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07/10/2015

Poupança tem perda de R$ 54 bi no ano

Desempenho é o pior desde 1995, quando o BC passou a compilar os dados; só em setembro, saques superaram os depósitos em R$ 5,3 bi

Célia Froufe 

A caderneta de poupança voltou a perder recursos em setembro. No pior setembro dos últimos 20 anos, a caderneta registrou R$ 5,3 bilhões a mais de saques do que depósitos. Segundo especialistas, a retirada de recursos se deve à recessão, à corrosão dos salários pela inflação e à concorrência com outras aplicações mais atrativas.

Enquanto os brasileiros aplicaram R$ 158,2 bilhões na poupança no mês passado, a quantia de resgates somou R$ 163,5 bilhões. Contando com os rendimentos no período, de R$ 4,2 bilhões, o total de recursos investido na caderneta está em R$ 644,1 bilhões. 

No acumulado do ano até setembro, o volume retirado da poupança – já descontados os depósitos – foi de R$ 53,8 bilhões. Também se trata do maior valor para o período desde 1995, quando o Banco Central começou a reunir essas informações.

Até então, o pior setembro para a caderneta havia sido em 2000, quando o resultado ficou negativo em R$ 1,9 bilhão. O resultado de 2015 até agora também é significativo: pela primeira vez desde 2003 se vê um volume de resgates maior do que o de aplicações em todos os meses de um ano, de janeiro a setembro. 

Para o Banco Central, há evidências de que boa parte dos saques desde o início do ano é de um grupo considerado de “novos investidores”, que tinham escolhido a caderneta no passado como uma forma de investimento em um momento de maior rentabilidade da aplicação. 

Concorrência - No ano, o dólar registra uma valorização de 45%. No mesmo período, a taxa básica de juros teve tendência de alta desde o final de 2014 e atualmente está em 14,25% ao ano. Já a remuneração da poupança é formada por uma taxa fixa de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), que variou de 0,0905 a 0,2499 no mês passado. Assim, o ganho coma caderneta para as contas com aniversário dia 1.º de outubro, por exemplo, foi de 0,6799% de agosto para setembro.

Para a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a tendência para os próximos meses é de que este movimento de redução no volume dos depósitos da poupança se acentue, agravado ainda mais em um ambiente econômico mais recessivo e elevação da inadimplência. 

Segundo a Anefac, esse cenário de inflação e juros elevados, queda de renda e do emprego e rentabilidade da poupança reduzida frente aos fundos de investimento vai permanecer até o fim do ano. 

Crédito imobiliário - O dinheiro depositado na poupança é o mesmo que os bancos usam para o crédito imobiliário e para o setor rural. Com essa fuga da caderneta vista, o setor imobiliário argumentou que os negócios não andavam porque os financiamentos haviam secado.

O governo decidiu intervir em maio e liberou os bancos a usarem R$ 22,5 bilhões dos depósitos da poupança que são obrigados a manter no BC como uma forma de garantia ao sistema e administração da quantidade de dinheiro em circulação. Esses recursos teriam de ser destinados exclusivamente a operações de financiamento habitacional e rural. 

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO