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27/03/2020

Prorrogação de dívida de incorporadora será caso a caso

Bancos rejeitam pedido de incorporadoras para adiamento automático de parcelas

Os bancos vão tratar caso a caso os pedidos das incorporadoras para adiar parcelas de financiamento. As instituições financeiras rejeitaram pedido do setor para que criassem uma política de prorrogação automática dos pagamentos, como foi feito nos contratos de pessoas físicas, apurou o Valor.

 

A Abecip, associação das instituições financeiras que atuam no crédito imobiliário, vai emitir uma nota técnica recomendando que os bancos sejam sensíveis à situação atual e tentem apoiar o setor, mas levando em conta as especificidades de cada empresa. Na prática, será uma solução caso a caso de cada instituição para cada companhia do setor.

 

As incorporadoras haviam solicitado à Abecip que os bancos se comprometessem a prorrogar os pagamentos das parcelas de forma automática. Queriam também que as instituições agilizassem a liberação de novos recursos, por exemplo, dispensando a vistoria das obras num primeiro momento, segundo fonte do setor financeiro.

 

Um executivo ligado a uma incorporadora afirmou que o setor queria mais flexibilidade em relação ao percentual mínimo de avanço das obras para a liberação de recursos à produção, mas com a manutenção da parcela mínima de vendas considerada atualmente.

 

O que pesou na decisão foi o risco de crédito “enorme” do setor, já que as operações de pessoa jurídica não são padronizadas, como acontece no crédito a pessoas físicas. “Cada empreendimento tem características diferentes em termos de valores, localidades e grupos”, disse fonte de uma instituição financeira.

 

Os bancos até agora não recuperaram suas carteiras de crédito ao setor de construção depois do tombo sofrido na recessão mais recente. As instituições tiveram de reestruturar dívidas das companhias e ainda têm um estoque de dezenas de milhares de imóveis retomados por falta de pagamento de empresas e pessoas.

 

Apesar disso, a fonte do setor bancário afirmou acreditar que haverá disposição de pelo menos parte das instituições financeiras em ser mais flexíveis com as empresas neste momento, inclusive pelo aprendizado da crise vivida nos últimos anos.

 

O presidente da Abrainc (associação das incorporadoras), Luiz França, afirmou não ter dúvidas de que os bancos “agirão com coerência, analisando caso a caso” a situação das companhias. “O mercado é muito grande, com um grande número de empresas, com necessidades específicas”, disse.

 

Para França, é importante que os bancos tenham “entendimento da situação” do setor e levem em conta que o segmento é a “locomotiva do PIB”. Ele lembrou que há um déficit habitacional de 7,8 milhões de moradias no país.

 

Procurada pelo Valor, a Abecip não comentou o assunto até o fechamento desta edição.

FONTE: VALOR ECONôMICO