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11/06/2021

Itaú reduz taxa para construção ‘verde’

Produto terá juro menor para projetos que reduzirem consumo de água e energia em 20%

O Itaú BBA lançou uma linha de financiamento para estimular a sustentabilidade no setor de construção, um dos mais poluentes do mundo. Batizado de Plano Empresário Verde, o produto terá taxas de juro menores para construtoras e incorporadoras que reduzirem em 20% o consumo de água, energia e energia embutida em materiais, e conseguirem a certificação Edge (sigla em inglês para “excelência em design para maior eficiência”), fornecida pela International Finance Corporation (IFC), o braço de investimentos Banco Mundial no setor privado.

 

O aumento de 20% na eficiência é em relação a um edifício padrão, conforme estabelecido pela metodologia Edge, e considera toda a vida útil do projeto. Ou seja, escolhas de materiais e projetos arquitetônicos que favoreçam menor uso de energia ou reúso de água, por exemplo, entram na conta. Assim, a economia esperada não se dá só durante as obras.

 

A linha vale para novas construções e reformas (retrofit) de empreendimentos residenciais e comerciais, incluindo shoppings e galpões. O Itaú não tem uma quantia fixa para a iniciativa. Os primeiros projetos serão na região metropolitana de São Paulo, a mais densamente habitada do país, e depois se espalharão para outras áreas.

 

A construtora, ao aderir à linha e alcançar a certificação preliminar Edge, contará com uma redução na taxa originalmente contratada. O projeto será auditado periodicamente pelo banco e pela IFC. Ao todo, serão realizadas quatro verificações durante a obra para checar o andamento do trabalho, segundo estratégias definidas para construção sustentável. Se em algum momento for verificado que a meta de 20% de economia não será atingida, o benefício da taxa de juros é eliminado, a empresa pagará uma penalidade de 1% ao fim do projeto e não terá o selo Edge.

 

Segundo Miltom d’Avila, superintendente do segmento imobiliário do Itaú BBA, em um primeiro momento o banco deve atender construtoras que já são clientes e que ele sabe que têm critérios elevados de governança e padrões sociais e ambientais (conhecidos pela sigla em inglês ESG). “À medida que a gente for entendendo um pouco melhor a aceitação, a escalabilidade do projeto, vamos fazer uma oferta mais abrangente. O que a gente quer é dar o direcionamento correto para o processo produtivo, para que o setor de construção seja mais eficiente, traga mais valor para a sociedade, com o cuidado ambiental”, diz.

 

Bruno Bianchi, diretor comercial large corporate e imobiliário do Itaú BBA, afirma que a pauta ESG está cada vez mais presente na agenda de companhias de todos os portes. “Talvez para empresas menores haja certas adaptações a ser feitas, mas nossa expectativa é de uma aceitação bastante grande.” Na construção residencial, o tíquete médio varia entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões.

 

O primeiro financiamento foi contratado neste mês pela MPD Engenharia para o projeto Verve Pinheiros. A unidade contará com iluminação em led na área comum, reúso pluvial para irrigação dos jardins, central de lixo com armazenamento de recicláveis e uso passivo de recursos naturais, como iluminação e ventilação, além da utilização de plantas nativas da Mata Atlântica no paisagismo. “Trabalhar para alcançar a certificação Edge, que reconhece construções que ajudam a combater de forma efetiva as mudanças climáticas, sinaliza que estamos no caminho certo por uma performance mais sustentável”, diz Milton Meyer, presidente da construtora.

 

Carlos Leiria Pinto, gerente geral da IFC no Brasil, afirma que incentivar projetos de edifícios verdes é primordial. “No Brasil, a velocidade da urbanização apresenta uma das taxas mais rápidas do mundo, ficando atrás apenas da China e da Índia, e a incorporação desse novo desenho trará efeitos imediatos para a sociedade”, aponta. Ele lembra que o setor de construção é um dos mais poluentes, respondendo por 39% das emissões de gases causadores do efeito estufa no mundo. Depois de prontos, edifícios residenciais e comerciais são 33% do consumo de energia e 40% do consumo de água globais.

 

Além da concessão do selo, a IFC entrará no projeto com assessoria e capacitação dos técnicos do Itaú. Em um primeiro momento, não participará da concessão dos financiamentos. “Mas essa é uma perspectiva para o futuro”, diz Pinto. No mundo, o selo Edge existe desde 2014 e já foi aplicado na construção de 23 milhões de metros quadrados e 145 mil unidades habitacionais. O impacto é de 415 mil toneladas de CO2 a menos por ano, além de economia de 24 milhões de metros cúbicos de água e 857 mil megawatts de energia.

 

Pinto diz que construir um edifício mais sustentável pode aumentar os custos entre 3% e 5%, mas as economias geradas pagam isso em dois ou três anos. “Quem não adotar esses padrões de eficiência vai ficar fora do mercado.” 

FONTE: VALOR ECONôMICO