Por Ana Luiza Tieghi
A inflação da construção, captada pelo Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), desacelerou em novembro – puxada pelo componente de materiais, equipamentos e serviços –, enquanto a mão de obra ficou praticamente estável. O índice teve alta de 0,44% neste mês, ante 0,67% em outubro. No acumulado dos últimos 12 meses, no entanto, a alta é de 6,08%, bem acima dos 3,33% registrados no mesmo período de 2023.
Nas teleconferências com investidores, para debater os resultados do terceiro trimestre, divulgados neste mês, executivos das incorporadoras listadas na Bolsa de Valores repetiram que a inflação setorial demanda atenção, mas que os custos estão sob controle e têm sido repassados, com sucesso, aos clientes, quando necessário.
“Ainda não estamos perdendo sono como foi em 2020 e 2021”, afirmou João Carlos Mazzuco, diretor-financeiro da Cury. “Todos os meses, corrigimos os preços pelo INCC e, mesmo com essa correção, temos conseguido continuar vendendo unidades com boa performance”, disse, ao Valor, o diretor-financeiro da Cyrela, Miguel Mickelberg.
De fato, as incorporadoras aumentaram suas vendas em 39% no trimestre, na comparação com o mesmo período de 2023, mostram dados obtidos pelo Valor Data, com base nos resultados de 31 companhias. O lucro líquido dessas empresas cresceu 287% no mesmo período.
Ricardo Gontijo, CEO da Direcional, foi além. Na reunião da empresa com analistas, afirmou que “não deveria ser criado todo esse ruído” sobre a inflação da construção, uma vez que o setor já passou por momentos muito piores na pandemia, quando o indicador bateu 17% no acumulado dos 12 meses. “Não acho que esse é o ponto de destaque agora”, disse.
O cenário macroeconômico, com juros subindo, preocupa todas as empresas, mas as incorporadoras de médio e alto padrão são mais sensíveis, porque seus clientes não contam com as taxas fixas de juros concedidas pelo programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
Ainda assim, o número de imóveis financiados pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), de 469,5 mil no acumulado de janeiro a outubro deste ano, ainda é 13% maior do que no mesmo período de 2023.
Para quem opera o Minha Casa, Minha Vida
Para as incorporadoras que atuam no MCMV, há mais tranquilidade no horizonte, dado que o orçamento de 2025 já está assegurado e um concorrente interno está sendo neutralizado: os imóveis usados financiados pelo programa.
Relatório de analistas do Santander mostra que a parcela de recursos do FGTS (que sustenta o MCMV) utilizada para financiar imóveis usados foi de 7,7% em outubro, uma queda de 75% sobre o mesmo mês de 2023 e abaixo da média histórica, de 13%. Isso é resultado de medidas mais restritivas à oferta desse crédito, tomadas após reclamação do setor imobiliário.
Reforma Tributária
O segmento, agora, tenta evitar ser atingido pelo que considera ser um aumento da carga de impostos, com a Reforma Tributária. Nesta terça-feira (26), em evento promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), o secretário extraordinário da reforma no Ministério da Fazenda, Bernard Appy, disse que a alíquota a ser cobrada do setor será decidida ainda nesta semana, como reportou o Valor.
Entidades da construção defendem um redutor de 60% na alíquota de imposto, mas o texto atual prevê 40%. Também há reclamações específicas sobre a carga tributária para locações, que poderiam afetar proprietários pessoa-física, que hoje não são tributados para além do Imposto de Renda.
“O que está hoje na lei preocupa muito”, afirmou Rodrigo Luna, presidente do Secovi (sindicato da construção), para quem os imóveis podem ficar mais caros se a reforma passar como está hoje. Ele reforça que o sistema atual de impostos exige mudanças, mas é preciso “entender as consequências” da reforma.