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10/07/2024

Venda de cimento sobe 1,2% no 1º semestre, mas setor reduz projeção de crescimento em 2024 (Valor Econômico)

Redução nos lançamentos imobiliários, baixo investimento em infraestrutura, interrupção do ciclo de queda dos juros e maior dificuldade de acesso ao crédito levaram o sindicato setorial a cortar estimativas

Embora o primeiro semestre tenha surpreendido positivamente o mercado, com queda do desemprego e aumento de renda da população, a indústria de cimento instalada no Brasil revisou para baixo a previsão de vendas em 2024. No acumulado do primeiro semestre, as vendas totalizaram 30,6 milhões de toneladas, 1,2% acima do registrado em igual período de 2023.

A redução nos lançamentos imobiliários, o baixo investimento em infraestrutura, a interrupção do ciclo de queda da Selic e a maior dificuldade de acesso ao crédito levaram o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic) a cortar de 2,4% para 1,4% a estimativa de expansão do setor no ano, com 62,9 milhões de toneladas despachadas.

“Vivemos um primeiro semestre de solavancos e expectativas frustradas”, disse, ao Valor, o presidente da entidade, Paulo Camillo Penna. Conforme o executivo, a adição de 900 mil toneladas de consumo neste ano recupera apenas um terço do que a indústria deixou de vender entre 2022 e 2023.

Minha Casa, Minha Vida

Regulamentado no ano passado, o Minha Casa, Minha Vida demorou a decolar e, apesar do crescimento de 25% nos lançamentos neste ano, foi incapaz de compensar a fraqueza em outros segmentos da indústria imobiliária. Dessa forma, enquanto os lançamentos do setor, no geral, recuaram 9%, as vendas subiram 6%. “Essa equação levou a uma redução dos estoques, gerando temor em relação ao desempenho das obras civis até o fim do ano”, explicou.

Do lado dos juros, a manutenção da taxa básica em níveis elevados segue alimentando a competição por recursos, que foram deslocados de ativos reais imobiliários para ativos financeiros, contribuindo para o menor volume de lançamentos, em particular nos mercados de renda mais elevada.

Endividamento das famílias e inadimplência

“Há um outro ponto. O endividamento das famílias e a inadimplência têm neutralizado o aumento da massa salarial. Durante a pandemia, auxílio emergencial e a mudança no perfil de consumo contribuíram para as vendas, mas isso não está se mantendo”, afirmou, referindo-se aos maiores gastos das famílias com reformas e autoconstrução naquele período.

Na infraestrutura, disse Penna, o novo PAC iniciou 2024 com corte de orçamento e não tem contribuído para o aumento do consumo de cimento. Em 2011, um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que o setor era responsável por cerca de 25% da demanda de cimento no país. De lá para cá, essa fatia encolheu e não foi além da marca de 12%.

Depois da queda acentuada nas vendas de cimento em maio, de mais de 5% e relacionada, sobretudo, aos efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul, houve crescimento em junho, mas em ritmo moderado e não há expectativa de aceleração nos próximos meses.

Segundo dados preliminares do Snic, em junho, foram comercializadas 5,4 milhões de toneladas de cimento, com alta de 2,1% na comparação anual. Dessa forma, no acumulado do primeiro semestre, as vendas totalizaram 30,6 milhões de toneladas, 1,2% acima do registrado em igual período de 2023.

Por dia útil, o despacho em junho ficou em 238,8 mil toneladas, com aumento de 4,6% sobre o mesmo mês do ano passado. Nessa métrica, a alta foi de 1,1% no acumulado do semestre.

Região Sudeste

Na região Sudeste, principal mercado para a indústria cimenteira no país, as vendas entre janeiro e junho somaram 14,1 milhões de toneladas, praticamente estáveis (alta de 0,2%) em relação ao visto no primeiro semestre de 2023.

A região Norte, seguiu despontando com o maior ritmo de crescimento, de 12,8%, para 1,4 milhão de toneladas, seguida do Nordeste, com expansão de 3,8% e um total de 6,3 milhões de toneladas. No Centro-Oeste, houve alta de 2%, para 3,5 milhões de toneladas, e no Sul, que já se recupera do impacto das enchentes, a queda foi de 0,8% no semestre, para 5,2 milhões de toneladas.

Demanda deve "andar de lado"

A nova estimativa de crescimento nas vendas para 2024 embute um desempenho tímido da indústria no segundo semestre, de crescimento de apenas 0,2%, justamente o período que costuma ser sazonalmente mais forte.

“Acreditamos que a demanda vá andar de lado no segundo semestre, a não ser que haja investimento maior em infraestrutura ou alguma mudança na trajetória da taxa de juros”, observou. Mantido o cenário atual, a indústria prevê expansão em torno de 2% nos despachos de cimento em 2025.

FONTE: VALOR ECONôMICO