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24/03/2017

Nota estruturada ganha impulso com corretoras

Segundo dados da Cetip, que centraliza o registro dos COEs, do R$ 1,3 bilhão já emitido em 2017 até o fim de fevereiro, uma fatia de 11,4%, ou R$ 148,1 milhões, foi distribuída por corretoras e plataformas de investimentos.

A estreia de corretoras e plataformas de investimentos na distribuição de certificados de operações estruturadas (COE) começa a dar popularidade para esses títulos bancários flexíveis, que podem estar atrelados a estratégias e ativos diversos - ações, dólar ou juros, tanto no Brasil quanto no exterior. Um ano após o aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que esse tipo de investimento escoasse por meio de terceiros, o que se percebe é uma aceleração no ritmo de operações que têm chegado às mãos dos investidores por essa via.

Segundo dados da Cetip, que centraliza o registro dos COEs, do R$ 1,3 bilhão já emitido em 2017 até o fim de fevereiro, uma fatia de 11,4%, ou R$ 148,1 milhões, foi distribuída por corretoras e plataformas de investimentos. No ano passado, desde fevereiro, quando passou a valer a regra, até dezembro, essas instituições tinham vendido R$ 343,7 milhões. O total emitido no ano chegou a R$ 9,5 bilhões.

O Morgan Stanley, justamente por não ter capilaridade para chegar ao investidor final, viu na distribuição das corretoras uma forma eficiente de captação, com emissão de COE por prazos que se estendem por até cinco anos. Conforme conta o diretor de renda variável, Eduardo Mendez, só neste ano, o banco fez sete emissões, com um total de R$ 40 milhões até o fim de fevereiro, enquanto em 2017 inteiro tinha originado menos de R$ 100 milhões.

"Há uma perspectiva de crescimento importante no transcurso de 2017, com a adaptação dos distribuidores e melhor entendimento da regulação", afirma. Sua expectativa é superar o volume de 2016 ainda no primeiro trimestre." Uma estrutura que começa a aparecer, diz, é de COE com um grupo de ações com janelas semestrais, ou seja, dependendo do prazo da nota, se houver performance positiva daqueles ativos, pode haver pagamento de remuneração antecipado.

De acordo com Mendez, são os distribuidores, as divisões de private banking ou plataformas de investimentos, que costumam encomendar estratégias de COE conforme a sensibilidade de demanda de seus investidores. "A corretora, geralmente, desenvolve a tese de investimento e vem pedir uma emissão de COE que precifique aquela estrutura e as condições nas quais o banco está disposto a emitir", diz. No momento, a instituição tem quatro captações de estruturas distintas na rua.

A XP Investimentos, por exemplo, tem sido um distribuidor bem ativo de COE e tem oito ofertas simultâneas na prateleira. Segundo Victor Mansur, chefe da mesa de produtos estruturados, a opção tem sido oferecer diversificação internacional. A instituição desenha as estratégias e cota as operações com os emissores. "Com R$ 5 mil, o investidor consegue ficar exposto à bolsa americana", exemplifica.

Conforme conta, uma operação recorrente emitida pelo Morgan Stanley oferece a performance do S&P 500, mais uma remuneração prefixada de 24% por cinco anos. Outro COE representa um fundo de índice (ETF) da BlackRock com uma carteira de bônus "high yield", também com vencimento em cinco anos, com ganho de predeterminado de 42%, além da variação do ETF no período. "Há uma aderência boa, o cliente entende o momento de queda de juros e garante 7% ao ano mais a rentabilidade da carteira de bonds nos EUA."

A Easynvest já tem 6 mil CPFs únicos de investidores que adquiriram COE e deve fechar o trimestre com mais de R$ 30 milhões distribuídos, calcula o sócio da corretora Márcio Cardoso. "A gente tem feito de dois a três COEs por semana, a procura tem sido relativamente grande", afirma. A corretora trabalha com vários emissores, como Morgan Stanley, Citi, Haitong, Credit Suisse ou ABC Brasil. "Essas instituições têm tentado, dentro de casa, aprovar a maior quantidade de produtos para ter em prateleira e oferecer aos investidores, mas o processo às vezes é lento."

