O corte na projeção de alta no Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil em 2025, passando de 2,3% para 1,3%, não representa o fim do ciclo de crescimento do setor. Em vez disso, a expectativa é que a construção volte a ganhar fôlego no próximo ano.
“Achamos que o PIB da construção em 2026 vai crescer mais do que neste ano”, afirmou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, em apresentação à imprensa. “O menor ritmo de atividade na construção neste ano não significa fim de ciclo de crescimento, nem que há um baixo nível de atividade”, complementou a economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos.
Os representantes da CBIC explicaram que o corte nas projeções para este ano é um reflexo do efeito dos juros altos sobre a economia brasileira, que tem reduzido o desenvolvimento de novos projetos, as contratações e, principalmente, a compra de materiais de construção pelas famílias para fins de reformas e obras domésticas.
Já para o ano que vem, a previsão é que o PIB da construção se recupere, tendo em vista o início do ciclo de corte da Selic e as medidas governamentais adotadas para estimular as atividades do setor. “Para o futuro, vemos algumas ações para corrigir isso (problemas causados pelos juros altos)”, afirmou Correia.
O presidente da CBIC citou o recém-lançado programa de crédito para reforma de moradias, com R$ 40 bilhões de orçamento. “Os R$ 40 bilhões vão ajudar a recompor a demanda por materiais no varejo e ajudar a elevar o PIB da construção”, estimou Correia.
Ele também citou o recém-lançado modelo de crédito imobiliário, com liberação de aproximadamente R$ 40 bilhões dos depósitos compulsórios da poupança para abastecer os financiamentos do setor. Correia mencionou ainda que há estudos em andamento para colocar mais recursos do FGTS para habitação de interesse social - dentro do Minha Casa, Minha Vida (MCMV).
Por sua vez, Vasconcelos lembrou que houve recorde de lançamentos imobiliários nos últimos anos e que irão se transformar em obras nos próximos trimestres. “O setor vai entregar muitas obras e iniciar outras. O nível de atividade ainda é elevado”, ressaltou.
A economista disse ainda que há obras de infraestrutura saindo do papel, graças aos investimentos já contratados nos programas de concessões. Além disso, cada ano eleitoral costuma ter mais obras, movimentando a economia. “O menor ritmo de atividade na construção não significa fim de ciclo de crescimento, nem que há um baixo nível de atividade”, disse Vasconcelos.
Na sua avaliação, uma alta de 1,3% neste ano, se confirmada, ainda será um dado muito positivo, uma vez que a base de comparação é elevada. No ano passado, o PIB da construção teve alta de 4,3%.
Empregos
A construção civil atingiu a marca de 3,051 milhões de pessoas empregadas com carteira de trabalho em agosto, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, e está perto de bater o recorde registrado em outubro de 2013, quando eram 3,074 milhões.
“O setor está perto de bater recorde de empregos”, destacou a economista-chefe da CBIC, Ieda Vasconcelos, durante apresentação à imprensa. Ela estimou que o recorde pode ser atingindo ainda este ano.
Entretanto, os últimos meses de cada ano costumam ser marcados por uma desaceleração das atividades da construção e perda de empregos. Desse modo, o setor deve ficar acima do recorde atual de maneira mais duradoura só em 2026. “Há sinalização de continuidade do crescimento do emprego para o ano que vem”, destacou.
Todos os três segmentos do setor aumentaram o número de trabalhadores na comparação entre agosto deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado. O incremento foi observado na construção de edifícios (3,02%), nas obras de infraestrutura (1,75%) e nos serviços especializados (3,98%).
Nos últimos 12 meses encerrados em agosto de 2025, o setor criou 89 mil novos empregos. Apesar de positivo, houve uma perda de fôlego no ritmo de contratações. O montante foi menor do que nos 12 meses anteriores a agosto de 2024, quando foram criadas 148,5 mil vagas. Essa desaceleração reflete o efeito do juro alto, que inibe o desenvolvimento de novos projetos e as contratações.
Custos
A subida dos gastos com mão de obra é o que mais tem puxado a inflação da construção civil, apontou Ieda Vasconcelos.
Ela observou que o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) cresceu 6,78% no acumulado dos últimos 12 meses até setembro, conforme dados da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A mão de obra cresceu 9,88%, enquanto materiais e equipamentos subiram 4,53% e os serviços, 5,47%. O peso da mão de obra reflete o nível baixo de desemprego no país e a falta de trabalhadores qualificados, dificultando as contratações.
Vasconcelos observou ainda que o custo da construção continua em patamar superior à inflação oficial do País, medida pelo IPCA, que estava em 5,17% no mesmo período. “Os custos andam estáveis, mas estacionaram em um patamar elevado”, disse.