísticas do Trabalho. Os preços do ferro e do aço aumentaram 9,2% em relação ao ano anterior, e os fios e cabos de cobre subiram 13,8%.
Justin Wood, proprietário da Fish Construction NW, que constrói casas populares em Portland, Oregon, disse que as tarifas sobre madeira, drywall e equipamentos de aquecimento aumentaram seus custos de construção entre US$ 2,5 mil e US$ 3 mil por casa.
O aumento foi mais gerenciável, disse, porque as casas que ele constrói são criadas para serem pequenas e acessíveis — o tamanho delas gira em torno de 300 m² a 360 m², e custam U$ 250 mil para serem construídas.
Wood disse estar preocupado com o preço da madeira canadense, que está sujeita a uma tarifa combinada de até 45%. Ele afirmou que um depósito de madeira que utiliza está estudando a possibilidade de adquirir mais madeira americana, mas que talvez não consiga.
“Se eles não conseguirem o que nós queremos localmente, então eles vão ter de comprar do Canadá, o que significa um aumenta no preço da madeira”, disse.
A política imigratória de Trump também está cobrando seu preço.
A Construção Civil adicionou apenas 6 mil novos postos de trabalhos até agosto. Uma análise apontou que a indústria precisará contratar quase meio milhão de trabalhadores neste ano para atender a demanda projetada.
Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego do setor caiu para 3,2%, igualando seu menor índice histórico. Esses dois dados sugerem que a oferta de trabalhadores disponíveis diminuiu.
“As atuais políticas de imigração estão exercendo uma enorme pressão sobre a força de trabalho”, disse Michael Bellaman, diretor executivo e presidente da Associated Builders and Contractors, uma associação comercial que apoiou Trump no ano passado. “Não há dúvida de que isso é problemático.”
Uma pesquisa conduzida entre julho e agosto por outra associação, a Associação Geral dos Empreiteiros da América, mostrou que mais de um quarto dos entrevistados foram afetados pelas medidas anti imigratórias de Trump.
O Pew Research Center estimou que trabalhadores sem documentos representavam 13% do setor da construção civil em 2022. As empresas deveriam verificar se seus funcionários diretos estão legalmente no país, mas frequentemente terceirizam serviços como telhados, azulejos e pintura para subempreiteiras que tomam suas próprias decisões de contratação.
Andrew Kaye, um construtor de casas de luxo em Milltown, Nova Jersey, disse que a presença de agentes de imigração em Newark assustou e afastou trabalhadores por alguns dias. “Foi um efeito dominó”, disse.
Agentes de imigração recentemente tiveram como alvo uma casa em Chicago onde trabalhadores estavam substituindo janelas e revestimentos. A ação causou arrepios na vizinhança, disse Leo Feler, um economista e proprietário do imóvel.
“Esse projeto de construção está paralisado”, disse ele. “Acho que a construção em todo esse bairro está paralisada porque todos estão com muito medo.”
Taxa de juros
Os efeitos das políticas do governo podem se tornar mais visíveis nos próximos meses. Muitas das tarifas mais severas estão em vigor apenas desde agosto, portanto, não tiveram tempo de se propagar pela economia. Exportadores e fornecedores também podem hesitar em repassar os aumentos de preços se acreditarem que os Estados Unidos negociarão acordos comerciais ou que as tarifas serão derrubadas na Justiça.
As taxas elevadas e a consequente retração na demanda por construção civil podem estar atenuando o impacto do aumento dos custos e da escassez de mão de obra.
Gastos com construção estão diminuindo desde a primavera de 2024, mesmo que se tenha um aumento com os data centers. A construção de novas casas caiu 6% em agosto se comparado com o ano passado, e está abaixo de seu pico durante a pandemia.
Se as taxas de juros continuarem a cair, os fornecedores terão mais poder de negociação para repassar os custos aos clientes. Com a fiscalização da imigração reduzindo a oferta de trabalhadores imigrantes disponíveis, as empresas que competem para contratar pessoal para seus projetos enfrentarão uma concorrência mais acirrada por funcionários, o que aumentará os salários.
“Já observamos alguns desafios, tanto em termos do aumento do custo dos materiais quanto, agora, da escassez de mão de obra agravada pelas políticas de deportação”, disse Selma Hepp, economista-chefe da Cotality, uma empresa fornecedora de dados imobiliários.
“Acredito que nós ainda não vimos o pior”, acrescentou.
Steve Martinez, presidente da Tradewinds General Contracting, uma construtora de casas em Boise, Idaho, tem adicionado uma margem de contingência maior aos orçamentos de seus clientes para mitigar possíveis aumentos de preços relacionados a tarifas.
Por ora, suas despesas não aumentaram tanto quanto ele previa, o que atribuiu principalmente ao ritmo lento da construção de novas casas. Ele disse que espera construir apenas sete das casas de alto padrão personalizadas que são a especialidade de sua empresa este ano, em vez das 10 a 12 habituais.
“A demanda não existe, e por isso não vimos a escalada de preços que todos previmos ou presumimos que veríamos da noite para o dia”, disse Martinez.
Ele espera que a queda das taxas de juros reverta a deterioração do setor imobiliário. Mas também teme que uma demanda mais forte acabe amplificando o impacto das políticas do governo.
“Se tivéssemos estado muito ocupados, acho que teríamos sentido isso muito mais rapidamente”, disse ele.
