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06/01/2022

TR sai do zero após 4 anos. Veja como fica o rendimento da poupança

Taxa Referencial volta a subir com a Selic em patamar mais elevado, mas rendimento da poupança ainda perde para o da renda fixa

O ano de 2022 começa com mudanças em uma das mais populares aplicações financeiras do brasileiro: a poupança.

A TR (Taxa Referencial), que compõe o rendimento da poupança quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, estava zerada desde 2017. Agora, no início de 2022, ela voltou a subir e passa a ser atualizada diariamente pelo Banco Central.

Isso significa que o rendimento da poupança vai subir um pouco mais, ainda que não o suficiente para merecer recomendação para qualquer pessoa -- é um dinheiro que perde para o CDI, índice de referência da renda fixa.

Ainda assim, trata-se da segunda mudança em um mês.

Com a Selic acima de 8,5% ao ano -- o juro básico superou esse patamar no início de dezembro, quando o Banco Central o elevou de 7,75% para 9,25% ao ano --, a poupança passa a ter uma nova fórmula de cálculo para a sua rentabilidade: em vez de render o equivalente a 70% da Selic ao mês, passa a render 0,5% ao mês acrescida da TR.

Em termos práticos considerando o histórico da TR: com uma projeção da TR entre 0,60% e 0,80% ao ano (nesta quarta, dia 5 de janeiro, a expectativa para a taxa mensal era de 0,11%), o rendimento anual da caderneta de poupança ficará entre 6,77% a 6,97% ao ano. Parece muito? Não é.

Com a Selic a 9,25% ao ano, qualquer investimento que renda o equivalente a 100% do CDI vai entregar 9,15% ao ano de rentabilidade. Mesmo com o desconto do IR, o rendimento será superior", explica Arthur Spirandelli, gestor da Acqua-Vero Investimentos.

Segundo ele, a projeção para a TR só mudaria diante de um grande descontrole da economia. "Por enquanto, nada no cenário indica isso."

O especialista em investimentos explica que a TR sobe de forma proporcional -- mas não integral -- à variação da TBF, a Taxa Básica Financeira, que é calculada a partir da média ponderada dos títulos públicos prefixados.

Poupança vs. outros investimentos

Apesar da pequena melhora do rendimento, especialistas explicam que a volta da TR não torna a caderneta de poupança mais vantajosa do que aplicações conservadoras de renda fixa, como títulos do Tesouro Selic, CDBs e até fundos DI.

Veja abaixo a simulação sobre o rendimento de aplicações de renda fixa com a Selic atual mais a TR máxima projetada.

No cálculo foi considerada uma aplicação de R$ 1.000 e a taxa da curva de juros vigente no dia da publicação desta matéria (a curva de juros muda diariamente). Os valores da simulação já descontam o Imposto de Renda, cobrado em todas as aplicações, exceto na poupança, que é isenta.

Como mostra a simulação, em qualquer prazo, a poupança é menos vantajosa do que qualquer aplicação financeira.

Isso acontece porque a alta da Selic não impacta somente a rentabilidade da poupança mas também a de outros ativos pós-fixados atrelados ao CDI e à taxa básica de juros. A rentabilidade da poupança fica limitada a 0,50% ao mês mais a TR, enquanto os produtos pós-fixados atrelados à Selic e ao CDI irão acompanhar o movimento dos juros futuros.

A baixa liquidez também pesa contra a poupança na comparação com outras aplicações. Enquanto a remuneração da poupança é mensal (ou seja, caso o investidor resgate o dinheiro antes da data de aniversário da caderneta, ele fica sem o rendimento daquele mês), a remuneração de CDBs e do Tesouro Selic é diária.

Ou seja, a caderneta é ainda mais desvantajosa para quem precisar do dinheiro de forma rápida, como aquele aplicado em uma reserva de emergência.

"Caso o investidor retire o dinheiro e perca a rentabilidade de metade do mês, a poupança pode ficar ainda menos atrativa na comparação com CDBs e o Tesouro Selic", afirma Michel Viriato, estrategista da Casa do Investidor.

Por isso, deixar o dinheiro parado em uma conta que renda o equivalente a 100% do CDI ainda é melhor do que colocar dinheiro na poupança, mesmo que isso seja algo cômodo, diz o estrategista. "Geralmente a remuneração dessas contas é lastreada em títulos públicos. Ou seja, elas não oferecem um risco muito distinto do da poupança."

Por fim, caso a inflação em 2022 demora alguns meses para recuar do patamar do fim do ano passado (o IPCA estava em 10,74% nos 12 meses encerrados em novembro), quem tem dinheiro na poupança continuará a perder poder de compra. É sempre recomendável diversificar em ativos com rendimentos mais altos.  

FONTE: EXAME