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20/08/2020

Incorporadoras repaginam imóveis para atender a novos hábitos do comprador no pós-pandemia

Empresas ampliam área dos apartamentos para famílias que se acostumaram a passar mais tempo em casa durante a pandemia e apostam em espaços compartilhados para trabalhar

A safra de empreendimentos imobiliários que chegam ao mercado neste semestre já traz alterações nos projetos para atender aos hábitos dos consumidores que vieram à tona na quarentena. Muita gente foi obrigada a passar mais tempo em casa, que se tornou o centro das atividades de trabalho e lazer. Isso levou a um aumento nas buscas por residências maiores, com espaços para coworking e em regiões mais sossegadas.

A incorporadora Mitre está aumentando em 10 m² parte dos seus empreendimentos de dois e três quartos destinados a famílias com filhos. "O apartamento de 80 m² foi para 90 m² e o de 90 m² foi para 100 m². Esse aumento serve para montar uma ilha de trabalho ou ampliar o espaço de cozinha. Ajuda quem trabalha em casa ou quem está cozinhando mais, por exemplo", disse o diretor de relações com investidores, Rodrigo Cagali.

Os novos projetos da Mitre também terão um redesenho para ampliar as áreas dos condomínios onde são guardadas as entregas de compras online. A incorporadora estuda, inclusive, a adoção de armários térmicos para acondicionar melhor itens alimentícios. A Trisul, na retomada dos lançamentos, priorizou os empreendimentos com três dormitórios, acima de 100 m². "O produto de área maior tem sido mais demandado. As pessoas estão pedindo mais conforto porque ficam mais tempo em casa", observou Jorge Cury, presidente da empresa.

Uma das novidades da Trisul foi a projeção de salões de festas que podem ser revertidos em espaços de coworking. "Durante a semana, o condomínio pode adaptar o local para funcionar com estações de trabalho. E depois voltar a usar para festas no fim de semana. Já vamos entregar o projeto pronto para o síndico", contou Cury.

Novas exigências

A pandemia alterou sensivelmente as preferências dos consumidores por imóveis, conforme tem sido percebido por agentes do setor. A procura por apartamentos com varanda gourmet ou churrasqueira, por exemplo, cresceu 195%. A busca por unidades acima de 120 m² subiu 100% e a acima de 200 m², 25%. Além disso, a procura por casas (no lugar de apartamentos) também aumentou 25%. Os dados fazem parte de um levantamento do site de classificados Kzas comparando os meses de abril a julho - quando a quarentena atingiu seu auge - na comparação com janeiro a março - antes da crise.

Além disso, a popularização do home office gerou uma segunda implicação no mercado: a localização dos prédios. O fundador e presidente da Kzas, Roberto Nascimento, diz que é evidente o interesse do consumidor por imóveis não só maiores, mas também "longe dos engarrafamentos, da poluição e das grandes aglomerações de pessoas", já que não há necessidade de se deslocar diariamente.

A opinião é compartilhada pelo presidente executivo da Tecnisa, Joseph Meyer Nigri. "Bairros mais calmos e mais arborizados nos arredores serão mais aceitos pelos clientes. Então, já temos direcionado esse olhar para os terrenos que nós prospectamos", contou. Como o metro quadrado tem valor menor nesses locais, esses imóveis poderão ter preço mais acessível ou planta maior, complementou.

FONTE: ESTADO DE S. PAULO