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16/07/2015

Medidas de estímulo fazem China crescer 7%, mas ritmo deve cair

Os dados sugerem que os estímulos do governo estão tendo um impacto. O crescimento do investimento em ativos fixos ficou estável em 11,4% no ano até junho, em relação a maio, após desacelerar em nove dos dez meses anteriores.

Gabriel Wildau e Tom Mitchell

A China teve crescimento firme no segundo trimestre, com reação dos principais indicadores de produção, o que sugere que medidas de estímulo lançadas desde o fim do ano passado amorteceram o declínio que vinha ocorrendo.

A Agência Nacional de Estatísticas anunciou crescimento de 7% no segundo trimestre, inalterado em relação ao primeiro trimestre e exatamente na meta de crescimento de "cerca de 7%" do premiê Li Keqiang para o ano. A economia da China cresceu 7,4% em 2014.

Esse resultado se dá após quatro cortes na taxa básica de juros desde novembro e reduções no compulsório bancário que somam mais de 1,5 ponto porcentual. "O governo não poderia esperar um conjunto de dados melhor. O crescimento real do PIB de 7% foi um grande feito para a economia e ficou acima da nossa previsão", disse Tom Rafferty, economista da Economist Intelligence Unit na Ásia.

Mas ele alertou que fatores temporários, incluindo o boom do mercado de ações, estimularam o resultado. "Ele reflete uma contribuição fora do comum do setor de serviços financeiros, que esteve muito aquecido na maior parte do período de abril a junho. O enorme superávit da balança comercial no segundo trimestre também contribuiu para o crescimento. Esses fatores estarão menos presentes na segunda metade do ano."

De forma geral, economistas concordam que a economia chinesa terá uma maior desaceleração em relação às taxas de crescimento de dois dígitos da última década, devido ao encolhimento da força de trabalho e aos ganhos declinantes da transição de uma sociedade agrícola para uma industrial. Mas autoridades querem ter certeza de que a desaceleração será gradual, dando a elas tempo para promover novos motores do crescimento, como o consumo e os serviços.

O afrouxamento monetário vem tentando conter a desaceleração dos investimentos, que prejudicando a economia à medida que construtoras lançam menos empreendimentos imobiliários em meio a um excesso de imóveis não vendidos, e as fábricas reduzem o ritmo devido à queda das vendas.

"A recuperação da economia mundial está lenta e tortuosa, e as bases para a estabilização da economia da China precisam ser mais consolidadas", disse a Agência Nacional de Estatísticas.

Os dados sugerem que os estímulos do governo estão tendo um impacto. O crescimento do investimento em ativos fixos ficou estável em 11,4% no ano até junho, em relação a maio, após desacelerar em nove dos dez meses anteriores.

Os investimentos no mercado imobiliário seguiram caindo, mas a venda de imóveis subiu 16% em termos de área construída em junho, maior alta mensal desde o fim de 2013 e maior evidência até agora de que o mercado imobiliário está se recuperando após 13 meses seguidos de queda até março.

Ainda assim, esse setor deve se manter fracos enquanto o mercado digere o estoque remanescente de moradias não vendidas.

Economistas dizem que os gastos públicos com infraestrutura estão levando a reação dos investimentos, mesmo com os investidores privados ainda cautelosos. "A retomada parece estar no lado da infraestrutura, que reflete o esforço do governo de amparar a economia", diz Grace Ng, economista do JP Morgan Chase para a China.

O setor industrial ainda está cauteloso em ampliar a capacidade de produção, mas a alta dos demais investimentos vem estimulando a demanda nas fábricas já existentes. A produção industrial cresceu 6,3% (anualizados) em junho, maior taxa em quatro meses.

Governos locais anunciaram metas agressivas de gastos em infraestrutura para este ano, num esforço para manter o crescimento dos investimentos. Além disso, o BC chinês está alocando empréstimos para projetos específicos, para garantir a oferta de dinheiro à economia real, em vez de ele ficar circulando no sistema financeiro e alimentando bolhas de ativos.

Os dados sobre empréstimos desta semana mostram rápido aumento do crédito em junho, sinal de que o crédito mais barato está elevando a disposição das empresas de investir. Mas o governo quer calibrar os estímulos para conter riscos financeiros. 

 

FONTE: VALOR ECONôMICO