Walter Cover*
A indústria de materiais de construção deverá apresentar uma queda no faturamento real - descontando a inflação - de 10% em 2016. Com isso, nos últimos três anos irá acumular uma redução de cerca de 1/3 do mercado que obteve em 2014.
O impacto é muito forte e fez com que a capacidade de utilização das fábricas recuasse para 65%, em comparação ao índice histórico de 84%, e reduzisse sua força de trabalho em mais de 20% no último triênio.
Os dois grandes segmentos de mercado da indústria de materiais, o comércio varejista e as construtoras foram afetados pela derrocada da economia, mas cada um deles tem suas particularidades.
O varejo, que vende quase que exclusivamente para as famílias realizarem reformas e ampliações nas moradias por todo país, é afetado pelo desemprego crescente, pela perda de renda do trabalhador brasileiro e o crédito que está cada vez mais escasso por conta da crise econômica.
No Brasil, as construtoras são responsáveis pelas edificações residenciais e comerciais e pelas obras de infraestrutura. As edificações residenciais também são impactadas pelo desemprego ou pelo receio de perder o emprego e a conseqüência direta é o adiamento do sonho da casa própria.
O financiamento imobiliário despencou nos últimos dois anos. Os empresários se guiam pelas grandes variáveis da economia, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e pelas condições de financiamento. Como todos sabemos, a economia não vai bem e os bancos comerciais estão dificultando o crédito e cobrando juros fora da realidade.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem a função de financiar os investimentos privados, com um componente social, usa a rede bancária privada para empréstimos abaixo de R$ 20 milhões e os bancos privados não facilitam. Os governos têm acusado queda na arrecadação fiscal, o caixa está baixo, e como consequência os gastos e investimentos públicos estão contidos.
Mas como sair dessa?
A saída será lenta e gradual. Não há uma bala de prata, e a retomada requer muitas pequenas e grandes ações coordenadas de política pública. O governo federal tem reagido, criou a faixa 1,5 do Minha Casa Minha Vida, lançou o Cartão Reforma, irá incrementar o ConstruCard, reduziu os juros do financiamento imobiliário, organiza leilões de concessões, Parcerias Público Privadas (PPPs) e privatizações. São iniciativas muito bem-vindas, ainda tímidas, mas na direção certa. O papel do setor privado é ser parceiro nesses projetos.
É fundamental, entretanto, modificar a sistemática de empréstimos para investimentos e capital de giro do BNDES, atuando mais diretamente nos empréstimos de menor valor, acelerar os leilões de concessões, atuar para reduzir a burocracia na aprovação dos projetos, trazer o câmbio para bases realistas para deslanchar as exportações e acima de tudo, priorizar programas que tenham a virtude de criar mais empregos.
Com a janela de oportunidade criada pelo governo central para fazer as reformas e trazer o equilíbrio das contas públicas, e um pouco mais de ousadia nos programas de estímulo, a confiança dos agentes econômicos continuará crescendo e em particular o empresário da construção saberá reagir, investir e empregar e inovar, como tantas vezes já fez no passado.
* Presidente da Abramat