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06/11/2023

Setor de cimento e concreto debate ações de descarbonização até 2050

Por Ivo Ribeiro  

Com longa experiência no tema da sustentabilidade em empresas de atuação global, Thomas Guillot assumiu em agosto de 2021 a presidência da Global Cement and Concrete Association (GCCA), entidade internacional dos setores cimenteiro e de concreto que reúne 48 fabricantes - entre elas a brasileira Votorantim Cimentos. Pouco antes, o executivo liderou o desenvolvimento do programa de descarbonização da Holcim (líder global) e seu negócio circular (Geocycle) nos países da EMEA, sigla para Europa, Oriente Médio e África. 

Para o francês Guillot, que participa hoje em São Paulo da oitava edição do congresso brasileiro de cimento, o tema da descarbonização, de forma geral, e especialmente no setor cimenteiro - que gera 7% das emissões de CO2 no mundo - é muito importante. O evento é realizado por ABCP e SNIC, duas entidades de concreto e cimento. 

“Há dois anos, nos tornamos a primeira indústria pesada global a estabelecer um caminho para a neutralidade nas emissões de carbono, com o lançamento do nosso Roadmap Net Zero para 2050 e os nossos dados verificados de forma independente mostram que estamos obtendo progressos. Mas há muito mais trabalho a ser feito. Queremos ver a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e uma maior utilização de combustíveis alternativos nos fornos”, disse Guillot ao Valor. 

Mas ressalta que é necessário um trabalho conjunto com os governos de cada país. “Precisamos da colaboração entre os governos e a indústria para desenvolver as políticas certas que permitam à indústria descarbonizar-se totalmente - para apoiar o pensamento da economia circular no que diz respeito à utilização de resíduos de outras indústrias pelo setor de cimento, para apoiar novas tecnologias e estimular a procura de produtos de construção com baixo teor de carbono. Precisamos também de ver uma maior reciclagem do concreto, para garantir que não acabe em aterros, e uma melhor concepção e construção de edifícios que maximize a utilização eficiente de concreto para desenvolver um ambiente sustentável e resiliente”. 

O evento vai até quarta-feira (8) e reunirá cerca de 200 participantes da indústria da construção, incluindo fabricantes de materiais construtivos, autoridades estaduais e especialistas de universidades. 

Serão debatidas questões que envolvem o setor no Brasil e mundo. São quatro pilares: descarbonização (redução das emissões de CO2), coprocessamento (materiais alternativos aos combustíveis fósseis), inovação (tecnologias disruptivas) e investimentos na área da infraestrutura nacional. 

Pela primeira vez será apresentado as diretrizes do setor em busca da neutralidade de carbono até 2050. É um grande desafio. Atualmente, no Brasil, a indústria produtora de cimento - 94 unidades fabris - responde por 2,3% de emissões de CO2 - um terço da média mundial. No Brasil a emissão é de 565 quilos, ante 620 quilos da média mundial (último dado oficial da CGCA - 2020). 

As cimenteiras no Brasil vêm investindo ao longo dos anos em coprocessamento de materiais alternativos para substituir uso de combustíveis fósseis (coque de petróleo e carvão mineral), em eficiência energética e em adições de outros insumos para baixar as emissões de CO2. No futuro, principalmente de 2030 em diante, para avançar na descarbonização o uso de tecnologias disruptivas será crucial para se atingir o Ne Zero até 2050. 

Guillot informa que o Roadmap da GCCA prevê que 10 fábricas de captura de carbono estejam operacionais em escala comercial até 2030. Espera-se que a implementação dos CCUS proporcione 36% das reduções de CO2 que a indústria está empenhada em alcançar até meados deste século. “Mas indústrias como a nossa precisarão do apoio dos governos de todo o mundo e das políticas certas para impulsionar essa tecnologia”, afirma. 

O presidente da GCCA destaca que o objetivo final do setor é zero emissões líquidas de concreto até 2050. “Não existe solução única nem rápida. Trabalhar de forma conjunta globalmente e agir localmente são ambos necessários”.

FONTE: VALOR ECONôMICO