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04/08/2015

HSBC deixa Bradesco a menos de R$ 100 bi do rival Itaú

A diferença entre os concorrentes históricos caiu a apenas 0,2% dos ativos totais do sistema financeiro brasileiro, segundo dados de dezembro compilados pelo próprio Bradesco.

Fabiana Lopes, Felipe Marques e Vinícius Pinheiro 

O Bradesco confirmou seu favoritismo e anunciou na madrugada de ontem a compra da filial brasileira do HSBC, por US$ 5,2 bilhões, ou R$ 17,6 bilhões, no câmbio de sexta-feira. A aquisição traz ao Bradesco uma desejada massa de um milhão de clientes de alta renda, um ponto fraco na estrutura da instituição, mas também leva o banco a ultrapassar a Caixa na terceira posição entre os maiores bancos do país, segundo o critério de ativos totais, e o coloca no encalço de seu principal rival, o Itaú Unibanco, que ocupa a segunda posição, atrás do Banco do Brasil.

A diferença entre os concorrentes históricos caiu a apenas 0,2% dos ativos totais do sistema financeiro brasileiro, segundo dados de dezembro compilados pelo próprio Bradesco.

É muito pouco para quem, há quase sete anos, perdeu a liderança entre os bancos privados e passou a exibir apenas 70% dos ativos totais do novo líder, resultante da junção de Itaú e Unibanco. Em 2008, Bradesco tinha R$ 422,7 bilhões em ativos e o Itaú Unibanco, no anúncio da fusão, somava R$ 575,1 bilhões. Agora, segundo dados dos balanços de março, últimos comparáveis, o Itaú tinha R$ 1,294 trilhão em ativos e Bradesco e HSBC somados, R$ 1,201 trilhão.

O preço pago foi avaliado ontem como alto demais e pressionou as ações do banco para baixo.

O Bradesco pagou na aquisição um múltiplo semelhante ao negociado pelas ações do próprio banco na BM&FBovespa, de acordo com dados do Valor Empresas. Na sexta-feira, as ações preferenciais do Bradesco eram negociadas a 1,61 vez o valor patrimonial. O valor pago pela filial do banco britânico equivale a cerca de 1,57 vez o patrimônio da instituição. 

A aposta, a despeito do preço, é de que a nova operação gere contribuição adicional ao lucro por ação da instituição já em 2017, sendo que em 2016 o efeito deve ser neutro. Além disso, a previsão é de que as operações do HSBC no país tenham nível de eficiência e retornos próximo ao do banco da Cidade de Deus em três ou quatro anos, segundo o diretor de relações com investidores, Luiz Carlos Angelotti. "O maior ganho de sinergia está na redução do custo de servir derivado da escala e do próprio negócio", disse o executivo durante teleconferência com a imprensa na manhã de ontem, ressaltando também que, em segundo lugar, o banco também considera o ganho de sinergia de receita, que virá com o aumento do volume de negócios.

O Bradesco espera que a operação brasileira do HSBC encerre este ano com lucro recorrente de R$ 1,2 bilhão, ante resultado também recorrente de cerca de R$ 930 milhões no ano passado.

Os executivos do Bradesco disseram confiar que nem o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão antitruste, nem o Banco Central, deverão impor mudanças significativas na transação. "Se analisarmos o Bradesco, o HSBC entra como uma luva na nossa operação", disse durante teleconferência ontem, o diretor vice-presidente do Bradesco, Domingos Figueiredo de Abreu.

Considerando dados do Banco Central de dezembro de 2014, os quatro maiores bancos do país - Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Caixa - detêm 70,25% dos ativos, 76,01% dos depósitos e 76,06% do crédito do sistema financeiro. Com a compra do HSBC pelo Bradesco, esse nível sobe para 72,94%, 79,12% e 78,26%, respectivamente.

Nas conversas com analistas e jornalistas, os executivos do Bradesco afirmaram então veem grande sobreposição da rede de agências e que, neste quesito, vai ser possível reduzir bastante o custo operacional da atual estrutura do HSBC. Ao fim de 2014, por exemplo, o lucro por agência do Bradesco foi mais que o dobro do valor alcançado pelos pontos de atendimento do HSBC. Além disso, o índice de eficiência das agências do banco da Cidade de Deus foi 24 pontos percentuais maior que do HSBC no mesmo período.

No que se refere aos segmentos de atuação das duas instituições, o maior ganho de escala deverá vir de pessoa física de alta renda e do mercado corporativo.

A expectativa do Bradesco é que a operação seja concluída até o final do ano. 

 

FONTE: VALOR ECONôMICO – PáG. C1