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16/09/2021

Gigante do setor imobiliário chinês admite dificuldades e medo de calote gera protestos

Evergrande admitiu que pode não ter capacidade de assumir suas obrigações, superiores a US$ 300 bilhões

Os protestos contra o grupo imobiliário chinês Evergrande, que enfrenta grandes dificuldades, se propagaram nesta quarta-feira (15) a mais cidades na China, depois que a empresa ofereceu vagas de estacionamento ou propriedades aos investidores que exigem o reembolso do dinheiro.

A gigante do setor admitiu que pode não ter capacidade de assumir suas obrigações, superiores a US$ 300 bilhões (R$ 1,6 trilhão), o que gera temor entre compradores, investidores e empreiteiros de uma falência que teria consequências para a segunda maior economia mundial.

Dezenas de manifestantes voltaram a protestar pelo terceiro dia consecutivo diante da sede da Evergrande em Shenzhen, sudeste da China.

Entre eles estavam compradores de imóveis em construção que já fizeram o pagamento e temem que a propriedade não seja entregue.

O grupo gritou "Evergrande, devolva o nosso dinheiro". Eles estavam irritados depois que a Evergrande aparentemente ofereceu saldar sua dívida com promessas de supostas propriedades, vagas em estacionamento ou unidades de armazenamento.

Uma mulher que revelou apenas o sobrenome, Wang, disse que recebeu a oferta de barracas, creches e vagas de estacionamento. Ela explicou que sua empresa sofre com as dívidas não pagas da imobiliária.

Analistas afirmam que a Evergrande, que tem cotação na Bolsa de Hong Kong, registra mais de um milhão de propriedades pagas por clientes e ainda não construídas, o que aumenta a sensação de pesadelo entre os investidores chineses, muitos deles compradores de seu primeiro imóvel.

Evergrande, uma das maiores empresas privadas da China e uma das líderes internacionais no setor imobiliário, admitiu na terça-feira (14) que enfrenta "enorme pressão", mas descartou o cenário de falência.

Procurada pela AFP nesta quarta, a empresa não fez comentários.

O grupo, que viu a rápida expansão em 280 cidades chinesas aumentar sua reputação, está à beira do colapso, mas analistas afirmam que o governo chinês não permitirá uma quebra caótica.

"Uma falência da Evergrande poderia prejudicar a confiança dos consumidores se afetar os depósitos pagas pelas famílias por casas que ainda não foram concluídas, mas presumimos que o governo atuará para protegê-los", afirmou a agência de classificação Fitch em um comunicado.

Na província de Jiangsu (leste da China), investidores nervosos se reuniram nesta quarta diante da sede regional da empresa na cidade de Taizhou.

Protestos similares foram registrados na província de Anhui e trabalhadores reivindicaram os salários na cidade de Ezhou, em Hubei, também no leste do país.

A preocupação aumenta entre os fornecedores que não receberam pagamento —alguns deles em Shenzhen afirmam que a empresa deve quase US$ 1 milhão—, assim como entre os investidores que esperavam os rendimentos de retorno para pagar suas próprias dívidas e os salários de seus funcionários.

Durante o protesto, uma mulher chorava desesperada diante do edifício da Evergrande em Shenzhen.

"Estão tentando negociar com suas propriedades ruins. São produtos que não conseguem vender", declarou à AFP um investidor que não revelou o nome.

É incomum que as autoridades comunistas da China permitam protestos de qualquer tipo, especialmente em várias cidades ao mesmo tempo.

As redes sociais, habitualmente sob rígido controle do governo, estão repletas de imagens das manifestações.

Os analistas afirmam que a abordagem permissiva pode marcar o desejo do governo chinês de mostrar à opinião pública que está a seu lado, enquanto estuda os próximos passos.

A Evergrande foi fundada em 1996 por Xu Jiayin, que se tornou o homem mais rico da China durante o boom imobiliário do país nos anos 1990.

Durante anos, a empresa investiu em larga escala em projetos em novas cidades. Em 2009 arrecadou US$ 9 bilhões em sua entrada na Bolsa de Hong Kong

FONTE: FOLHA DE S.PAULO