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11/01/2023

Vendas de cimento recuam mais do que o previsto em 2022, com queda de 2,8% (Valor Econômico)

Para o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, 2023 começa com incerteza, pois o impacto da guerra na Ucrânia e dos problemas econômicos na China, Europa e EUA no preço das matérias primas ainda não está definido

Por Ana Luiza Tieghi

 

As vendas de cimento no país fecharam 2022 com recuo de 2,8% em volume, segundo o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic). Foram 63,1 milhões de toneladas, menos 1,8 milhão na comparação com ano anterior.

A variação foi maior do que o esperado pela entidade, que projetava queda pouco acima de 2% para o ano. O valor também interrompeu uma sequência de três anos de aumento no volume de cimento vendido, com crescimento de 3,8% em 2019; 10,8% em 2020; e 6,8% em 2021.

 

Ainda assim, ressalta o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna, houve um incremento de 10 milhões de toneladas de cimento nos últimos quatro anos, ante o fundo poço em 2018.

Segundo Penna, os motivos para o desempenho ter sido pior do que o previsto foram as chuvas, que caíram em maior quantidade no ano e prejudicaram o andamento das obras, e a Copa do Mundo, que teria contribuído com um recuo de 0,5% do volume vendido (300 mil toneladas).

 

Outros fatores que prejudicaram as vendas foram a redução dos lançamentos imobiliários, que até setembro recuaram 8,5%, segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) e o alto endividamento das famílias, que limitou a autoconstrução e as reformas.

No ano, apenas as regiões Norte e Centro-Oeste apresentaram aumento no volume de cimento vendido, ambas com alta de 1,6%. São também as regiões com menor volume absoluto comercializado, de 2,8 milhões e 7,6 milhões de toneladas. Como comparação, no Sudeste, que teve queda de 3,6% nas vendas, foram comercializadas 29,8 milhões de toneladas.

 

Em dezembro, as vendas de cimento somaram 4,5 milhões de toneladas, um recuo de 6,3% ante o mesmo mês de 2021.

As vendas por dia útil ficaram em 186,1 mil toneladas no mês, declínio de 10,2% sobre um ano atrás e de 23% sobre novembro. No acumulado do ano, de janeiro a dezembro, a queda é de 3,4% por esse critério de desempenho.

Este ano, diz o Snic, inicia com muita incerteza. Cita impacto da guerra na Ucrânia e problemas econômicos na China, Europa e EUA no preço das matérias-primas ainda não está definido.

 

Em 2022, o coque de petróleo, que representa 50% do custo da produção, aumentou 3,1%, após altas de 125% em 2020 e 98% em 2021, diz Penna. Outras fontes de custos: frete rodoviário subiu 34%, o gesso aumentou 11%, o refratário ficou 70% mais caro e a sacaria teve o preço elevado em 48%.

Também segue nebuloso como se dará o investimento do governo Lula em infraestrutura e habitação, como na retomada do Minha Casa Minha Vida. Em infraestrutura, a atenção da entidade está voltada para o uso do cimento na pavimentação de rodovias e ruas, e nas obras de saneamento básico.

 

“É incerteza enorme, não teve efetiva divulgação dos planos de governo e de alocação dos projetos e políticas públicas. Tem ideias de trabalhar infraestrutura, fazer casas populares, mas tudo ainda pouco palpável”, afirma Penna.

 

Os atos terroristas praticados em Brasília por bolsonaristas radicais não devem prejudicar investimentos que estão em andamento, na avaliação de Penna, mas preocupa a visão negativa do Brasil que levam ao exterior e seu efeito sobre investimentos futuros. “Foi ato de barbárie extrema que está absolutamente fora do que se imagina de um país em desenvolvimento, que tem ambições de retomar uma posição de protagonismo mundial”.

Ainda assim, o Snic vê caminho para um crescimento de 0,8% a 1% nas vendas em 2023.

 

Matéria publicada em 11/01/2023 

FONTE: VALOR ECONôMICO