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05/01/2017

Com riscos altos, redução de spreads e juros bancários ainda deve demorar

Precificados frente à menor tomada de crédito e à alta inadimplência, tanto os juros bancários quanto os spreads já atingiram os maiores patamares em dois anos.

São Paulo - Os juros e spreads bancários tendem a ficar perto do estável durante este semestre. Apesar da aposta mais agressiva na queda da taxa básica, a Selic, pelo Banco Central (BC), as instituições financeiras devem "calibrar" repasses de forma lenta e comedida, acompanhando a inadimplência.

Precificados frente à menor tomada de crédito e à alta inadimplência, tanto os juros bancários quanto os spreads já atingiram os maiores patamares em dois anos. Dados do BC apontam que, em 12 meses até novembro de 2016, os aumentos das taxas foram de 2,6 pontos percentuais (de 30,4% para 33%) e 4,1 pontos (de 19,4 para 23,5 pontos), respectivamente.

Neste sentido, mesmo com os anúncios e pedidos de incentivo ao crédito feitos em 2016 pelo presidente Michel Temer, a aversão ao risco ainda tem servido como freio para o repasse mais "enérgico" por parte dos bancos.

"Há uma combinação de riscos associados que são relevantes, e não vejo um cenário de subida de juros. Mas o ajuste será gradual. Temos que fazer uma administração cuidadosa", avalia Cassio Schmitt, diretor de produtos de crédito e recuperação de pessoas físicas do Santander. Ele ressalta que o foco tem sido em "bons clientes", com predisposição à renegociação de dívidas.

Ainda de acordo com o BC, as concessões no crédito renegociado cresceram 9,1% em novembro de 2016 na comparação com igual mês de 2015, saindo de R$ 26,784 bilhões para R$ 29,227 bilhões.

Para Vitor França, consultor da Boanerges&Cia, porém, mesmo o "fôlego para renegociação de dívidas tem limite", e com as projeções mais pessimistas para este ano, as perspectivas de repasse dos bancos ficam mais "incertas".

"Mesmo quando a Selic se mostrou estável, os juros bancários aumentaram. É indiscutível que a queda na taxa básica pode impulsionar a redução por parte dos bancos, mas a questão é quanto e quando isso vai acontecer. A tendência é que essas taxas ainda fiquem perto do estável no primeiro semestre de 2017", avalia.

No entanto, enquanto o governo federal coloca suas perspectivas sobre a redução dos spreads bancários para estimular o crédito, a demanda por recursos continua fraca, à espera de sinais mais fortes de retomada econômica.

"O investimento das empresas está comprometido, e o objetivo dos bancos continua sendo o misto de compor resultado e se proteger de eventuais calotes. No final, isso acaba significando que mesmo com a Selic menor, os juros e spreads não acompanham na mesma proporção e nem no mesmo tempo", acrescentou França, da Boanerges.

"As medidas são positivas e importantes no médio e longo prazo, mas nos efeitos imediatos é difícil determinar quando o sistema bancário vai digerir e aceitar aderir a essas propostas. A previsão é que os bancos calibrem essa redução de maneira lenta e comedida", completa Victor Martins analista da Planner Corretora.

Readequação - Ainda em relação às medidas macroeconômicas, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já afirmou que "não cometerá os mesmos erros do passado" e os executivos ouvidos pelo DCI destacam que, quanto ao sistema financeiro, o objetivo é uma "readequação" de bancos públicos e privados.

Em relação aos públicos, a projeção é de possíveis provisões adicionais este ano, mas, segundo Claudio Gallina, diretor sênior de instituições financeiras da Fitch Ratings, "isso é algo precificado".

"O peso deve sair dos bancos públicos, talvez com privados financiando mais e o BNDES entrando mais com garantias do que com recursos. O mercado deve se auto ajustar", diz Gallina.

Procurados pelo DCI, o Itaú afirmou em nota que irá "colaborar" com as medidas, enquanto Banco do Brasil (BB), Bradesco e Caixa preferiram não se pronunciar.

FONTE: DCI