Após a esticada da bolsa de 2016 para cá, com ganhos acima de 45%, as estratégias de maior apelo, diz Cardoso, são aquelas relacionadas a uma cesta de ações. Uma das operações que atraíram maior demanda foi uma nota com o Ibovespa, em que o investidor podia ganhar tanto com a baixa quanto com a alta do índice. Na operação, a Easynvest capturou quase R$ 7 milhões. As ofertas têm sido todas com capital protegido e prazo de um ano para que o aplicador teste esse tipo de risco.

Por ter uma extensa rede de agências, o Itaú ainda não avançou pela distribuição de terceiros. Segundo Luciano Diaféria, superintendente de produtos de mercado do Itaú BBA, essa é uma modalidade de investimento que tende a ficar restrita ao público de alta renda e do "private banking", por causa da baixa liquidez, compondo pequena parcela do patrimônio. "O grande varejo ainda tem pouco dinheiro para guardar, precisa construir primeiro a reserva de emergência, superar essa fase, para olhar para um produto desses."

Mesmo assim, ele não vê razão para que o COE não atinja uma fatia mais relevante da indústria de investimentos e chegue à casa dos R$ 50 bilhões em poucos anos. O produto é relativamente novo, só foi regulamentado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em setembro de 2013. O estoque hoje é de R$ 9,5 bilhões. O executivo diz ter participado das discussões sobre ofertas públicas de COE com a CVM e uma das preocupações era que o investidor entendesse o que está comprando. "Tem um lado interessante porque tem mais gente falando, vendendo o produto, isso estimula o mercado e ajuda na educação do investidor."

Fábio Zenaro, superintendente de produtos da Cetip, acredita que apesar dos valores de ingresso baixos, o COE dificilmente será um produto de prateleira nas corretoras porque é uma modalidade que tem risco do emissor, e não conta com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), como numa LCI, LCA ou CDB. "O investidor tem que entender todos os cenários possíveis, não acho que vão sair vendendo a torto e a direito."

A favor do segmento, diz Diaféria, do Itaú BBA, agora o mercado já dispõe dos resultados das primeiras operações feitas em 2014 e que venceram no ano passado. Conforme cita, as notas atreladas à inflação emitidas pelo banco renderam o equivalente a 120% do CDI, e dois terços das demais estratégias ficaram acima dos índices de referência.

O Santander também tem usado a própria rede para distribuir o COE e desde o fim de 2016 passou a oferecê-lo na segmentação Van Gogh, de alta renda, acatando aplicações a partir de R$ 15 mil. "Era um cliente carente de alternativas mais cômodas, é um perfil que não costuma diversificar tanto, que muitas vezes deixa o dinheiro no CDB ou na poupança", diz Simon Peled, superintendente de vendas da Tesouraria do banco.

A instituição acaba de lançar uma estratégia atrelada à inflação que promete 200% do IPCA por um prazo de pouco mais de dois anos. Pelo documento da oferta esse resultado não parece tão explícito.

No primeiro cenário, de IPCA maior que o valor de referência, o aplicador terá o ganho máximo se o IPCA final for superior ao referencial, recebendo o valor investido mais o IPCA, equivalente "à participação na variação positiva do IPCA". No pior cenário, se o IPCA final for igual ou menor que o valor de referência, o investidor recebe o valor aplicado corrigido pela taxa de remuneração mínima. Pelo glossário, o valor de referência é o percentual inicial do IPCA, definido no ato da contratação, bem como a participação e a remuneração mínima. Ficou claro?

O executivo explica que, a partir de um IPCA de 4%, a estrutura já é mais vantajosa do que a aplicação numa NTN-B no Tesouro Direto. Na hipótese de inflação baixa o COE asseguraria pelo menos 4,4%, numa operação de capital protegido, diz Peled.

A companhia consumiu caixa de R$ 63,2 milhões no quarto trimestre e de R$ 261,7 milhões no ano. No fim de 2016, a alavancagem da Rossi medida por dívida líquida sobre patrimônio líquido era de 269,9%. Há um ano, a Rossi concluiu a primeira fase do plano de renegociação das dívidas corporativas, com ampliação do prazo médio de dez meses para 39 meses e redução dos custos. A companhia tenta negociar com os credores as próximas fases. 

FONTE: VALOR ECONôMICO