Ernani Fagundes
Os grandes bancos brasileiros estão pagando proporcionalmente menos (em percentuais da taxa DI) aos clientes de varejo por aplicações em certificados de depósitos bancários (CDBs) de liquidez diária.
O estoque nesses títulos de captação bancária recuou 5,5% ou equivalente a R$ 29,7 bilhões no primeiro semestre deste ano. Em números divulgados pela Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima) o volume total em CDBs retrocedeu de R$ 539,77 bilhões em dezembro de 2014 para R$ 510,09 bilhões em junho de 2015.
Devido à baixa necessidade de captar recursos frente ao menor ritmo de concessão de crédito na economia, as principais instituições financeiras estão propondo remuneração entre 80% e 90% da taxa de depósito interfinanceiro (DI) aos aplicadores pessoas físicas do varejo.
Num exemplo prático, um CDB de liquidez diária com vencimento em 30 dias, com remuneração de 85% do DI, proporcionaria hoje uma rentabilidade bruta próxima de 0,91% ao mês (11,6% ao ano), mas se considerada a incidência de tributação de 22,5% do imposto de renda sobre os ganhos nesse período curto de apenas 1 mês teria uma rentabilidade líquida de 0,72% ao mês, enquanto a caderneta de poupança teve ganho líquido de 0,71%.
"A rentabilidade dos CDBs para quem deseja liquidez diária está baixa, mas existe uma demanda crescente de parte dos investidores para suprir a ausência de papéis isentos de imposto de renda [IR]", afirmou Victor Ferreira, da equipe de renda fixa da corretora Um Investimentos.
Mas para o investidor de CDBs que possui um horizonte de tempo maior, Ferreira disse que instituições financeiras menores (bancos pequenos e médios) estão prometendo taxas melhores de acordo com o prazo de vencimento.
Em operações de 3 meses, os percentuais ofertados variam entre 90% e 105% do DI; para 6 meses de espera, a remuneração oscila entre 93% do DI e 108% do DI.
Para o investidor de varejo que pode aguardar um ano pelo resgate, a remuneração bruta oscila entre 95% da taxa DI e 112% do DI, e ainda para o aplicador que tem um horizonte de 2 anos, a remuneração ofertada varia entre 100% da taxa DI e 120% da taxa DI.
"A demanda por CDBs tem aumentado, a oferta de instituições menores é firme, a barreira tem sido a rentabilidade em relação as LCIs [letras de crédito imobiliário] e LCAs [letras de crédito do agronegócio]. Nos grandes bancos, as taxas [em relação ao DI] estão muito baixas", comparou.
Quanto ao perfil do público que investe em CDBs, Ferreira contou que a aplicação está acessível nas corretoras a partir de R$ 30 mil. "O ticket médio está em torno de R$ 50 mil", afirmou o profissional da Um Investimentos.
Varejo Alta Renda - Na mesma linha, o superintendente executivo de investimentos do Santander Brasil, Christiano Ehlers, confirmou que o público que costuma aplicar em CDBs é do segmento varejo alta renda. "O investimento em CDB DI está disponível a partir de R$ 1 mil. Mas nossa média [ticket médio] é de R$ 38 mil. O público é de clientes de perfil conservador, Van Goch e Select que exigem condições de liquidez [capacidade de resgate rápido]", diz.
Quanto aos riscos, o executivo lembrou que o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) cobre até R$ 250 mil por CPF e por banco. "Tem clientes que investem acima desse valor", contou.
O risco do CDB está relacionado ao emissor, e por esse critério, os grandes bancos são considerados pelo mercado mais sólidos, na comparação com instituições menores.
Ehlers explicou que no Santander, a aplicação em CDB DI proporciona rentabilidade acima da caderneta. "Ganha da poupança. Os percentuais de remuneração variam de acordo com o prazo e o volume de aplicação de cada cliente", diz.
O superintendente aponta que o ciclo de elevação da taxa básica de juros da economia incentiva a aplicação em renda fixa pós-fixada. "Com a Selic em alta, a demanda por CDBs tende a crescer, assim como os fundos de investimentos [referenciados na taxa] DI também se beneficiam da alta dos juros", apontou Ehlers.
Segundo dados do último boletim de renda fixa da Anbima, nos últimos doze meses até junho último, a rentabilidade bruta média dos CDBs ficou em 10,97%, enquanto a caderneta de poupança teve rendimento líquido de 7,39%. Em igual período de comparação, a taxa Selic, estabelecida pelo Banco Central ficou em 11,88%, já a taxa DI - aferida pela Cetip - apurou média de 11,82% nesses 12 meses.
Ele explicou que a principal razão dos clientes que buscam CDBs está no atual cenário da economia brasileira. "Com a incerteza de mercado, o cliente deixa de aplicar em Bolsa de Valores e em fundos multimercados. CDB DI e fundos DI são boas aplicações para investidores conservadores num momento em que o cenário não é de fácil leitura", argumentou.
Ele acrescentou que o investimento em Bolsa de Valores depende muito do crescimento da economia. "O cenário pode ficar melhor em 2016. No momento há uma preferência por ativos mais líquidos", afirmou.