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22/06/2022

Selic mais alta vai pressionar inadimplência nos bancos, diz Moody’s

Inflação e elevado endividamento das famílias provavelmente exigirão que os bancos reforcem as provisões para perdas com empréstimos nos próximos dois trimestres, avalia a agência

Por Álvaro Campos 

A mais recente alta da Selic deve pressionar a qualidade dos ativos dos bancos, segundo a Moody’s. Em relatório, a agência de rating aponta que, em meio ao cenário macroeconômico de atividade fraca, desemprego elevado e inflação acima de 5% desde 2021, os empréstimos problemáticos nos bancos têm crescido nos últimos três trimestres. 

A agência aponta que, em março, os grandes bancos tinham índices de cobertura de, em média, 205%. O relatório traz que Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa tiveram um aumento médio de 0,4 ponto percentual na inadimplência nos últimos 12 meses. 

A Moody’s diz ainda que, embora os bancos tenham conseguido repassar taxas mais altas aos clientes, o que continuará a beneficiar a margem financeira, a inflação e o elevado endividamento das famílias provavelmente exigirão que os bancos reforcem as provisões para perdas com empréstimos nos próximos dois trimestres, pressionando o lucro em meio a um crescimento mais moderado do crédito. 

A agência ressalta que o forte aumento da taxa de juros ainda não se refletiu em margens mais altas porque os bancos concentraram a originação de novos empréstimos em produtos com garantia, para gerenciar os riscos crescentes de ativos. Assim, as grandes instituições apresentaram margens relativamente estáveis nos 12 meses, apesar do aumento de 11,25 pontos porcentuais da Selic no mesmo período. 

Segundo o relatório, as tensões nas margens financeiras aumentarão principalmente nos bancos que têm uma carteira maior de empréstimos ao consumidor de longa duração, com taxa fixa, como hipotecas, empréstimos consignados e financiamento de veículos, porque a reprecificação dessas carteiras leva mais tempo do que a alta nos custos de captação desses bancos, que são em taxas flutuantes.

De acordo com a agência, os bancos mais expostos a essa dinâmica negativa decorrente do rápido aperto monetário são aqueles focados predominantemente em empréstimos consignados e financiamento imobiliário, como Banpará, Banrisul, Banese e BRB. Outros bancos com exposição significativa a financiamentos de veículos, como Banco Yamaha e BV, apesar de possuírem grande parte de sua carteira denominada em taxa fixa, cobram spreads mais altos que proporcionam um colchão adicional para absorver novos aumentos no custo de captação à frente.

(Matéria publicada em 21/06/2022)

FONTE: VALOR ECONôMICO