Notícias

13/01/2017

Selic menor impulsiona a bolsa

Outro efeito positivo do corte dos juros é o aumento da rentabilidade das empresas.

A redução da taxa básica de juros da economia para 13% ao ano animou os investidores do mercado de ações. Praticamente todas as empresas devem ser beneficiadas com a redução dos juros, mas o efeito imediato recai sobre as companhias mais endividadas ou setores que, tradicionalmente, mais alavancados, como as construtoras. Em uma segunda etapa, a redução dos juros vai permitir a retomada do consumo e o crescimento econômico, o que vai favorecer as ações das empresas de varejo. As ações do setor de energia elétrica, incorporação e shopping centers foram as que mais subiram no pregão de ontem.


A maior alta ficou com a ação preferencial da Cemig, que ganhou 12,06%, depois veio a da BR Malls, com alta de 8,51%. A valorização das ações de energia elétrica ocorre devido ao impacto na dívida e também porque o setor tem um faturamento considerado mais previsível. Com a redução dos juros, alguns investidores preferem direcionar os recursos para essas ações. Já a BR Malls é uma das empresas com maior nível de endividamento do setor. No fim do terceiro trimestre do ano passado, a alavancagem medida pela dívida líquida sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da empresa era de três vezes. "É a empresa com a maior dívida em CDI entre seus pares e a que vai ser mais impactada diretamente pelo corte dos juros", diz Bruno Mendonça, analista do setor imobiliário do Santander. Outro efeito positivo do corte dos juros é o aumento da rentabilidade das empresas.

Nos cálculos da XP Investimentos, deve haver uma elevação da lucratividade entre 14% e 15% em 2017, na comparação anual, se as projeções de continuidade de redução dos juros se mantiverem. O analista Marcos Saravalle afirma que esse ganho seria apenas pelo impacto na linha financeira. "É natural que se veja um aumento de até 25% de lucro, considerando a redução de juros e também um ganho operacional com a melhora na demanda", diz. O BTG Pactual calculou o impacto da redução de um ponto percentual nas taxas de juros para algumas companhias. Em um teste de sensibilidade, o efeito seria um aumento de 96% no lucro da CSN, que é fortemente afetada pelo seu endividamento. As Lojas Marisa teriam um aumento de 82% nos lucros, a Restoque de 58% e a BR Malls, de 10%.

No caso das ações dos shoppings centers, o corte de um ponto percentual tem o efeito de aumento de 6% no fluxo de caixa operacional. O novo ritmo de corte da taxa de juros também deixa o mercado mais perto de uma retomada de fluxo, segundo o estrategista de ações para América Latina do Bank of America Merrill Lynch, Felipe Hirai. Ele calcula que, desde 2000, o Banco Central acelerou o ciclo de afrouxamento monetário 11 vezes. Na média, o Ibovespa teve uma reação positiva de 0,6% no dia seguinte ao corte dos juros, de 1,5% na semana seguinte e de 7,3% no mês. De uma perspectiva setorial, ações de finanças e de consumo básico tiveram as melhores performances, enquanto as industriais, de telecomunicações e de energia tiveram performance aquém do mercado. "Mas o mais importante é o potencial de criação de uma narrativa positiva para a bolsa no Brasil", afirma. Segundo Hirai, a dívida denominada em Selic entre as empresas do Ibovespa é de apenas 20% do total. Os três pilares-chave para as ações, afirma, são juros mais baixos, recuperação da atividade econômica e aprovação da reforma da Previdência. Mas, mesmo que cada evento pareça ter chances razoáveis de acontecer, os investidores ainda parecem indispostos a precificar uma combinação de todos. Na visão dele, fatores externos (governo Trump, alta de juros nos EUA e crescimento da China) permanecem sendo os principais riscos.

Nos cálculos do Santander, desde 2013 os afrouxamentos monetários trouxeram uma alta de 33% para a bolsa, em média, no intervalo até seis meses. Portanto, os próximos três a seis meses devem ser positivos para o mercado de ações. Os setores de consumo e varejo também devem ser beneficiados no longo prazo com o corte de juros. "Mas só a redução dos juros não será suficiente para melhorar o preço das ações. O ano deve ser difícil para o varejo e a recuperação só deve começar a partir do segundo semestre", diz Raphael Ohmachi, analista da Guide Investimentos. Entre as ações desses setores, a maior alta ontem ficou com para as ações preferenciais de Lojas Americanas, que subiram 7,36%. No pregão de ontem, o otimismo com a redução dos juros fez com que o Ibovespa fechasse com alta de 2,41% aos 63.954 pontos e com movimento financeiro de R$ 8,7 bilhões.

Foi a primeira vez neste ano que o giro de negócios ultrapassou a média diária do ano passado, de R$ 7,4 bilhões. "A bolsa subiu bastante porque o Banco Central indicou mais cortes de juros com a mesma magnitude na próxima reunião", diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora. Os papéis do sistema financeiro também fecharam em alta. Em um primeiro momento, a redução dos juros diminui os ganhos dos bancos, mas depois pode permitir a queda da inadimplência e o aumento da concessão de crédito. Os papéis do Santander tiveram a maior alta, de 5,02%. 

FONTE: VALOR ECONôMICO