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18/11/2016

Para Setubal, valor de ação não reflete serviços e seguro do Itaú

O argumento de Setubal é que o resultado do banco com serviços e seguros, menos exposto à deterioração da economia, mais que compensa o desempenho do crédito, afetado pelo aumento de inadimplência em tempos difíceis.

Na tarde de ontem, em um evento em São Paulo, Roberto Setubal aproveitou a plateia lotada de analistas e investidores ali reunidos para reforçar uma mensagem em particular: o preço da ação do banco que comanda, o Itaú Unibanco, está muito abaixo do que deveria.

No lugar de se queixar, o executivo dedicou mais de quinze minutos de sua apresentação - com direito a uma série de gráficos - a defender a tese de que o mercado acionário não atribui o devido valor ao maior banco privado brasileiro. "O mercado ainda olha o Itaú muito como uma empresa de crédito. Temos sim uma carteira de crédito enorme, na casa dos R$ 600 bilhões, e queremos continuar crescendo. Mas nós temos outro negócio, de serviços e seguros, que não está sujeito ao mesmo ciclo do crédito. Os investidores não entendem isso direito, não valorizam isso", disse, durante reunião da Apimec (associação de analistas), em São Paulo. "Sendo bem direto, o preço da ação do Itaú está baixo".

O argumento de Setubal é que o resultado do banco com serviços e seguros, menos exposto à deterioração da economia, mais que compensa o desempenho do crédito, afetado pelo aumento de inadimplência em tempos difíceis. O executivo mostrou a diferença em números: nos nove primeiros meses deste ano, o banco teve um lucro líquido recorrente de R$ 16,3 bilhões, sendo que R$ 5,5 bilhões vieram das operações de crédito e tesouraria e R$ 9,7 bilhões de seguros e serviços. O restante (R$ 1,1 bilhão) veio da aplicação do excesso de capital do banco. A diferença é ainda mais acentuada em termos de rentabilidade.

Enquanto as operações de crédito e tesouraria tiveram retorno sobre o capital alocado de 12,6% no período, as de seguridade e serviços tiveram rentabilidade de 34,2%. "Nosso modelo de negócios tem uma base muito mais sólida de geração de resultados que vai muito além de empréstimos", disse. "Esse mix garante uma estabilidade muito maior para os resultados do banco." Pelo menos no curto prazo, porém, os argumentos de Setubal não foram suficientes para animar os investidores, em mais um dia nervoso no mercado. No pregão de ontem, as ações preferenciais do Itaú fecharam em queda de 2,99%, cotadas a R$ 35,06. O recuo foi maior que o do Ibovespa, principal índice da bolsa, que teve baixa de 1,63%.

Os demais bancos também fecharam em queda. Para Setubal, parte da explicação do preço abaixo do esperado das ações do banco está na forte presença de investidores estrangeiros em sua base acionária. Na opinião dele, o Itaú é um banco muito mais diversificado em termos de receitas que outros bancos globais, o que não é percebido por esses investidores. "O Itaú mereceria ter um valor de ação mais compatível com seu histórico de resultados", disse. O executivo aproveitou o evento para fazer outra promessa aos presentes: melhorar a rentabilidade das operações de crédito e tesouraria do banco, hoje em 12,6%.

A meta é elevar esse retorno para pelo menos o custo do capital da instituição, que se situa entre 15% e 16%, afirmou. A melhora passa por uma diminuição das despesas com provisão para devedores duvidosos e pela redução da taxa de inadimplência, movimento que Setubal diz já estar em curso. Segundo ele, os índices de inadimplência nas linhas de crédito para pessoas físicas e para grandes empresas já começam a dar sinais consistentes de queda. 

FONTE: VALOR ONLINE