A Gafisa pretende manter seu processo de retomada mesmo no atual cenário adverso decorrente da disseminação do coronavírus. “Estamos preparados, como empresa reestruturada, para retomar lançamentos assim que houver condições favoráveis”, disse ao Valor o membro do conselho de administração e do comitê de gestão da Gafisa, Eduardo Jácome. A gestão atual assumiu a companhia há 12 meses.
“Estamos vivendo uma crise sem precedentes, que não sabemos quando vai terminar e como. Buscamos como manter a companhia dentro do ritmo normal e avaliamos o que está acontecendo”, conta Jácome. Segundo ele, a Gafisa tem se preparado para, quando for possível, “lançar empreendimentos com toda velocidade”. “Nos últimos 12 meses, trabalhamos diante de uma crise interna e tivemos que ser criativos”, acrescenta o membro do comitê de gestão.
No quarto trimestre do ano passado, a Gafisa teve lucro líquido de R$ 47 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 297 milhões do mesmo período de 2018. Há quatro anos, a companhia não registrava um resultado líquido trimestral no azul. A receita líquida caiu 39,8%, para R$ 116,2 milhões, mas a margem bruta, que tinha sido negativa em 15,4%, ficou positiva em 31,2%.
“A margem bruta tende a ser mantida, dentro do que conseguimos controlar de custos e precificação de unidades”, diz o vice-presidente de gestão, financeiro e relações com investidores, Ian Andrade. A margem dos resultados a apropriar está em 35,7%.
A tendência, de acordo com o gerente de relações com investidores, é de lucro líquido no primeiro trimestre. “A chave para a lucratividade líquida é ter mais escala”, afirma Andrade. No ano passado, a Gafisa reduziu despesas com vendas, gerais e administrativas em 51,2%. Para continuar a diluir custos, a companhia precisa ter mais projetos na composição de seus resultados, ou seja, voltar a lançar empreendimentos.
Segundo o vice-presidente de operações, Guilherme Benevides, a incorporadora tem 15 projetos para serem lançados no período de 12 a 18 meses, com Valor Geral de Vendas (VGV) que soma entre R$ 1,5 bilhão e R$ 1,7 bilhão. Vários deles estão aprovados, e há intenção de apresentar produtos ainda neste semestre.
A Gafisa tem estandes de vendas prontos e loja conceito na rua Pamplona, no bairro paulistano dos Jardins. Nos últimos dias, assim como todo o setor, a empresa sentiu retração nas vendas e reforçou sua equipe de corretores online para captar clientes. Há uma semana, os plantões de vendas das incorporadoras foram fechados na cidade de São Paulo, mercado de atuação da companhia.
No quarto trimestre, a Gafisa teve vendas brutas de R$ 72,9 milhões, distratos de R$ 13,1 milhões e vendas líquidas de R$ 59,8 milhões. A incorporadora consumiu caixa de R$ 25,5 milhões.
A companhia encerrou 2019 com dívida bruta de R$ 730,7 milhões, dos quais R$ 548,3 milhões vencem neste ano. A maior parte dos vencimentos está atrelada a dívidas de projetos com entrega prevista. A alavancagem medida por dívida líquida sobre patrimônio líquido era de 35,3% no fim do ano passado. “Os passivos estão estabilizados”, diz Andrade.
Segundo o vice-presidente de relações com investidores, não tem havido problemas nos repasses dos recebíveis dos clientes para os bancos que estão ocorrendo agora. Andrade contou que está em discussão pelos agentes financeiros a possibilidade de mais flexibilidade em relação ao percentual mínimo de avanço de obras para a liberação de recursos à produção, mas com manutenção da parcela mínima de vendas considerada atualmente.