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10/09/2015

Sob a batuta de Zabalza, Santander voltou a crescer

A melhora na qualidade dos ativos e o lucro da instituição tem arrancado elogios de analistas.

Felipe Marques e Fabiana Lopes

No comando da filial brasileira do Santander, Jesús Zabalza encontrou-se na difícil missão de aprumar a operação do banco espanhol no país e fazer com que, enfim, conseguisse crescer. O longo e difícil processo de integração com o Banco Real havia deixado o Santander Brasil com uma folga de capital bem superior a de seus pares, mas sem que isso se traduzisse em ganho de mercado. A inadimplência do banco também era superior ao que se via em Itaú Unibanco e Bradesco e o retorno dado aos acionistas, inferior.

Os números do banco agora mostram um sucesso parcial. A melhora na qualidade dos ativos e o lucro da instituição tem arrancado elogios de analistas. O mesmo, porém, não pode ser dito da rentabilidade -  ainda significativamente abaixo dos concorrentes privados - e da participação do banco no sistema financeiro, que segue em patamar inferior ao pretendido por Zabalza quando assumiu a instituição.

A avaliação de executivos do banco espanhol ouvidos pelo Valor é que o principal legado de Zabalza é ter "arrumado a casa", dando ao Santander Brasil condições de engrenar um ritmo mais forte de crescimento nos próximos anos. Os exemplos dessa "arrumação" vão desde a forte queda no índice de inadimplência da instituição financeira, que está sob controle mesmo em um cenário adverso, até melhorias em processos do dia a dia das agências do banco.

O percentual de empréstimos com atraso superior a 90 dias do banco saiu de 5,8% em março de 2013 para 3,2% em junho. As despesas com provisão para devedores duvidosos também melhoraram, o que contribuiu para a última linha do resultado.

O executivo também deu prioridade a compras que posicionassem o banco em mercados com perspectivas de um crescimento mais robusto - e em que seus concorrentes já estavam atuando com força -, como o consignado e a captura de cartões no varejo. De 2013 para cá o banco fechou um acordo para comprar toda a operação de crédito com desconto em folha do Banco Bonsucesso e a empresa gaúcha de cartões GetNet, com quem tinha uma joint¬venture.

"Ele é aquele executivo que é capaz de gerenciar vários pratos ao mesmo tempo sem deixar nenhum cair. Tem uma capacidade de executar projetos que vi poucas vezes na vida", afirma um executivo que está há mais de 20 anos na instituição financeira.

A tarefa de crescer e de melhorar a rentabilidade do banco, porém, vai ficar para o sucessor. Em entrevistas ao longo de sua gestão, Zabalza havia indicado que o banco teria condições de chegar a uma participação de 10% no mercado bancário brasileiro, com um retorno acima de 15%.

Em termos de ativos, o banco está hoje um pouco mais próximo da meta, fechando junho com 9% de participação, segundo dados do Banco Central (BC), ante uma fatia de 7,5% quando o executivo assumiu o banco. No crédito porém a participação em junho de 2015 era de 6,8%, ante 7,7% no começo da gestão de Zabalza.

O retorno sobre patrimônio (ROE, em inglês) também melhorou pouco desde que o executivo assumiu o comando do banco. Em termos ajustados, o indicador saiu de 12% no primeiro trimestre de 2013 para 12,8% em junho de 2015.

Crescer, porém, promete ser um desafio ainda maior daqui em diante. Primeiro, porque o banco espanhol perdeu a briga pela operação brasileira do HSBC, última grande oportunidade de aquisição bancária no país, que foi comprada em agosto pelo Bradesco. Segundo, os anos de farto avanço de crédito no país ficaram para trás e o Brasil se vê às voltas com uma recessão econômica.

Quem trabalhou próximo a Zabalza qualifica o executivo espanhol ¬ nascido em Baracaldo, no País Basco ¬ como "assertivo" e "direto" no trato dos subordinados. Ao mesmo tempo, os relatos de quem acompanhou a gestão do executivo dão conta da proximidade que ele tinha com a rede de varejo do banco. Era comum que agendasse visitas às agências do Santander, passasse alguns minutos conversando com atendentes de caixa, ou mesmo atendesse algumas ligações no call center da instituição. Também fazia parte da rotina do executivo tomar café¬da¬manhã com diferentes grupos de funcionários da instituição.

Segundo uma fonte a par do assunto, há meses, Zabalza e Rial vinham trabalhando em conjunto na transição do comando e costumavam consultar um ao outro a tomar decisões. "O ideal era o banco ficar com uma mistura dos dois. Se Jesus tinha a visão do banco de varejo, o Rial tem uma postura muita mais de atacado e é mais 'político' no trato", emenda o executivo.

 

FONTE: VALOR ECONôMICO