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29/05/2023

Retrofit traz apartamentos de alto padrão para prédios históricos do centro de São Paulo (Folha de S.Paulo)

Com dois anos do programa de requalificação, incorporadoras investem na conversão de edifícios de alto padrão

O programa de revitalização do centro da capital, mais conhecido como Lei do Retrofit, completa dois anos em julho e pode trazer a elite paulistana de volta a endereços históricos de São Paulo.

Atraídas pela infraestrutura urbana de bairros como Sé, República e Bela Vista e com os incentivos fiscais do Programa Requalifica Centro, incorporadoras investem na conversão de edifícios para uso residencial ou misto de alto padrão.

 

A Metaforma assumiu a revitalização arquitetônica e urbanística do emblemático Edifício 7 de Abril, inaugurado em 1939 pelo escritório Ramos de Azevedo & Severo Villares, para transformá-lo em um condomínio residencial.

O 7 de Abril faz parte da memória do paulistano por ter sido a sede da CTB (Companhia Telefônica Brasileira) e da Telesp no século passado.

 

Localizado no número 177 da rua Basílio da Gama, próximo ao Copan e ao Edifício Itália, o imóvel de estilo art déco foi construído pelo escritório de arquitetura mais moderno da cidade entre a última década do século 19 e as três primeiras décadas do século 20, que projetou também o Theatro Municipal de São Paulo e o Mercado Municipal.

O prédio foi tombado em 1992 e não pode ter a fachada alterada, mas passará por uma transformação completa em seu interior, sem perder sua história.

 

"A ideia é resgatar a central telefônica do início do século passado e equipamentos para ligações interurbanas e deixá-los expostos no térreo, onde haverá uma galeria com food hall aberta ao público em geral", afirma Bruno Scacchetti, diretor executivo da Metaforma.

Por essa galeria será possível atravessar as ruas 7 de Abril e Basílio da Gama por dentro do Basílio 177. O condomínio terá mais de 35 mil m² de área construída e 22.400 m² de área privativa em três torres com entrada única.

 

No paisagismo, assinado pela Cardim Arquitetura Paisagística, os moradores e pedestres poderão desfrutar de uma vegetação de mata atlântica nativa, incluindo um jequitibá rosa, que será plantado na sua praça central.

"Tínhamos o projeto desde 2018. Quando a lei [do Retrofit] entrou em vigor, permitiu a adaptação do edifício com mais conforto para todos, implantador, construtor e investidor. Se o prédio já durou cem anos, com uma nova transformação ele vai ficar mais cem anos na cidade", diz Scacchetti.

 

"O Brasil tem um modelo de construção que não se renova, não se adapta ao impacto ambiental e ao entorno. Revitalizar patrimônio histórico, principalmente os que estão em processo de deterioração e subutilizados, é ter preocupação ambiental e social. É ser sustentável. São Paulo tem diversos edifícios abandonados com um potencial de valor enorme."

 

Scacchetti conta que 60% do público interessado em adquirir uma unidade do Basílio 177 quer morar, ou voltar a morar, na região central e tem entre 29 e 40 anos de idade. "São pessoas que buscam design exclusivo e boa arquitetura", afirma.

O condomínio terá 274 apartamentos —com cerca de cem tipos de plantas, por causa da adaptação de um prédio comercial em residencial. As metragens vão de 35 m² a 77 m² para os de um dormitório e de 70 m² a 130 m² para os de dois quartos. Esse vai custar a partir de R$ 1,3 milhão.

 

Sobre as dificuldades em restaurar um edifício centenário, Scacchetti cita a necessidade criar impermeabilidade em um terreno 100% permeável.

A surpresa positiva, conta, é encontrar elementos originais de valor histórico que serão preservados, como os pisos de taco de madeira da época, os janelões de 2,60 m de altura com caixilhos de ferro e os elevadores, que possuem o mesmo equipamento do Empire State Building de Nova York, em pleno funcionamento.

Enquanto as obras não começam, o local recebe shows, jantares e festas e quem quer fugir da mesmice. Até o dia 16 de junho, acontecem as noites de "Pizza&Jazz". Com rodízio do prato favorito do paulistano.

 

Na rua Xavier de Toledo, próximo ao Shopping Light, na República, a Yuca atuou em parceria com a israelense Gazit para a revitalização e a gestão do Edifício Antonio de Queiroz Telles, da década de 1970.

As lajes de 180 m² dos dez andares do edifício foram transformadas em 79 estúdios de até 28 m² e tiveram as estruturas elétrica e hidráulica refeitas.

"Negociamos o prédio diretamente com o proprietário e usamos o incentivo do desconto no IPTU para qualificar o projeto, direcionado a um público mais jovem, com lazer completo e padrão acima dos edifícios residenciais vizinhos", diz Rafael Steinbruch, co-fundador da Yuca.

 

Todos os apartamentos serão alugados, e os valores partem de R$ 2.300. O prédio foi modernizado para ter em sua área comum coworking multifuncional, salas acústicas de reunião, solarium na cobertura, academia, sala de ioga, bicicletário e sistema eletrônico de segurança. A Gazit investiu R$ 15 milhões na revitalização do edifício.

"Essa mudança regulatória representa uma grande oportunidade para ajudarmos na revitalização do centro como uma região viva e valorizada, resgatando a história", diz Steinbruch.

 

Quem morar em um dos apartamentos do Yuca Solarium terá desconto ao comprar no Shopping Light, que também tem a Gazit como gestora.

Construído em 1929 como sede da companhia de energia elétrica Light e também projetado pelo escritório de Ramos de Azevedo, o shopping está localizado no histórico prédio Alexandre Mackenzie. Foi adquirido pela Gazit em 2015, por R$ 140 milhões, na oitava aquisição imobiliária da multinacional no Brasil.

"Nós acreditamos muito no centro de São Paulo, por isso investimos", afirma Mia Stark, CEO da Gazit Brasil.

 

Também na República, na rua Martins Fontes esquina com rua Álvaro de Carvalho, a Somauma vai "dar um novo capítulo" na história do Edifício Virgínia, de 1949.

Projetado pelo arquiteto José Augusto Bellucci para Virginia Matarazzo Ippolito, o edifício tinha quatro apartamentos por andar, com metragens de 160 m² e 180 m².

O projeto do retrofit pretende transformar os espaços em 121 apartamentos de 26 m² a 182 m². O valor médio é de R$ 13 mil.

 

Segundo a incorporadora, haverá três lojas no térreo dedicadas à gastronomia e ao mercado criativo, além de uma cobertura que abrigará um restaurante. As obras ainda não começaram.

O objetivo, diz a empresa, é que o antigo imóvel da família Matarazzo "integre arquitetura, urbanismo e economia criativa".

Até este domingo (28), é possível conferir uma ação artística no Edifício Virgínia. São exposições, ateliês, música, conversas e oficinas para marcar a despedida da primeira fase de regeneração do prédio, de acordo com a Somauma. 

FONTE: FOLHA DE S.PAULO