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10/03/2025

Inadimplência do aluguel sobe nos primeiros meses do ano; bets agravam endividamento

Os primeiros meses do ano demandam atenção especial para as imobiliárias que atuam com locação.

Os primeiros meses do ano demandam atenção especial para as imobiliárias que atuam com locação. Isso porque os índices de inadimplência costumam ser altos nesse período, segundo um levantamento da Superlógica. No ano passado, o maior índice de inadimplência nos aluguéis foi registrado nos meses de fevereiro e abril (3,86%), seguido por março (3,76%). A empresa leva em consideração dados de mais de 800 mil clientes locatários em todo o Brasil, sendo classificados como inadimplentes aqueles que possuem boletos que estão há mais de 60 dias sem pagamento, ou ainda que foram pagos com atraso de mais de 60 dias.

O diretor de Negócios para Imobiliárias da Superlógica, Manoel Gonçalves, salienta que gastos como IPVA, IPTU, matrícula e material escolar nesse período podem influenciar nesse cenário. “Os gastos do início de ano têm um impacto importante no orçamento das famílias. Além disso, os gastos extras de fim de ano, como compras de Natal e viagens, podem levar a um aperto financeiro que reflete nos meses seguintes. Desta forma, até mesmo o pagamento de uma despesa essencial como o aluguel é afetada”, aponta Gonçalves.

O executivo ainda ressalta a influência das bets na inadimplência dos aluguéis registrada no ano passado. “Em um ano marcado pelo crescimento das apostas esportivas e dos jogos on-line, o impacto nas finanças dos brasileiros foi considerável. Sabe-se que o público de baixa renda é o mais impactado pelas apostas e, quando olhamos apenas para os imóveis residenciais na faixa de aluguel de até R$ 1.000, eles registraram o maior crescimento da inadimplência (9%) entre todas as faixas de preço”, conta.

Ele também pondera que, em 2024, o brasileiro estava mais endividado. De acordo com o mapa da inadimplência do Serasa, mais de 72 milhões de brasileiros possuíam dívidas ou contas em atraso no início do ano passado, uma alta de quase 2% na comparação ao mesmo período do ano anterior. “Seguindo essa linha de análise, com taxas maiores de pessoas endividadas, podemos chegar a uma explicação para essa inadimplência. Porém, o aluguel é dificilmente o primeiro gasto a ser cortado, afinal, a moradia é uma necessidade básica”, pondera Gonçalves.

Inadimplência em 2025

Em janeiro de 2025, segundo o levantamento da Superlógica, a taxa de inadimplência ficou em 3,44%, menor do que os 3,56% de janeiro de 2024. Embora a queda em relação ao ano passado tenha sido discreta, essa mudança é um indicador positivo. “Isso pode estar ligado à melhoria na renda das famílias e a um cenário de reajustes mais brandos no preço dos aluguéis. A variação do IGP-M de janeiro, por exemplo, foi de 0,27%, o que é quase três vezes menor que o registrado em dezembro (0,94%). Como esse índice influencia diretamente na correção dos contratos, os inquilinos podem ter encontrado um pouco mais de fôlego para manter os pagamentos”, explica o diretor da Superlógica. 

Entre as regiões do país, a maior taxa de inadimplência em janeiro foi na região Norte (6,77%). Já em relação ao valor do aluguel, a maioria dos inadimplentes esteve na faixa de aluguel acima de R$ 13 mil (5,80%), com valores também significativos na faixa até R$ 1.000,00 (5,34%). A análise da Superlógica também mostra que os imóveis comerciais registraram taxas de inadimplência mais altas do que os residenciais (de 4,55%, contra 2,33% de apartamentos e 3,75% das casas). “Podemos analisar que os imóveis comerciais podem ser mais afetados considerando a instabilidade econômica e os desafios enfrentados por empresas”, comenta Gonçalves.

O Imobi Report ainda consultou representantes da plataforma da Imobia, que automatiza as cobranças e repasses de aluguéis de mais de 22 mil unidades. “Neste início de 2025, percebemos que a maioria dos nossos clientes mantém índices saudáveis de inadimplência, com exceção de algumas regiões do Brasil, que historicamente apresentam percentuais mais elevados”, afirma o COO da empresa, Eder Belleti. Ele conta que o ticket médio dos aluguéis com os quais a Imobia trabalha gira em torno de R$ 2,2 mil, com uma taxa de inadimplência entre 2 a 3% ao mês.

Na Imobiliária Renascença, do Rio de Janeiro, os índices de inadimplência estão mais controlados neste início do ano, seguindo uma trajetória iniciada no fim de 2024. O vice-presidente da empresa, Edison Parente Neto, ressalta que foram implementadas iniciativas de negociação com os inquilinos em atraso, que já surtem efeito.   

Um novo elemento: as bets

Diversas pesquisas vêm apontando as “bets” como um novo elemento que tem agravado o endividamento dos brasileiros. Levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgado em janeiro de 2025, indica que os brasileiros destinaram cerca de R$ 240 bilhões para apostas on-line no ano passado. Segundo estimativas, em 2024, cerca de 1,8 milhão de pessoas no país entraram em situação de inadimplência por conta das bets. Em matéria da Agência Brasil, a CNC sustenta que as apostas têm contribuído para o endividamento, sobretudo, da população de menor renda.

Além disso, uma enquete do Procon-SP revelou que 48% dos entrevistados já comprometeram sua renda com apostas on-line. Desses, 47% disseram gastar até R$ 100 com esse tipo de jogo; 26%, entre R$ 100 e R$ 500; 8%, entre R$ 500 e R$ 1.000; e 18% estimaram desembolsar mais de R$ 1.000. Já a Varejo 360, empresa de inteligência de mercado, revelou que 48% dos entrevistados já realizaram apostas on-line. E um total de 27% afirmaram que comprometeram despesas essenciais como aluguel e condomínio. 

Instituições financeiras já vêm alertando seus clientes sobre o uso de dinheiro em casas de apostas. Ao identificar uma chave Pix associada a bets, o Nubank passou a propor, antes da efetivação da transação, alternativas de investimentos para o uso desse dinheiro. O Bradesco adotou medida semelhante e o C6Bank decidiu barrar transferências de clientes que estouraram o limite da conta para fazer apostas esportivas.

Ferramentas para minimizar a inadimplência

A consultoria prestada pela CUPOLA, hub de inteligência imobiliária, sugere que as imobiliárias mantenham uma camada adicional para controle de inadimplência e na aprovação dos inquilinos. Esse trabalho pode ser executado tanto internamente, por um profissional da própria imobiliária, como por empresa contratada. O entendimento é que essa atividade é essencial para a saúde da operação de locação. 

Já o diretor da Superlógica destaca que existem no mercado algumas soluções que ajudam as imobiliárias a controlar, e até mesmo, diminuir a inadimplência. “Aliando tecnologia e uma boa gestão, é possível realizar esse ‘meio de campo’ com maior eficiência”, diz. Ele afirma que o uso de softwares para o mercado condominial ajuda a administrar um grande número de pagamentos e negociações de atrasados, simultaneamente. Na plataforma da empresa, ele cita que existem as funcionalidades ‘CRM de Cobranças’ e ‘Negociações’, para acompanhamento dos clientes em inadimplência e para recebimento de propostas para negociação.

FONTE: IMOB REPORT