Notícias

26/08/2019

Governo debate possível mudança do indexador da poupança

Com isso, haveria um estímulo de fato para os bancos privados passarem a oferecer linhas de crédito imobiliário indexadas pelo IPCA, como as que foram anunciadas nesta semana pela Caixa

Em paralelo à mudança no indexador dos contratos imobiliários da TR para o IPCA, o governo discute - ainda de forma muito preliminar - fazer o mesmo com a poupança. A caderneta também passaria a ser atrelada à inflação, e não mais à TR, segundo fonte próxima à equipe econômica.

Com isso, haveria um estímulo de fato para os bancos privados passarem a oferecer linhas de crédito imobiliário indexadas pelo IPCA, como as que foram anunciadas nesta semana pela Caixa.

Os bancos privados estão pouco animados com as linhas atreladas ao IPCA por dois motivos. Um deles é o risco de inadimplência em caso de disparada na inflação, algo que não impensável dado o histórico do Brasil. O outro é que a principal fonte de recursos para o crédito imobiliário é a poupança, que é em tese remunerado com base na TR.

Em tese porque isso já não acontece na prática. No patamar atual de taxa de juros, os novos contratos da poupança são remunerados a 70% da Selic.

O governo considera a TR pouco transparente e pouco atrativa para os investidores. Por isso, aposta no crédito imobiliário corrigido pelo IPCA como forma de expandir o financiamento à habitação. A ideia é que essas carteiras sejam securitizadas e vendidas no mercado em certificados de recebíveis imobiliários (CRI) ou funcionem de lastro em emissões de letras imobiliárias garantidas. Além disso, existe a avaliação de que a poupança, que tem isenção de imposto de renda, gera distorções no mercado de renda fixa.

Para a ideia decolar, no entanto, o diagnóstico é que é preciso casar passivos (a captação da poupança) e ativos (os créditos originados). Por enquanto, a perspectiva da Caixa é originar R$ 10 bilhões em financiamentos imobiliários atrelados ao IPCA nos próximos 12 meses, disse ao Valor o presidente do banco, Pedro Guimarães, na terça-feira. É pouco, considerando que o banco gera mais de R$ 6 bilhões por mês em contratos indexados pela TR.

Guimarães também disse que a nova na indexação do crédito imobiliário ajudaria a proteger a Caixa em caso de troca na indexação da poupança. “Se o governo mudar a remuneração da poupança, o que você vai fazer com a sua carteira?Vai ter um descasamento de um ativo de 12 anos de “duration” a TR e o seu passivo em quê? Em Selic, IPCA? Ou seja, já tem que ter um caminho em relação a esse potencial risco de troca de indexador no passivo”, afirmou o executivo ao Volor.

A mudança na indexação da poupança já foi aventada muito discretamente ministro da Economia, Paulo Guedes, num evento no Rio.

Qualquer alteração, entretanto, dificilmente poderá incidir sobre o estoque existente de poupança. O saldo das cadernetas é de R$ 620 bilhões, aproximadamente.

FONTE: VALOR ECONôMICO